MANILA, Sep 12, 2019 / 14:00 pm
As Filipinas celebrarão 500 anos da chegada da fé católica em 2021, um marco importante no país com mais católicos do continente asiático e o terceiro no mundo depois do Brasil e do México.
Através do artigo "Por que celebrar 500 anos de cristianismo nas Filipinas? O cristianismo não era uma mera ferramenta para o domínio colonial?", o Bispo de Kalookan (Filipinas) e vice-presidente da Conferência Episcopal das Filipinas (CBCP), Dom Pablo Virgilio Siongco David, respondeu ao presidente filipino Rodrigo Duterte sobre as suas críticas pela chegada da fé católica no país.
O Prelado assinalou que "a mesma fé cristã que os conquistadores tentaram usar para alcançar seus propósitos coloniais em nosso país também inspirou nossos revolucionários cerca de três séculos e meio depois a sonhar com liberdade e democracia".
Durante um discurso em Naga, em 6 de setembro passado, Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, disse que não tem interesse em participar das comemorações pelos 500 anos e não comemorará a "subjugação" do país pelas mãos dos colonizadores espanhóis.
"Por que eu comemoraria a chegada dos espanhóis aqui? Porque o faria? Vieram para este país como imperialistas. Não éramos espanhóis e eles nos subjugaram por 300 anos. Isso é doloroso para mim", comentou.
O Bispo de Kalookan afirmou que a fé cristã "os motivou a defender a dignidade humana básica dos índios e a desejar pôr um fim à tirania e ao governo colonial".
Nesse sentido, ressaltou que em 2021 celebrarão a fé cristã, que foi acolhida pelos nativos como "um dom", embora tenha vindo de pessoas que não estavam necessariamente motivadas pela mais pura das intenções. "Deus pode escrever certo, mesmo através das linhas mais tortas", assegurou o Prelado.
Em outro momento, Dom David lembrou que os missionários espanhóis ensinaram os nativos a cantar a Paixão durante a Semana Santa.
"Desconhecido pelas autoridades, a mesma paixão que se referia ao Messias sofredor que oferecia sua vida pela redenção da humanidade inspirou nossos heróis a oferecer suas vidas pela redenção de nosso país, à custa de seu próprio sangue, suor e lágrimas", manifestou.
Deste modo, Dom David salientou que seus antepassados sabiam distinguir o bom do ruim daquilo que os espanhóis trouxeram consigo quando chegaram às Filipinas, assim como também aos missionários que não se aliaram com a política colonial da conquista, e que defenderam os direitos dos nativos diante dos abusos.
"O simples fato de eventualmente repudiarmos o governo colonial, mas continuarmos abraçando a fé cristã, mesmo depois de termos vencido a revolução, só pode significar que os nativos não igualaram o cristianismo ao colonialismo", enfatizou.
Também disse que "a fé que eles abraçaram já não lhes era mais alheia", a qual conseguiu "criar raízes no terreno fértil de nossa espiritualidade inata como povo".
Deste modo, refletiu que a própria fé cristã que os conquistadores tentaram usar para conseguir seus objetivos foi o que inspirou seus revolucionários a "sonhar com a liberdade e a democracia".
Também recordou que, durante o período de transição, surgiu uma divisão "entre aqueles que estavam do lado da política colonial e aqueles que ousavam estar do lado da política revolucionária", e que a divisão "nem sempre é negativa" como São Paulo diz na Carta aos Coríntios.
"Como São Paulo em I Coríntios 11, 19, às vezes, 'é necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos'. Ou pense no que Jesus disse quando falou como um profeta enfurecido. 'Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso? Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação...'", expressou.
Nesse sentido, explicou que, precisamente, são estas palavras desagradáveis que não gostamos de escutar "quando fazemos da unidade um valor absoluto".
"As pessoas esquecem que a unidade às vezes também pode ser negativa, quando se trata de se unir em torno de um propósito ímpio. Não é de surpreender que Deus semeou a divisão nos construtores da torre de Babel, para depois reuni-los genuinamente no Espírito, através de Pentecostes", disse.
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