REDAÇÃO CENTRAL, May 24, 2019 / 16:00 pm
O presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, reconheceu que o encontro que teve com o Papa Francisco em abril, junto com outras autoridades civis e eclesiásticas do país, o deixou "quase tremendo".
Em um gesto sem precedentes, em 11 de abril de 2019, o Santo Padre beijou os pés de quatro líderes do Sudão do Sul, como forma de contribuir para o processo de paz, em um retiro espiritual histórico no Vaticano. O retiro foi organizado especificamente para os líderes que se enfrentaram em guerra durante anos.
"Estava quase tremendo porque isso não havia acontecido antes, exceto no momento em que Jesus se ajoelhou para lavar os pés de seus discípulos. Deveriam ter sido eles, mas foi o contrário, foi Jesus. Isso foi o que veio à minha mente quando o Papa se ajoelhou para beijar meus pés", disse Kiir em uma entrevista concedida à EWTN Notícias, em 7 de maio.
Além disso, assegurou que se sentiu "humilde diante da humildade do Santo Padre", por "abaixar-se no chão e beijar meus pés".
O Sudão do Sul, com uma grande maioria cristã, tornou-se independente em 2011 do Sudão (África), que tem uma maioria muçulmana e é governado principalmente pela lei islâmica desde os anos 80.
No entanto, em dezembro de 2013, começou uma sangrenta guerra civil no Sudão do Sul até que foi assinado um acordo em 2018 que exigia um governo unificado, formado por ambos os partidos que começariam a governar o país em 12 de maio de 2019.
A guerra deixou 2,1 milhões de pessoas deslocadas e outros 2,5 milhões de refugiados, de acordo com as Nações Unidas.
O acordo foi assinado pelo presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e pelo ex-líder rebelde Riek Machar. Segundo a Reuters, os requisitos mais importantes do tratado, incluindo a integração de suas forças armadas, ainda não foram cumpridos. Além disso, os bispos católicos do país o qualificaram como sendo "fatalmente defeituoso" porque não aborda as complexas raízes do conflito.
Ambos os líderes, Kiir e Machar, se encontraram com o Papa nos dias 10 a 11 de abril no Vaticano.
"Acredito que qualquer um que tenha sido convidado pelo Santo Padre não o recusaria. Sendo o chefe de estado do Sudão do Sul, onde há muitos problemas, muitas brigas entre as pessoas; se o homem de Deus, o representante de Cristo na terra, nos chama do Vaticano, não vejo razão para não responder ao seu convite, por isso aceitei, para saber por que ele pensou em nós", contou Kiir.
Kiir narra que seu encontro com o Papa Francisco foi significativo para ele, já que cresceu em uma área do Sudão do Sul que foi evangelizada principalmente por missionários católicos, com quem aprendeu muito.
"Jesus veio ao mundo para ensinar as pessoas a perdoar e a viver em paz com quem esteja por perto. E nós, como católicos, especialmente no Sudão do Sul, aprendemos muito com o ensinamento de Deus. É por isso que, embora tenhamos estado sob opressão durante todo esse tempo, podemos nos reconciliar com esses opressores e depois vê-los como irmãos e irmãs", refletiu.
O Presidente Kiir indicou que o momento no qual o Papa demonstrou sua humildade foi inspirador para ele como líder do país.
"Os sentimentos que tinha naquele momento, naquela hora, eram que eu deveria esforçar-me ao máximo quando voltasse para o Sudão do Sul. Deveria fazer tudo o que seja possível para trazer paz ao meu povo, para que as pessoas se reconciliem entre si, e que as pessoas não pensem em lutar novamente", disse Kiir.
A mensagem de paz do Papa Francisco
Durante o encontro no Vaticano, o Papa Francisco insistiu para os líderes do Sudão do Sul: "Não me cansarei de repetir que a paz é possível".
"Peço-lhes como um irmão, permaneçam em paz, peço com o coração, vamos adiante, haverá muitos problemas, mas não se assustem, sigam adiante, resolvam os problemas, vocês começaram um processo, que termine bem", pediu-lhes o bispo de Roma.
Também os exortou a "buscar aquilo que os une, a começar pela pertença ao mesmo povo, e a superar tudo aquilo que os divide".
"Desejo de coração que definitivamente cessem as hostilidades... que as divisões políticas e étnicas sejam superadas e que a paz seja duradoura, pelo bem comum de todos os cidadãos que sonham começar a construir a nação", expressou o Papa Francisco em outro momento.
A resposta do Episcopado do Sudão
Em entrevista ao grupo ACI, Dom Eduardo Hiiboro Kussala, Presidente da Conferência Episcopal do Sudão do Sul e Sudão, afirmou que o gesto de humildade que o Papa Francisco teve com os líderes políticos africanos, ao beijar os seus pés durante um retiro espiritual no Vaticano, deu uma forte mensagem para a paz nessa nação.
Além disso, após assinalar que já houve tempo suficiente para trabalhar na implementação do tratado de paz, o Bispo explicou que é preciso recordar que "considerando as décadas de desconfiança mútua entre as diferentes forças, não é algo fácil de fazer".
"Acho que temos que ser flexíveis ao oferecer tempo, não podemos nos apressar ou fazer as coisas mal feitas. O trabalho de paz tem que ser feito pacificamente. Dizemos às partes que precisam ver isso em busca da unidade", destacou.
Dom Hiiboro disse que é necessário "trabalhar para que as partes defendam a Constituição e não o seu comandante ou líder da vez".
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"Como é um trabalho de paz, deve ser feito pacificamente. Não há uma solução rápida para a paz", afirmou.
Mais tarde, Dom Kussala também disse que a Diocese de Tombura-Yambio tem trabalhado nos esforços de reconciliação e construção da paz. "Acreditamos que encontrar respostas locais, soluções locais para os problemas que surgem entre nós é o caminho a seguir".
Esta diocese se uniu recentemente a outros grupos da Igreja para atrair 10 mil jovens da selva, onde foram combatentes, e assim preparar a comunidade para a reconciliação e o perdão.
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