PEQUIM, Jun 19, 2019 / 10:00 am
Dom Vincenzo Guo Xijin, Bispo Auxiliar de Mindong (China), está disposto a sofrer perseguições junto aos outros sacerdotes não oficiais ou clandestinos, em vez de aderir à Associação Patriótica (AP), controlada pelo governo, e obrigar seus presbíteros a tal adesão.
Assim informou a agência 'Asia News', citando fontes da diocese que, segundo alguns, seria o "projeto piloto" para a aplicação do Acordo Provisório assinado pela China e o Vaticano em setembro de 2018.
Depois do acordo e por uma decisão do Papa Francisco, o Bispo oficial da diocese, Dom Vicenzo Zhan Silu, foi retirado da excomunhão, assim, Dom Guo Xijin aceitou retroceder a Bispo Auxiliar para deixar a sede de ordinário para Dom Zhan Silu.
Sendo Dom Guo Xijin um Bispo reconhecido apenas pela Santa Sé, a Frente Unida e o Departamento de Assuntos Religiosos o fizeram assinar um documento no qual lhe exigia obediência ao novo Bispo, mas, sobretudo, submissão às leis do país e adesão aos princípios de "independência" da Igreja na China em relação ao Vaticano e à Associação Patriótica (AP).
No entanto, Dom Guo Xijin conseguiu assinar um documento aceitando obediência ao Bispo, às leis do país, mas não à "independência" nem à AP, cujos princípios são "incompatíveis com a fé católica", como assinala a carta de Bento XVI aos católicos chineses do ano de 2007.
Desta forma, Dom Guo Xijin foi reconhecido como bispo e pôde celebrar a Missa Crismal em público na última Quinta-Feira Santa.
As autoridades não querem publicar este documento e exigem que todos os sacerdotes não oficiais ou subterrâneas da diocese – a maioria, com cerca de 60 – assinem a adesão à AP, fazendo crer que Dom Guo Xijin também o fez.
Daí a revolta de Dom Guo, que inclusive prefere não ser reconhecido como bispo pelo governo, a ver seus sacerdotes obrigados a assinar a pertença à Associação Patriótica.
O problema, indica 'Asia News', está no que o Acordo Provisório entre a China e o Vaticano não tornou público. A agência assinala que o acordo prevê a submissão de sacerdotes e bispos às leis da China, mas mantém como facultativa a adesão à Associação Patriótica.
No entanto, a organização do governo que controla a Igreja exige a inscrição obrigatória dos sacerdotes e bispos, sob a pena de serem excluídos de seu ministério.
Para reivindicar liberdade para si e para os seus sacerdotes, Dom Guo Xijin escreveu uma carta na qual retirou o seu pedido de reconhecimento por parte do governo e a enviou ao Departamento para a Segurança Pública de Fuan, ao Departamento de Assuntos Religiosos de Fuan e ao Bispo Zhan Silu.
Na carta, Dom Guo Xijin explicou suas razões: "O governo já decidiu perseguir os sacerdotes que se recusem a assinar o pedido (de adesão à AP). Se eu não puder protegê-los, não vale a pena que eu seja reconhecido como bispo auxiliar. Estou disposto a enfrentar a perseguição junto com outros sacerdotes".
A situação dos católicos na China
Em abril de 2019, Pe. Bernardo Cervellera, especialista em Igreja Católica na China e editor da agência de notícias 'Asia News', informou que, "em muitas dioceses, a Associação Patriótica e o Departamento de Assuntos Religiosos continuam exigindo que todos os sacerdotes se inscrevam na associação e mantenham a 'Igreja independente'. A este respeito, o Vaticano manifestou uma tímida reserva em uma entrevista do Cardeal Fernando Filoni concedida ao (jornal do Vaticano) L'Osservatore Romano, destacando que a pertença à Associação segundo lei chinesa deveria ser facultativa".
Na China, existe a Associação Católica Patriótica Chinesa, controlada pelo governo, e a Igreja clandestina ou subterrânea, que sempre permaneceu fiel à Santa Sé.
Na prática, afirma Pe. Cervellera, ao invés de "reconciliação" entre a Associação Patriótica e a Igreja clandestina ou subterrânea, com o acordo entre a China e o Vaticano, "há uma grande pressão sobre a comunidade subterrânea com forte interferência na vida da Igreja".
O Acordo Provisório
Em 22 de setembro de 2018, o Vaticano anunciou a assinatura do Acordo Provisório com a China para a nomeação de bispos.
Alguns manifestaram oposição ao acordo, como o Bispo Emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze Kiun, que em um artigo publicado em 'The New York Times', em 24 de outubro, escreveu: "Aos Bispos e sacerdotes clandestinos (fiéis) da China, só posso dizer-lhes isto: por favor, não comecem uma revolução. Eles (as autoridades) tomam suas igrejas? Já não podem mais celebrar? Vão para casa e rezem com suas famílias (...) Esperem por tempos melhores. Voltem para as catacumbas. O comunismo não é eterno".
A bordo do avião no regresso de sua viagem à Letônia, Lituânia e Estônia no final de setembro do ano passado, o Papa Francisco disse aos jornalistas: "Eu sou responsável" pelo acordo.
Sobre os bispos que não estavam em comunhão com a Igreja até antes do acordo, como Dom Guo Jincai que participou do Sínodo dos jovens, Francisco disse que "foram estudados caso por caso. Para cada bispo fizeram um expediente e estes expedientes chegaram à minha escrivaninha. E eu fui o responsável por assinar cada caso dos bispos".
Sobre o acordo, Francisco indicou que "a coisa é feita em diálogo, mas nomeia Roma, nomeia o Papa. Isso está claro. E rezamos pelos sofrimentos de alguns que não entendem ou que têm nas costas muitos anos de clandestinidade".
Em 26 de setembro de 2018, o Pontífice dirigiu uma mensagem aos católicos da China e à Igreja universal, na qual solicitou "gestos concretos e visíveis" aos bispos que foram retirados da excomunhão.
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