BERLIM, Sep 18, 2019 / 12:00 pm
O presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, Cardeal Reinhard Marx, afirmou que o polêmico processo sinodal no país seguirá adiante apesar das críticas feitas recentemente pelo Vaticano.
"Esperamos que os resultados de formar uma opinião em nosso país sejam também uma ajuda para a orientação da Igreja universal e para outras conferências episcopais, caso a caso. De qualquer forma, não consigo entender por que os assuntos sobre os quais o magistério fez determinações devem ser retirados do debate como sua carta sugere", escreveu o Cardeal Marx em uma carta enviada em 12 de setembro ao Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos no Vaticano.
"Inúmeros fiéis na Alemanha consideram que (estes temas) devem ser debatidos", acrescentou o Cardeal.
A carta do Cardeal Marx indicou assim ao Vaticano que o polêmico processo sinodal alemão continuará como planejado, apesar das instruções recentes da Santa Sé e do Papa Francisco, e discutirá temas que têm a ver com o ensinamento universal da Igreja e sua disciplina.
A missiva se refere ao "processo sinodal", no qual os bispos planejam criar uma assembleia sinodal na qual seriam uma minoria com 69 membros entre 200, para discutir temas como a separação de poderes na Igreja, a vida sacerdotal, o acesso das mulheres a diversas funções na Igreja e a moral sexual.
A carta do presidente do Episcopado alemão é uma resposta a mais recente intervenção do Vaticano em relação ao processo sinodal do país europeu. Nesta última, composta por uma carta e uma avaliação canônica, o Cardeal Ouellet assinalou que os planos dos prelados alemães "não são eclesiologicamente válidos".
Na avaliação canônica, realizada pelo Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, especifica-se que os planos dos bispos alemães violam as normas canônicas e, de fato, buscam modificar normas universais e a doutrina da Igreja.
A avaliação também alerta para outros problemas do "processo sinodal" e afirma que os bispos da Alemanha não estão planejando um sínodo, mas um concílio de uma Igreja particular, algo que não pode ser feito sem a aprovação explícita da Santa Sé.
"Pelos artigos do esboço dos estatutos, fica claro que a conferência episcopal (alemã) tem em mente fazer um concílio particular segundo estabelece os cânones 439-446, mas sem usar este termo", indica a avaliação.
Um concílio, diferentemente do sínodo, é uma reunião de bispos com autoridade para estabelecer normas para a Igreja em um país ou região em particular, mas apenas com a autoridade direta do Vaticano, que define o marco da autoridade concedida.
Um sínodo, como os bispos alemães chamaram a sua reunião, é um grupo pastoral e de consulta, sem autoridade para estabelecer políticas.
A avaliação também critica o Comitê Central dos Católicos Alemães, uma instituição de leigos cujos líderes apoiam publicamente a ordenação de mulheres e a mudança do ensinamento moral da Igreja, que concordaram em fazer parte do processo sinodal, desde que a assembleia sinodal, na qual os bispos seriam a minoria, possa fazer políticas vinculativas para a Igreja na Alemanha.
Em sua carta ao Cardeal Ouellet, o Cardeal Marx comentou que "talvez uma conversa antes de nos enviar esses documentos teria sido útil" e ressaltou que a Igreja na Alemanha "seguirá uma consulta de nosso próprio tipo que não está delimitada pelo direito canônico".
"O processo sinodal é um processo sui generis (único). Os esboços do estatuto não devem, portanto, ser lidos nem interpretados sob a lente de instrumentos canônicos como um conselho plenário. Não é um concílio particular!", indicou o Cardeal Marx em sua carta.
Em sua carta, o Cardeal Marx insistiu em que o esboço do estatuto para o processo sinodal que o Vaticano tem não está atualizado.
No entanto, CNA – agência em inglês do Grupo ACI – confirmou que os funcionários da Congregação para os Bispos e do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, que fez a avaliação canônica, têm em mãos o esboço mais recente dos bispos alemães.
Além disso, fontes do episcopado alemão disseram à CNA que a intenção dos bispos com tudo isso é criar um exemplo que possa ser "exportado" para outras partes do mundo.
A grave crise da Igreja na Alemanha
Nos primeiros dias deste mês de setembro, o Cardeal Marx disse que "pode-se chegar à conclusão de que faz sentido, sob certas condições e em certas regiões, permitir sacerdotes casados".
O Cardeal também fez outras declarações contrárias à doutrina da Igreja, nas quais encorajou o acesso à comunhão dos divorciados em nova união, promoveu que os sacerdotes católicos concedam a bênção a casais homossexuais e sugeriu que os leigos pregassem na Missa.
Além disso, e no âmbito do Sínodo dos Bispos para a Amazônia que será realizado em outubro, em uma entrevista em 2018, o vice-presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Franz-Josef Bode, disse que, se a ordenação de sacerdotes casados na Amazônia for autorizada, os bispos alemães insistirão em ter a mesma permissão.
Em janeiro desse ano, ele também disse que era a favor de abençoar casais homossexuais.
Da mesma forma, Dom Franz-Josef Overbeck, Bispo de Essen e presidente da Adveniat, instituição de ajuda da Igreja na Alemanha para a América Latina, disse que o Sínodo da Amazônia "é um ponto sem retorno" para a Igreja e que "nada será como antes" depois deste encontro.
O Prelado também apoiou publicamente a "greve das mulheres" contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas após o não do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
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Em meados de julho deste ano, a Conferência Episcopal da Alemanha divulgou algumas estatísticas do ano de 2018, entre as quais destaca que, no período, mais de 216 mil fiéis decidiram abandonar a Igreja Católica.
Além disso, dos 23 milhões de batizados no país, de uma população total de 83 milhões, a porcentagem daqueles que participam da Missa Dominical é de 9,3%, ou seja, cerca de 2,1 milhões.
No caso dos sacerdotes que servem nas dioceses do país, o número caiu para 1.161 em 2018, quando havia mais de 17.000 no ano 2000.
As estatísticas também indicam que no ano 2000 havia 13.241 paróquias na Alemanha. Em 2018, caíram para 10.045.
As estatísticas de 2018 não fornecem nenhuma informação sobre o sacramento da Reconciliação ou da Confissão, uma prática que parece ter sido quase completamente abandonada pelos católicos do país, incluindo os sacerdotes.
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