BERLIM, Jul 22, 2019 / 17:30 pm
O Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal Alemã, questionou se os leigos poderiam pregar a homilia durante a Missa, algo que iria contra as normas da Igreja.
O Purpurado fez estas declarações em um evento realizado no sábado, 20 de julho, com cerca de 120 leigos na casa de retiros Schloss Fürstenried, de acordo com uma nota da Arquidiocese de Munique.
Ele disse se sentir "um pouco decepcionado" com os sermões e homilias de algumas paróquias e questionou: "Como será a homilia no futuro? Por acaso apenas o sacerdote pode pregar? É necessário que isso evolua".
O Arcebispo também indicou que poderiam ser incluídos alguns testemunhos ou material visual para dar "uma maior variedade às homilias".
Ao ser perguntado posteriormente se os livros impressos poderiam ser substituídos por dispositivos eletrônicos, como tablets, na liturgia, o Cardeal respondeu negativamente, mas admitiu: "leio meu breviário no iPad".
As declarações do Cardeal ocorreram no dia seguinte à divulgação feita pela Conferência Episcopal Alemã de algumas cifras dos católicos no país, entre as quais destaca que em 2018 mais de 216 mil fiéis deixaram a Igreja.
Um leigo pode pregar a homilia na Missa?
O Código de Direito Canônico de 1983, que contém as normas que regem a Igreja universal, estabelece que apenas os ministros ordenados, como o sacerdote ou o diácono, têm a faculdade de pregar a homilia.
Embora o mesmo código indique no cânone 766 que "os leigos podem ser admitidos a pregar na igreja ou oratório, se em determinadas circunstâncias a necessidade o exigir, ou em casos particulares a utilidade o aconselhar, segundo as prescrições da Conferência episcopal", também afirma que tudo isso é possível "sem prejuízo" das disposições do cânon 767§1.
Este cânon, 767§1, afirma que "entre as varias formas de pregação sobressai a homilia, que é parte da própria liturgia e se reserva ao sacerdote ou diácono".
Do mesmo modo, em 1987, o Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, com a permissão do Papa São João Paulo II, respondeu a uma série de perguntas, entre as quais estava a seguinte: "Se o Bispo diocesano pode dispensar da prescrição do cânon 767, § 1, que reserva a homilia ao sacerdote ou diácono". A resposta foi: "Negativo".
Em 15 de agosto de 1997, o Vaticano publicou a instrução intitulada "Acerca de algumas questões sobre a colaboração dos fiéis leigos no sagrado ministério dos sacerdotes", que trata, entre outros, do tema da homilia.
O documento foi aprovado por oito Dicastérios, entre os quais se encontram as congregações para o Clero, para a Doutrina da Fé, para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos; e os conselhos pontifícios para os Leigos e para a Interpretação dos Textos Legislativos.
O texto assinala que a homilia "é parte integrante da liturgia" e "durante a celebração eucarística a homilia deve ser reservada ao ministro sagrado, sacerdote ou diácono. Estão excluídos os fiéis não ordenados, ainda que exerçam a tarefa de 'assistentes pastorais' ou de catequistas em qualquer tipo de comunidade ou de agregação".
O documento imediatamente explica a razão disso: "Não se trata, com efeito, de uma eventual maior capacidade expositiva ou de preparação teológica, mas de função reservada àquele que é consagrado com o sacramento da Ordem sagrada, razão porque nem mesmo o Bispo diocesano é autorizado a dispensar da norma do cânon, uma vez que não se trata de lei meramente disciplinar e sim de lei que diz respeito às funções de ensino e de santificação estreitamente ligadas entre si".
O texto do Vaticano também afirma que os seminaristas não ordenados tampouco podem pregar a homilia e que "deve-se considerar ab-rogada pelo cân. 767, § 1 qualquer norma anterior que tenha permitido a pregação da homilia, durante a celebração da Santa Missa, por parte de fiéis não ordenados".
Embora seja permitido algum eventual testemunho, o documento reforça que "não devem assumir características tais que os possam confundir com a homilia".
O texto também admite a possibilidade de "diálogo" dirigido pelo sacerdote durante o sermão, mas sem delegar "a outrem o dever da pregação".
Finalmente, o documento do Vaticano afirma que "a homilia não pode ser confiada em nenhum caso a sacerdotes ou diáconos que tenham perdido o estado clerical ou que, de algum modo, tenham abandonado o ministério sagrado".
Posturas do Cardeal Marx contrárias à doutrina da Igreja
Em 2015, durante sua intervenção no Sínodo dos Bispos sobre a Família, o Cardeal Marx afirmou que "devemos considerar seriamente a possibilidade – olhando cada caso individualmente e não de modo geral – de admitir aos divorciados em nova união os sacramentos da Penitência e da Santa Comunhão".
A intervenção do Cardeal Marx aconteceu depois de alguns anos de uma série de pedidos dos bispos alemães a fim de mudar as normas da Igreja a respeito, apesar de nos últimos 50 anos os Papas terem rejeitado esta proposta por ser contrária à doutrina da Igreja, a qual estabelece que o matrimônio é indissolúvel e que este vínculo somente termina com a morte de um dos esposos.
Em fevereiro de 2018, o Cardeal assegurou que os sacerdotes católicos podem realizar cerimônias de "bênção" de casais homossexuais.
Em declarações à rádio alemã 'Bavarian State Broadcasting', o Arcebispo disse que "não pode haver regras" sobre esse tema. Afirmou que, em vez disso, a decisão se uma união homossexual deveria receber a bênção da Igreja deve estar nas mãos de "um sacerdote ou um responsável pela pastoral" e deve ser realizada de acordo com cada caso.
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Em março do mesmo ano, os bispos alemães fizeram uma proposta para que os protestantes casados com católicos tivessem acesso à Eucaristia. Esta iniciativa foi liderada pelo Cardeal Marx e teve a oposição de sete prelados, incluindo o Arcebispo de Colônia, Cardeal Maria Woelki.
No início de 2019, o Cardeal anunciou que os bispos alemães começaram um "processo sinodal" para revisar o celibato sacerdotal e a moral sexual na Igreja, como uma forma de combater o escândalo dos abusos sexuais.
O Cardeal Marx faz parte do grupo de cardeais que aconselha o Papa Francisco no processo de reforma da Cúria do Vaticano.
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