23 de novembro de 2024 Doar
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Assim a Igreja ajuda as “crianças cadáveres” escravas no Congo

Imagem referencial. Crédito: Pixabay

Pe. Willy Milayi é missionário da Imaculada Conceição e vive no Congo. Trabalha resgatando crianças da rua e oferece a elas um lugar para morar, receber educação e aprender um ofício que possa tirá-las das minas de coltan, onde são obrigadas a trabalhar.

"O coltan é um mineral muito escasso na natureza que é usado na fabricação de dispositivos eletrônicos. Por  ser tão escasso, é muito caro e as principais jazidas estão, entre outros países, na República Democrática do Congo. A exploração dessas minas está nas mãos das guerrilhas", explicou Pe. Milayi, em entrevista concedida à Diocese de Málaga (Espanha).

Este sacerdote trabalha com as pessoas que são obrigadas a extrair este mineral. Durante a entrevista, Pe. Milayi relembrou a história de um menino que percorreu mais de seis mil quilômetros fugindo.

"Vocês podem imaginar as condições de miséria em que chegou. Mas estava apenas procurando alguém que o escutasse. Vinha quebrado de dor. Depois de alimentá-lo, ele me contou sobre sua vida. Os milicianos tiraram a sua família de casa (mãe, pai, irmãs e ele) e os levaram ao bosque com duas propostas: morrer, ou trabalhar para eles tirando o coltan das minas, das 6h às 19h. Trabalhavam a 200 metros de profundidade para tirar 15 sacos de coltan diários, pelos quais recebiam 2 dólares ao final do mês", explicou o sacerdote. 

Quando começaram as revoltas e protestos contra as guerrilhas, os milicianos primeiro "estupraram e mataram a mãe deste menino na frente dele, depois fizeram a mesma coisa com suas irmãs de 17 e 13 anos e também mataram o seu pai. Ele conseguiu fugir, mas me dizia entre lágrimas: 'Eu não temo a morte, eu sou um cadáver, e um cadáver não teme a morte'".

"Nossos celulares estão manchados com o sangue das 'crianças cadáveres'", assegurou o sacerdote.

Para ajudar estas "crianças cadáveres" e mais de 20 mil que, apenas em Kinshasa, moram nas ruas, Pe. Milayi, juntamente com a sua comunidade dos Missionários da Imaculada Conceição, criou um centro educacional.

"Um lar no qual possam aprender um ofício que garanta para eles um futuro fora das minas e que nunca voltem para as ruas. Não podemos resolver todos os problemas, mas damos graças a Deus por cada uma das crianças que podemos resgatar. É um verdadeiro milagre que é possível graças às pessoas de boa vontade", assegurou o sacerdote.

Nesse centro educativo ensinam as crianças a "cuidar umas das outras". "Já escutamos mais de um dizendo: 'O Padre Willy nos ensinou que temos que ajudar quando crescer'. Acho que esse é um passo importante", destacou.

Além disso, explicou que, como cristãos, "temos que defender a dignidade da pessoa, imagem de Deus", e valorizá-los "como nossos irmãos. Em nosso mundo, essa concepção foi perdida e colocamos os bens materiais à frente das pessoas. O que nos mata hoje é indiferença. Não queremos saber nada sobre os problemas dos outros e só falamos sobre os nossos. Mais preocupante do que a pobreza material é a pobreza espiritual".

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