16 de dezembro de 2024 Doar
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Amor ao próximo inclui cuidar do planeta, explica especialista do Vaticano

Imagem referencial | Pixabay

Um importante funcionário do Vaticano explicou em uma recente entrevista que cuidar do planeta, em última análise, trata-se de justiça para com os pobres e de amar o próximo como a si mesmo.

A entrevista foi concedida em 3 de setembro à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – por Pe. Joshtrom Kureethadam, coordenador do Setor de Ecologia e Criação do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral e doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, onde também é professor.

"Precisamos cuidar da criação, porque todos os pobres estão sendo afetados pelas mudanças climáticas. E é realmente a tradição católica, a tradição cristã, que nos pobres vemos Cristo. Mateus 25, 35 diz: 'Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era pere­grino e me acolhestes'", disse o sacerdote, que também é autor de vários livros sobre criação e Teologia.

Pe. Kureethadam disse que no Ocidente os efeitos das mudanças climáticas não são tão perceptíveis, e que de vez em quando isso pode trazer algo como uma inundação ou furacão, enquanto em outras partes do mundo os efeitos já são muito graves.

"Realmente não entendemos a mudança climática porque não vivemos com ela, mas para a maioria das pessoas já é uma realidade. Se realmente amamos nosso próximo, precisamos nos preocupar com isso. O segundo dos dois grandes mandamentos é amar a Deus de todo o coração e ao teu próximo como a ti mesmo", destacou o catedrático.

Além disso, afirmou que outra razão pela qual os católicos deveriam prestar atenção às mudanças climáticas é porque é uma questão de justiça. Ele explicou que os países mais pobres são desproporcionalmente afetados pelas mudanças climáticas, enquanto são as nações mais ricas que emitem a maior parte dos gases de efeito estufa.

"Portanto, adquire uma dimensão ética. Se realmente queremos praticar a justiça, temos que mudar nosso estilo de vida, questionar nosso estilo de vida. Realmente não percebemos o jogo que estamos jogando, os riscos que estamos assumindo; e não os riscos que estamos assumindo em abstrato, os riscos que estamos assumindo para nossos próprios filhos, para seus filhos", afirmou.

Pe. Kureethadam, sacerdote salesiano natural do estado indiano de Kerala, falará durante um seminário web inter-religioso sobre a administração do oceano, no dia 5 de setembro.

O seminário web é organizado por Plastic Bank, um grupo que combate a poluição plástica no oceano, introduzindo infraestrutura de reciclagem nas regiões mais pobres do mundo.

Com os processos estabelecidos, as pessoas podem trocar material plástico por dinheiro efetivo, moeda digital, cobertura de assistência médica, matrícula escolar e mais. O plástico coletado é reciclado para novos produtos.

Há também um bônus de Plastic Bank para garantir que tanto os recicladores de tempo integral quanto os de meio período tenham um salário digno garantido.

Pe. Kureethadam disse que gosta da iniciativa porque "veem o aspecto da justiça" e "estão dando poder às comunidades pobres".

"O verdadeiro impulso vem das bases e é assim que Deus trabalha. As pessoas simples, os jovens e os pobres liderarão a mudança, e o que devemos fazer é apoiá-los. E é isso que Plastic Bank está fazendo", destacou.

O sacerdote também elogiou outra iniciativa de Plastic Bank, que é transformar plásticos descartados em terços. Dessa forma, "o mesmo plástico que é uma imagem de degradação se torna um instrumento de oração, se torna sagrado", afirmou.

Sobre o seminário web que terá como tema principal a administração dos oceanos, Pe. Kureethadam explicou que estes "são realmente vitais para a vida" e que "o estado do oceano é realmente preocupante".

Observou que o plástico é apenas um dos vários problemas importantes e que, se o oceano continuar sendo poluído no mesmo ritmo, projeta-se que em 30 anos haverá mais plástico do que peixes.   

Também explicou que a maioria do plástico no oceano não é mais visível, mas tornou-se "microplástico" que é consumido pelos animais na cadeia alimentar e pode retornar aos seres humanos.

Pe. Kureethadam disse que estudos sobre os efeitos do microplástico ainda estão em andamento, mas há evidências de que pode causar câncer ou outras doenças em humanos.

"A criação é a criação de Deus. Em Gênesis, Deus diz a Adão para 'cultivar e cuidar deste jardim'. É o primeiro mandamento que recebemos de Deus. Não podemos nos permitir manipulá-lo, desfigurá-lo ou abusá-lo", afirmou o catedrático.

Finalmente, lembrou que muitas pessoas ignoram o Evangelho de São João capítulo 1, no qual se expressa "a maior verdade do cristianismo, que Deus se tornou um de nós, a Palavra se fez carne, se fez carne neste planeta".

"E dizemos que, com a Encarnação, todo o planeta está santificado", concluiu.

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