24 de dezembro de 2024 Doar
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"A fé está viva" no Iraque, afirma Arcebispo sobre cristãos

Imagem referencial Crédito: Pixabay

O Arcebispo Coadjutor católico siríaco, Nathanael Nizar Semaan, expressou que "a fé está viva" nas aldeias cristãs do Iraque, apesar da devastação causada pelo Estado Islâmico (ISIS).

Através de uma entrevista concedida a 'National Catholic Register', o Prelado abordou a situação dos cristãos e lembrou que Qaraqosh, localizada no norte do Iraque, é uma cidade grande onde ele cresceu na fé e na qual todas as atividades da Igreja tiveram um grande impacto em sua vida.

"A partir daí, comecei minha vocação e agora volto para servir à minha cidade", disse Dom Semaan, que acrescentou que a cidade está em seu coração, em seus pensamentos, em suas orações. "É uma fonte de fé. É uma fonte de vocações: sacerdotes, freiras e monges. É uma cidade muito rica de vocações e de fé. Isso é Qaraqosh em apenas uma palavra", assegurou.

No entanto, há cinco anos, os cristãos na Planície de Nínive do Iraque, onde está Qaraqosh, foram expulsos de suas casas da noite para o dia pelo ISIS.

Em poucas horas, o grupo terrorista deslocou mais de 100 mil cristãos, incluindo os 50 mil moradores católicos siríacos de Qaraqosh.

"Qaraqosh e todas essas aldeias cristãs estão dando um grande testemunho de sua fé, do quanto são fortes. Estamos aqui", afirmou o Arcebispo. No último ano e meio, cerca de 20.000 cristãos retornaram à cidade, deixando a Região do Curdistão iraquiano, para onde tiveram que fugir para não morrer nas mãos de terroristas islâmicos.

Agora que o Estado Islâmico foi derrotado no Iraque, Dom Seeman retornou para realizar sua nova missão como pastor, depois de receber sua ordenação episcopal como arcebispo coadjutor em 7 de junho de 2019, após servir 14 anos como sacerdote em Londres (Inglaterra).

"Tentarei não ser um homem político, mas ser um homem de fé, um homem de oração, um homem que cuida de seu povo. Tenham certeza de que, quando alguém estiver tentando ferir o meu povo, levantarei a minha voz", afirmou.

"Foi difícil ver a igreja como está agora, tudo destruído pelo ISIS. No entanto, insisti em ter a minha ordenação lá, para assim presenciar o sofrimento que a minha cidade enfrentou, com todo o povo, a realidade do que aconteceu durante os quatro anos nos quais o ISIS ocupou nossas cidades", expressou.

Nesse sentido, comentou que, embora se sinta triste ao ver sua igreja bombardeada, também se sente feliz porque, através de sua ordenação, pode dar um sinal de esperança: "que não importa o que aconteça, a fé permanecerá muito forte, e" isso é muito importante". "Que ato criminoso bombardear todas essas igrejas e mosteiros!", disse.

O Prelado recordou que há um ano e meio começou a reconstrução das casas antes que das igrejas, porque seu interesse era cuidar do povo primeiro.

Do mesmo modo, lembrou que dentro de sua missão tem como prioridade "reconstruir o ser humano". "Temos que nos esforçar para reconstruir a confiança e tentar curar as feridas dessas pessoas. Dentro de cada um há uma ferida profunda, porque eles tiveram que fugir de sua cidade em 2014. É um grande trabalho tentar trabalhar com eles para curar suas feridas e abrir-lhes uma nova página", explicou.

"Não temos números exatos, mas cerca de 20 mil pessoas retornaram. A situação ainda é ruim, especialmente economicamente, pois não há trabalho. No entanto, as pessoas estão começando a olhar para o futuro positivamente, apesar de não saberem o que acontecerá. Felizmente, sua fé lhes deu força", manifestou.

Por esse motivo, enfatizou a importância de criar oportunidades de emprego, especialmente para os jovens. "Se em dois ou três anos eles não encontrarem um emprego e não conseguirem encontrar algo para sustentar suas famílias, não acho que ficarão lá para sempre", disse.

O Arcebispo Coadjutor disse que o grande desafio é como trabalhar com a comunidade internacional para que entendam essa realidade e lhes pediu que tentem criar oportunidades de emprego para o povo, com o objetivo de dar-lhes um sinal de esperança para permanecerem.

"Nós (a Igreja) não podemos pedir ao nosso povo para ficar enquanto não podemos lhes oferecer nada. Temos que oferecer algo e depois pedir para ficarem. Infelizmente, o governo iraquiano não oferece nada".

Por outro lado, manifestou que é necessário que as organizações internacionais coordenem com as igrejas locais o envio da ajuda, pois através das organizações governamentais, a ajuda não chega ao ponto correto.

Além disso, assinalou que vão trabalhar duro com outros sacerdotes da diocese para curar as feridas das pessoas e assim poder escrever "uma história de esperança", a qual será um ponto muito importante de sua missão.

"Ninguém sabe qual será o futuro, mas pelo menos nós trabalhamos para alcançá-lo", disse Dom Seeman, que também afirmou que os cristãos no Iraque precisam receber apoio econômico e político para garantir que tenham um futuro lá.

"Nós só queremos ser respeitados como seres humanos, ter nossos direitos, quer estejamos no Curdistão, Mossul ou Kirkuk, onde quer que estejamos. Queremos ser considerados cidadãos de primeira classe, não de segunda ou terceira classe, definitivamente", destacou.

O Prelado também enfatizou que a liberdade de praticar nossa fé é vital e que não tem nada de extraordinário em pedir isso. "Só pedimos direitos humanos, direitos humanos muito básicos", comentou.

Da mesma forma, assegurou que os cristãos têm o direito a serem respeitados e a poderem viver em seu país. "Repito: não sou um homem político. Eu sou um bispo, um homem de fé, sou um pastor. Eu gosto de orientar nosso povo no caminho certo, em um caminho pacífico, e reconstruir nossas cidades e nosso povo de acordo com a vontade de Deus, não com a vontade de políticos ou qualquer outra coisa", assinalou.

Dom Semaan revordou que, embora a segurança tenha melhorado, ainda não é 100%. Além disso, devido a mudanças demográficas, há uma preocupação de que as terras cristãs sejam entregues a outras pessoas, referindo-se a pessoas que não pertencem à terra de acordo com o censo principal de 1957. "Temos que trabalhar duro para esse problema. Não queremos ser fechados, mas não queremos dar nossas terras a outras pessoas que não pertencem ao lugar", comentou.

Sobre a possível visita do Papa Francisco ao Iraque, Dom Semaan espera que tenha um grande impacto e que, através de uma boa organização, cada cristão iraquiano sentirá que "o Santo Padre vem para visitá-lo, para falar com ele e lhe dar um sinal de esperança para o futuro".

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"Importa para nós uma visita que dê esperança às pessoas, e acho que é isso que o Santo Padre pretende fazer. Eu acho que a sua visita é um sinal de esperança, e é isso que queremos que seja, por isso temos que nos preparar de uma boa maneira, com todas as igrejas no Iraque: caldeus, católicos siríacos, ortodoxos sírios, armênios, qualquer outra denominação, cooperando todos juntos, a fim de preparar um programa para o Santo Padre", assegurou.

Por isso, as atividades para jovens, para crianças – igrejas abertas; Igrejas cheias de pessoas. Podem se perguntar: "É verdade? Essas pessoas estão realmente fazendo o que estão fazendo depois do que enfrentaram em quatro anos?".

Os cidadãos de Qaraqosh "voltaram às suas atividades normais" e mantêm uma Igreja ativa "graças à sua forte fé".

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