REDAÇÃO CENTRAL, Aug 9, 2019 / 20:00 pm
O cardeal George Pell escreveu uma carta a apoiadores afirmando estar "perturbado" com os preparativos para o próximo sínodo na Amazônia.
O texto da carta manuscrita de duas páginas circulou entre um grupo de fiéis próximos ao Cardeal na Austrália.
Na carta, escrita na Melbourne Assessment Prison, cujas imagens foram partilhadas com Catholic News Agency, a agência em inglês do grupo ACI, com data de 1º de agosto, o purpurado também diz que durante seu encarceramento tem se sentido sustentado pela sua fé e pelas orações dos fiéis, e que está oferecendo seu sofrimento na prisão pelo bem da Igreja.
"O conhecimento de que meu pequeno sofrimento pode ser usado em prol de bons propósitos estando unido a Jesus me proporciona direção e propósito", escreve o Arcebispo Emérito na carta. "Desafios e problemas na vida da Igreja devem ser confrontados em um espírito similar de fé", prossegue.
O prelado australiano afirma que os católicos "temos suficientes motivos para nos perturbarmos com o Instrumentum Laboris do Sínodo Amazônico", que foi publicado em junho, antes da reunião que se desenvolverá entre os dias 06 a 27 de outubro no Vaticano.
Esse documento, que tem sido fonte de discussão e comentários em nível mundial, incluiu a discussão sobre o tema da ordenação de homens casados com o fim de responder à escassez de vocações sacerdotais.
O documento de trabalho, que se chama "Uma Igreja com uma rosto amazônico", recomenda ainda que o Sínodo identifique "o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica".
"Este não é o primeiro documento de baixa qualidade que o secretariado do Sínodo produz", escreve Pell.
O cardeal, aparentemente fez referência ao considerável debate e crítica provocados pela temática do Sínodo - que também incluiu alguns apelos por mudanças na liturgia da Missa - lembrando que "o Cardeal G. Müller, que comandava a Congregação para a Doutrina da Fé", escreveu uma excelente crítica".
"Eu não sou especialista na região", diz Pell, embora tenha assinalado que já viajou a partes da Amazônia, mas adverte que "assim como na Amazônia, muita água ainda precisa correr antes do Sínodo".
"Um ponto é fundamental, a Tradição Apostólica, o ensinamento de Jesus e dos Apóstolos, extraído do Novo Testamento e ensinado pelos Papas e concílios, pelo Magistério, é o único critério doutrinal para todo ensino sobre doutrina e prática."
"Na Amazônia ou fora da Amazônia, em todas as terras, a Igreja, não pode permitir confusão alguma que cause um dano à Tradição Apostólica", afirma.
O cardeal enfatizou a necessidade de unidade no essencial do ensinamento de Cristo, ao mesmo tempo em que pediu caridade em todas as coisas.
"Devemos sempre lembrar que a Igreja é una, não apenas no sentido de que boas famílias se mantêm juntas independentemente das suas diferenças, mas porque a Igreja de Cristo está fundamentada na Igreja Católica, que é o corpo de Cristo".
Depois de sua condenação no Tribunal do Condado de Victoria em cinco acusações de abuso sexual infantil em dezembro do ano passado, O Cardeal George Pell foi condenado a seis anos de reclusão, dos quais ele deve cumprir em regime fechado pelo menos três anos e oito meses.
Peritos legais e comentaristas questionaram a condenação de Pell durante o julgamento, observando que o veredicto se baseia unicamente no depoimento das supostas vítimas de Pell.
Foi dada atenção à plausibilidade dos aparentes crimes de Pell, nos quais se supõe que ele abusou sexualmente de dois adolescentes na sacristia da catedral de Melbourne depois da missa, em um momento em que o espaço estaria lotado de pessoas e exposto ao público.
Apesar da imediata apelação da sentença pela equipe de advogados de Pell, o cardeal ainda permanece na prisão.
Nos dias 5 e 6 de junho, juízes da Suprema Corte de Vitória ouviram o recurso de Pell contra a decisão do júri sem pronunciar um veredito definitivo. Fontes próximas ao caso disseram a CNA que uma decisão é esperada nas próximas duas semanas.
Na carta, o Cardeal Pell diz que ele recebeu entre 1500-2000 mensagens de apoio durante seu tempo na prisão, e que ele pretende responder a todas elas.
As orações e cartas dos fiéis, disse ele, "trazem-me imensa consolação, humana e espiritual".
"Minha fé no Senhor, como a de vocês, é uma fonte de força", conclui a carta.
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