REDAÇÃO CENTRAL, Sep 5, 2019 / 08:43 am
A paz e a reconciliação como fator de desenvolvimento dos povos, especialmente de Moçambique, foi o tema principal do discurso do Papa Francisco perante as autoridades, representantes da sociedade civil e corpo diplomático, pronunciado no Palácio Presidencial de Maputo, nesta quinta-feira, 5 de setembro.
O Santo Padre, que está em Moçambique desde ontem para sua quarta viagem à África, que também o levará a Madagascar e Maurício, fez referência ao longo conflito que afetou Moçambique de 1977, logo após sua independência, a 1992, com o confronto entre a organização marxista Frelimo, que controlava o novo Estado moçambicano, contra a guerrilha antimarxista Renamo.
Apesar da paz assinada em Roma em 1992, ao longo das décadas seguintes, o conflito foi revivido periodicamente. A desconfiança e hostilidade entre os grupos Frelimo e Renamo, transformados em partidos políticos, foram reproduzidas nos debates parlamentares, dando origem a situações de grande instabilidade.
A última crise política começou em 2014, depois que os responsáveis pela Renamo se recusaram a reconhecer os resultados das eleições presidenciais que deram a vitória ao candidato da Frelimo e atual presidente, Filipe Jacinto Nyusi.
Essa falta de reconhecimento dos resultados das eleições abriu uma nova etapa de hostilidades e violência política. Os confrontos cessaram com a assinatura de uma trégua em 2016 e, no último dia 6 de agosto, assinaram a paz definitiva, motivados, precisamente, pela visita do Pontífice.
Em seu discurso, o Papa Francisco incentivou a perseverar nesse processo de paz, para torná-lo definitivo, porque, "como sabemos, a paz não é apenas ausência de guerra, mas o empenho incansável – especialmente daqueles que ocupamos um cargo de maior responsabilidade – de reconhecer, garantir e reconstruir concretamente a dignidade, tantas vezes esquecida ou ignorada, de irmãos nossos, para que possam sentir-se os principais protagonistas do destino da própria nação".
O Santo Padre, que quis expressar aos líderes políticos do país o reconhecimento pelo "pelo esforço que, há decênios, se vem fazendo para que a paz volte a ser a norma, e a reconciliação o melhor caminho para enfrentar as dificuldades e desafios que tendes como nação", lembrou que a paz é um motor de desenvolvimento para o país.
"A paz tornou possível o desenvolvimento de Moçambique em várias áreas", destacou. "Promissores são os avanços registados no âmbito da educação e da saúde. Encorajo-vos a prosseguir no trabalho de consolidar as estruturas e instituições necessárias para permitir que ninguém se sinta abandonado, especialmente os vossos jovens, que formam grande parte da população".
O Papa enfatizou: "Não cesseis os esforços enquanto houver crianças e adolescentes sem educação, famílias sem teto, trabalhadores sem trabalho, camponeses sem terra... Tais são as bases dum futuro de esperança, porque futuro de dignidade! Tais são as armas da paz".
Saudação ao presidente
Este encontro do Papa com as autoridades, representantes da sociedade civil e corpo diplomático ocorreu após a visita de cortesia do Pontífice ao presidente Filipe Jacinto Nyusi, no Palácio da Ponta Vermelha, Palácio Presidencial de Moçambique.
O Santo Padre chegou ao Palácio, um antigo prédio construído em 1899 e residência oficial do presidente desde 1975, às 09h30 (horário local).
O presidente e sua esposa receberam o Pontífice na entrada principal do Palácio e, depois de honras militares, entraram no Palácio. Lá, o Papa assinou o Livro de Honra. Depois de cumprimentar a família do presidente, houve uma troca de presentes antes de entrar no Salão Índias, onde ocorreu a reunião com as autoridades.
Dados da Igreja
Moçambique tem uma população de cerca de 27 milhões de pessoas, das quais mais de 7 milhões são católicas (28%). Existem 1.678 centros pastorais, dos quais 343 são paróquias. Há 23 bispos, 659 sacerdotes e 1.207 religiosas com votos perpétuos. O número de catequistas é 56.871, mais 97 missionários leigos e quase 1.200 seminaristas.
Em relação ao trabalho social da Igreja, o número de centros sociais e de caridade ou dirigidos por eclesiásticos ou religiosos em Moçambique é de 176.
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