CRACÓVIA, Oct 29, 2019 / 09:17 am
O Arcebispo Emérito de Cracóvia (Polônia), Cardeal Stanisław Dziwisz, explicou por que considera que o episcopado polonês pediu ao Papa Francisco, há alguns dias, que declare São João Paulo II como Doutor da Igreja e padroeiro da Europa.
O Cardeal Dziwisz, secretário pessoal de São João Paulo II por mais de 40 anos, disse há alguns dias, durante o congresso do movimento "Europa Christi", que o Pontífice polonês merece esse reconhecimento por ter "contribuído com um sopro de grande frescor à vida da Igreja e, por meio dela, no espaço universal da cultura, da política e da ciência em geral".
Do mesmo modo, desenvolveu três pontos essenciais que tornam São João Paulo II digno desses reconhecimentos.
1. A visão de João Paulo II da Igreja: um doutorado em eclesiologia
O Cardeal polonês comentou que São João Paulo II teve "uma grande quantidade de discursos públicos, audiências, viagens ao exterior e documentos ricos em conteúdo que demonstravam não apenas sua diligência, mas também o verdadeiro amor pela noiva de Cristo (a Igreja)".
"Vejo a importância do testemunho do Papa, principalmente em como Wojtyla entende a Igreja. Mesmo antes de ser eleito para a Santa Sé de Pedro e Paulo, os Apóstolos, escreveu em Stanislaus que a Igreja estabelece para ele o espaço mais íntimo de seu próprio ser interior e é o 'fundo de seu ser'. Como consequência de seu encontro com Cristo, o Papa Wojtyla admitiu a Igreja no centro de sua vida pessoal ", disse o Pupurado.
"A Igreja se converteu em um lar para ele – continuou – e ele se tornou um lar para a Igreja. Qualquer pessoa que o tenha conhecido pessoalmente uma vez e se lembre de seu aspecto e da sensação de suas mãos, saberá como entender essas palavras. Nelas não havia estranheza ou distância. Como um homem dedicado a Deus e à Igreja, ele se entregou às pessoas e encontrou um lugar para elas em seu interior".
O Cardeal Dziwisz ressaltou que, diante do desafio de enfrentar um mundo fragmentado, "João Paulo II pregou constantemente o mistério da Igreja como um lar para todos" e destacou-se em "sua vontade de estar próximo das pessoas".
"Pode-se afirmar sem exagerar que, durante o pontificado de João Paulo II, a Igreja novamente mostrou seu rosto humano e converteu-se em um lar novamente. Isso fica claro não apenas pelos eventos específicos cuja escala coincide com os desafios dos tempos modernos (...), mas também por uma série de documentos papais" e por seu conteúdo, destacou o Purpurado.
Nesse sentido, lembrou a importância da exortação apostólica pós-sinodal Familiaris Consortio, "na qual, de fato, levanta uma pequena excomunhão de pessoas divorciadas e convida-as a integrar-se mais profundamente à Igreja".
"Essa nova eclesiologia, expressa mais na vida prática do que no papel, merece ser chamada de eclesiologia cordial. Uma abertura missionária da Igreja, tenor pastoral do ministério petrino, que mostra que o rosto amistoso da Igreja são todos os frutos de uma visão tão cordial da Igreja, profundamente enraizada no coração de João Paulo II", disse.
Da mesma forma, o Cardeal Dziwisz chamou a atenção para outra dimensão do testemunho da Igreja do Papa São João Paulo II: a busca da razão, especialmente através de sua encíclica Fides et Ratio.
"Agora, na era da pós-modernidade, Wojtyla continua sendo um forte defensor da razão. A modernidade tardia rejeita a razão e sua capacidade de explorar e descobrir a verdade (...). Como homem do espírito, também é um intelectual brilhante e, como filósofo, também é um teólogo praticante. Seu serviço cordial para oferecer às pessoas um lar na Igreja se combina naturalmente e flui da vida do intelecto fascinado por Deus", disse.
"A Igreja de Wojtyla serve a verdade e ao mesmo tempo serve a razão", acrescentou.
2. João Paulo II e uma compreensão mais profunda do homem: um doutorado em antropologia
O Cardeal Dziwisz disse que "todas as atividades acadêmicas de Karol Wojtyla giraram em torno do mistério do homem, de sua pessoa e de suas ações pessoais no mundo".
"Esse longo e complexo processo de alcançar a compreensão do homem e a busca da forma mais adequada de expressar a verdade descoberta, atinge sua plenitude na Teologia do Corpo. Essa teologia é, sem dúvida, a expressão mais madura dos pensamentos de Wojtyla e, ao mesmo tempo, é a sua contribuição mais original para a história da teologia e, mais amplamente, para a história da compreensão do homem", destacou o Purpurado.
Também disse que, embora João Paulo II não seja o primeiro a abordar os temas do corpo, do matrimônio e da família na história da Igreja, a maneira como aborda estes temas e descreve essas realidades, fazem com que ele seja "o criador de uma teologia integral do corpo".
"Sua visão a esse respeito continua sendo uma excelente síntese de tópicos teológicos, filosóficos, psicológicos e científicos. A razão, a experiência e a fé permitem que ele desenvolva de maneira aguda perguntas que antes, praticamente, nunca haviam sido examinadas por teólogos", afirmou.
Finalmente, o Cardeal explicou que esta "teologia responde às perguntas mais profundas do homem moderno, protege-o contra a objetivação e assinala a beleza de seu mistério, que Deus mesmo fez a sua imagem e a síntese de toda a criação. E a este respeito, especialmente a este respeito, o Papa Wojtyla continuará sendo um destacado mestre da Igreja".
3. João Paulo II como padroeiro da Europa
O Cardeal Dziwisz assegurou que a "personalidade, pensamentos e trabalho" de São João Paulo II "deixaram uma grande marca não apenas na vida da Igreja, mas também em toda a comunidade do mundo".
"A vida de Karol Wojtyla / Papa João Paulo II é um lembrete sobre as raízes cristãs da Europa e de toda a civilização ocidental. O Papa demonstra com a vida que ser europeu e ser discípulo de Cristo não se excluem mutuamente, mas se sobrepõem radicalmente", lembrou.
Em seguida, destacou "a contribuição de João Paulo II para a história recente da Europa".
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"Muitos historiadores, políticos e comentaristas afirmam que o Papa desempenhou um papel central na derrubada do comunismo e na integração continental da comunidade. Seu ministério foi a pedra angular do despertar nacional da esperança na Polônia. Foi instrumental e contribuiu maciçamente para a consolidação de movimentos sociais e políticos destinados a criar uma Europa livre, igualitária e historicamente justa", afirmou.
Finalmente, o Cardeal comentou que, por todas essas razões, "é preciso dizer que o Papa Wojtyla não é apenas um grande Doutor contemporâneo da Igreja, mas também um importante patrono da Europa, que tem muito a dizer a todos, tanto crentes quanto não crentes".
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