19 de dezembro de 2024 Doar
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Sacerdote propõe solução para drama dos migrantes no Mediterrâneo

Imigrantes perto de Lampedusa (imagem referencial). | Migrant Off shore Aid Station

Atuar nos países de origem das migrações, atuar nos países vizinhos e abrir caminhos legais para que os migrantes não tenham que recorrer às máfias de tráfico humano. Essas são as três etapas que constituiriam a solução para o drama dos migrantes e refugiados no Mediterrâneo, segundo o sacerdote eritreu que mora em Roma, Pe. Mussie Zerai.

Este sacerdote, coordenador europeu dos católicos da Eritreia, é conhecido pelo seu firme compromisso com os migrantes e refugiados que arriscam as suas vidas nas águas do Mediterrâneo para chegar à costa europeia.

Pe. Zerai sempre tem um número de telefone habilitado para migrantes que estejam em uma situação extrema nas águas do Mediterrâneo. Dessa forma, transfere os avisos de emergência ao salvamento marítimo para realizar o resgate das pessoas, o que permitiu salvar a vida de mais de 150 mil pessoas.

Por ocasião da crise da embarcação "Open Arms", que há dias está posicionada em frente à ilha italiana de Lampedusa, com mais de 100 migrantes e refugiados a bordo, resgatados quando estavam à deriva no Mediterrâneo e que não têm permissão para desembarcar, Pe. Zerai explicou, em declaração ao Grupo ACI nesta terça-feira, 20 de agosto, que primeiro "é necessário ir à raiz do problema".

Essa primeira etapa implicaria atuar nos países de origem dos migrantes. Trata-se de "resolver as causas desse drama que é o êxodo das pessoas" e "buscar uma solução de longo prazo".

A segunda etapa envolve atuar nos países vizinhos, "pois quando fogem, vão primeiro aos países vizinhos. Se conseguirmos protegê-los melhor nos países vizinhos, 90% das pessoas ficariam lá, ficariam onde tenham oportunidades de trabalho, estudo, condições dignas de vida".

Por último, a terceira etapa consiste em "abrir canais legais, como o corredor humanitário iniciado graças a Sant'Egidio, à Igreja Valdense..., também à Conferência Episcopal Italiana, Cáritas".

Trata-se de uma iniciativa que permitiu que centenas de migrantes e refugiados chegassem à Itália e a outros países europeus por via aérea de uma maneira completamente legal, com todas as suas necessidades cobertas e sem a necessidade de depender das máfias.

No entanto, esse corredor humanitário, na opinião de Pe. Zerai, "é um pequeno passo". É necessário que iniciativas semelhantes sejam assumidas pelos Estados. "Se os países da União Europeia o fizessem, com um projeto muito mais consistente para dar oportunidade de acesso legal às pessoas que precisam de proteção, muitas pessoas não se sentiriam impelidas pelo desespero às mãos de traficantes, arriscando suas vidas no deserto e no mar".

Soluções frente aos muros

Na opinião de Pe. Zerai, "a comunidade internacional não enfrentou a situação adequadamente, indo à raiz do problema".

Na verdade, lamentou que "a União Europeia tenha construído muros, físicos ou por meio de leis, como agora com o fechamento de portos, ou através de acordos bilaterais, como os adotados pelo Processo de Cartum, apenas para criar obstáculos a quem estava fugindo de seus países por diferentes razões: por fome, por guerra, por perseguições políticas, étnicas e religiosas".

O processo de Cartum ao qual se referiu foi aprovado em novembro de 2014 na África e envolveu a abertura de um diálogo entre os países da União Europeia e o Chifre da África sobre migração e mobilidade.

"Não buscaram resolver o problema que está provocando a fuga destas pessoas. Pelo contrário, gastaram os recursos, milhões de euros. A União Europeia inclusive financiou 28 países que fizeram parte do Processo de Cartum só para levantar muros, não para resolver o problema, não para proteger as pessoas".

Segundo denunciou, "isso está causando um aumento no número de mortos. Talvez não os vemos, mas continuam morrendo no deserto, continuam morrendo nas prisões, nos muitos centros de detenção, continuam morrendo no mar. Primeiro, morria um a cada dezoito, agora morre um a cada seis".

Portanto, "não é verdade que as mortes diminuíram, os mortos aumentaram, só que não os vemos. Não há navios que socorram no mar perto da costa da Líbia, por isso, ninguém pode contar o que está acontecendo".

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