14 de dezembro de 2024 Doar
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Estes nativos da América do Norte poderiam ser declarados mártires e santos

Imagem referencial | Unsplash

Sete anos após a canonização de Santa Catarina Tekakwitha, em 2012, começou a aparecer um legado de potenciais santos indígenas para a Igreja Católica, inclusive centenas de mártires, todos provenientes da América do Norte.

Um recente artigo de 'National Catholic Register', explica que novas causas de canonização estão começando e que uma organização sem fins lucrativos, a Conferência Tekakwitha, vem ajudando a reintegrar os católicos "com essa herança de santidade nas Américas".

"O plano para a santidade, como exemplificado em cada um destes, e de fato cada santo, é seu completo e total abandono a Jesus Cristo. Estes santos e futuros santos nativos americanos lançam luz sobre a escolha livre que fizeram de seguir Cristo, sem importar o custo", disse Robert Barbry II, diretor executivo da Conferência de Tekakwitha, organização comprometida com a defesa e a evangelização em nome dos povos indígenas da América do Norte.

Duas das principais causas que hoje envolvem a santidade católica nativa são o servo de Deus Nicholas Black Elk e o grupo conhecido como os Mártires da Flórida, que inclui centenas de homens, mulheres e crianças católicos nativos que foram martirizados por causa de sua fé pelos protestantes ingleses.

Black Elk ou Alce Negro

A história de Black Elk (Alce Negro) ou Heháka Sápa (1863-1950) foi contada em parte através do livro "Black Elk Speaks" (Alce Negro Fala, em português), um relato biográfico de seus dias de juventude como um homem devoto do povoado de Lakota, até o massacre de Wounded Knee, ocorrido na Reserva Indígena Pine Ridge, localizada no estado norte-americano de Dakota do Sul.

Black Elk se converteu ao catolicismo em 1904 e foi um catequista conhecido entre os jesuítas como "segundo São Paulo" e um "apóstolo fervoroso" por sua evangelização entre os lakota. Ele viveu sua fé através da tradição Lakota e levou o catolicismo a 400 Lakotas quando morreu.

Os últimos papéis sobre a causa de Black Elk foram apresentados por William White, um católico lakota em formação para o diaconato e postulador diocesano desta causa para a Diocese de Rapid City, em Dakota do Sul.

O evento ocorreu durante a Conferência Tekakwitha, realizada de 17 a 21 de julho, em Sharonville, Ohio.

A causa de Black Elk começou oficialmente após uma petição com 1.600 assinaturas apresentada à Diocese de Rapid City, em 2016. O processo foi formalmente aberto no ano seguinte e obteve aprovação unânime dos bispos norte-americanos em sua assembleia de novembro de 2018. A fase diocesana foi concluída em 25 de junho.

"Nossa positio (posição sobre as virtudes) está agora em Roma", disse White ao 'Register'.

Agora que a causa de Black Elk está na fase romana, White disse que a equipe diocesana trabalhará em como promover a causa em todos os Estados Unidos. Também criarão um site e colocarão terra de seu túmulo em pequenos recipientes, como relíquias.

White afirma que ouviu falar sobre curas que ocorreram através da intercessão de Black Elk, mas é necessário documentar que estas ocorreram além da ciência e que a pessoa não estava solicitando intercessão de outros santos ou de Nossa Senhora.

"Só deveria estar rezando ao Servo de Deus Nicholas Black Elk", disse.

White explicou que Black Elk mostra aos católicos hoje, particularmente àqueles que lutam com escândalos na Igreja, que sua fé não depende dos seres humanos, assim como a fé do servo de Deus não foi dissuadida por suas experiências negativas com os euro-americanos, uma vez que sua fé descansava completamente em Jesus Cristo, seu Criador e Salvador.

"Eu acho que a Igreja realmente precisa disso agora. Vai renunciar ao seu Salvador por causa da fraqueza humana?", perguntou White.

Os mártires da Flórida

A doutora Mary Soha, vice-postuladora da causa e ex-membro da Comissão de Canonização de Catarina Tekakwitha, apresentou a causa da beatificação dos Mártires da Flórida na Conferência de Tekakwitha em 2019. Soha disse ao 'Register' que a causa ainda está na fase diocesana e continuam descobrindo novas documentações que até agora somam 400 nomes de pessoas que teriam sido martirizadas. O grupo da causa é liderado pelo apalache Antonio Cuipa, morto em um ataque de colonos britânicos.

"Estamos recebendo mais e mais nomes e testemunhos", disse Soha.

A maioria dos membros da causa são homens e mulheres leigos que pertenciam a nações nativas norte-americanas aliadas à Espanha e que foram assassinados por protestantes ingleses no início do século XVIII. Os últimos ofereceram o perdão a eles caso abandonassem sua fé católica e se tornassem escravos.

Entre essas pessoas, há também dezenas de missionários católicos e inclusive hispano-americanos nascidos em La Florida, uma área que abrange tanto o estado atual da Flórida como partes do atual sudeste dos Estados Unidos, incluindo o Alabama e a Geórgia. Algumas das pessoas da causa morreram na baía de Chesapeake, na Virgínia.

Soha disse que a história de La Florida é vital para o catolicismo nos Estados Unidos, porque essas missões são um exemplo nas Américas sobre os povos nativos que chegariam a abraçar a fé católica sem coerção.

A vice-postuladora contou que os missionários evangelizaram a Flórida sem o respaldo dos soldados espanhóis ou das colônias, situação que as missões da Califórnia não conseguiram imitar um século depois. Nesse sentido, disse que os catequistas de hoje podem aprender com esses mártires como "reintroduzir Jesus Cristo na América".

"Esses mártires demonstram a qualidade da evangelização que foi feita. Todos esses mártires tiveram a oportunidade de negar sua fé e viver", expressou.

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Joseph Chiwatenhwa

Quase 300 anos mais antigo que Black Elk, é um dos primeiros fiéis e protomártir dos povos indígenas do Canadá, Joseph Chiwatenhwa (1602-1640). Esse homem trabalhou em estreita colaboração com São João de Brebeuf e com os missionários jesuítas franceses (mais tarde mártires) e foi elogiado pelos contemporâneos como o "apóstolo dos apóstolos".

Chiwatenhwa e sua esposa Marie Aonetta foram elogiados por São João Paulo II em um discurso de 1984 para os povos nativos do Canadá, reunidos no Santuário dos Mártires, em Midlands, Ontário. O Santo Padre elogiou o "modo heroico" como Chiwatenhwa e Aonetta viveram a fé católica e assegurou que "proporcionam inclusive hoje (para a Igreja) modelos eloquentes para o ministério leigo".

Pe. Myles Gaffney, estudioso da vida de Santa Catarina Tekakwith e vigário da Diocese de Calgary para assuntos indígenas, fez um discurso sobre Joseph Chiwatenhwa na Conferência Tekakwitha deste ano. Pe. Gaffney disse que os jesuítas escreveram muito sobre a vida de Chiwatenhwa na obra "The Jesuit Relations", que fornece histórias de missionários nas nações indígenas da Nova França.

"Sua virtude é do mesmo porte de Catarina ou da mesma maneira", disse Pe. Gaffney.

'Register' afirma que, embora "Santa Catarina estivesse profundamente comprometida com a vida contemplativa, Chiwatenhwa estava mais comprometido com a vida ativa. Pronunciava 'discursos ousados', chamando o povo Wendat para abraçar a fé em Jesus Cristo".

De acordo com as informações disponíveis, Chiwatenhwa completou os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola e compôs um poema místico sobre a vida em Jesus pouco antes de sua morte, que serviria como testemunho católico entre seu povo e também como anúncio de seu martírio.

Pe. Gaffney explicou que a morte de Chiwatenhwa foi atribuída inicialmente aos inimigos de Wendat, mas depois os testemunhos e fatos indicaram que Chiwatenhwa morreu como um mártir, como previu.

O presbítero disse que se a vida de Aonetta (da qual se conhece menos) e Chiwatenhwa se tornasse uma causa comum, ambos poderiam ser padroeiros e modelos leigos para a Nova Evangelização. "Não consigo pensar em um momento melhor para essa causa de canonização do que agora", disse.

Pablo Tac

Ao escrever um livro sobre São Junípero Serra, Christian Clifford, um autor católico e professor em tempo parcial no seminário de São Patrício, em Menlo Park, Califórnia, descobriu os escritos de um jovem santo, Pablo Tac.

"Comecei a lê-los e fiquei impressionado", disse Clifford ao 'Register'.

O autor apresentou Tac na Conferência de Tekakwitha, mostrando-o como um jovem santo católico da Califórnia que deveria ser reconhecido pela Igreja universal. Tac era um sábio índio e indígena luiseno que escreveu o idioma, os costumes e as normas de seu povo e frequentou o Urban College em Roma. Estava a caminho de se tornar o primeiro sacerdote Luiseno da recém-criada Diocese da Califórnia, mas morreu prematuramente em 1841.

"Acho que temos um grande exemplo de um jovem santo para compartilhar com a Igreja", disse Clifford, acrescentando que se sentiu profundamente comovido com a fé e a perseverança de Tac diante da adversidade.

Clifford disse que o sistema de missões na Califórnia teve consequências desastrosas não desejadas para os nativos do lugar, devido às altas taxas de mortalidade por doenças introduzidas da Europa. A única missão que conseguiu superar essas dificuldades por um tempo foi a missão de São Luís Rei, onde Tac foi batizado em 1822. No entanto, Clifford disse que também havia "coisas realmente bonitas aqui com os nativos que se converteram", e Pablo Tac é parte dessa "imagem poderosa e completa" que está surgindo sobre a santidade católica nativa da Califórnia.

O autor escreveu um novo livro sobre Tac e disse que contatou os líderes luisenos, assim como os franciscanos e a Diocese de San Diego, sobre como começar uma causa de beatificação.

Clifford disse que foi inspirado pela causa de Black Elk em maio para criar a petição online, que tem aproximadamente 150 assinaturas.

Segundo os especialistas, cada causa potencial apresentada todos os anos na Conferência de Tekakwitha, como os Santos Mártires de Kahnawake (a "aldeia de oração" Haudenosaunee do século XVII à qual Santa Catarina se juntou e é o atual território Mohawk, no Canadá) ou o incorruptível Rose Prince dos Dakelh, no noroeste do Canadá, desafia as narrativas comumente aceitas sobre a história da Igreja e representa um desafio poderoso para os católicos leigos de hoje para aceitar o chamado à santidade mesmo nos momentos mais escuros.

De acordo com o diretor executivo da Conferência Tekakwitha, "podemos olhar para as histórias desses santos nativos e aprender que a humildade e a caridade são as luzes no caminho para a cura e, finalmente, a santidade".

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