21 de novembro de 2024 Doar
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Cardeal Becciu: Investimento de 200 milhões em Londres foi uma "prática aceita"

Cardeal Angelo Becciu e o ex-comandante da Gendarmeria do Vaticano em 2012, Domenico Giani. Crédito: Alan Holdren | ACI Prensa

O Cardeal Angelo Becciu, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, concedeu recentemente uma entrevista a um meio italiano, na qual negou qualquer irregularidade no investimento imobiliário feito com os fundos do Vaticano e insistiu que agiu "apenas de acordo com os interesses da Santa Sé".

O Cardeal, que serviu como substituto do Secretário de Estado entre 2011 e 2018, rejeitou qualquer irregularidade na autorização de um contrato imobiliário de 200 milhões de dólares para a construção de um edifício em Londres.

Respondendo ao que chamou de "acusações difamatórias", segundo as quais ele havia "jogado e manipulado o dinheiro dos pobres" na transação de 2014, o Cardeal italiano defendeu o investimento e disse que foi "uma prática aceita".

Em diálogo com a agência italiana ANSA, o Cardeal disse que "sua consciência está limpa e sei que sempre agi de acordo com os interesses da Santa Sé e nunca para meu próprio benefício. Quem me conhece bem pode dar fé disso".

A entrevista foi dada em resposta à cobertura de uma investigação em andamento pelas autoridades criminais e financeiras do Vaticano sobre um investimento de 200 milhões de dólares em 2014, realizado através de Athena Capital, um fundo de investimento de Luxemburgo, que financiou o desenvolvimento de um projeto de apartamentos de luxo em Londres.

Os detalhes do investimento foram divulgados pela primeira vez pelo 'Financial Times' no início deste mês. O dinheiro foi retirado de contas bancárias suíças sob o controle da Secretaria de Estado e se manteve separado de outras contas correntes do Vaticano.

O investimento em Londres, junto com outros quase 50 milhões de dólares investidos em 2018 na mesma propriedade, levantou perguntas sobre o controle interno do dinheiro do Vaticano em bancos internacionais e veículos de investimento, especialmente após repetidos esforços para alinhar as práticas financeiras com práticas e padrões internacionais.

Na terça-feira, o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, disse que o investimento era único e que o fundo em questão parecia estar "bem administrado". "Estamos trabalhando para esclarecer tudo. Esse acordo foi bastante opaco e agora estamos tentando esclarecê-lo", disse o Purpurado italiano à Reuters.

O Cardeal Becciu também disse à ANSA que existe uma diferença entre os fundos do Vaticano destinados ao benefício dos pobres e os lucros da coleta anual do Óbolo de São Pedro, que é a coleta feita em todas as paróquias do mundo e que depois é enviada a Roma.

"Investir em propriedades é uma prática aceita pela Santa Sé, sempre foi: em Roma, em Paris, na Suíça e também em Londres", disse o Cardeal Becciu insistindo em que o acordo era "regular e registrado de acordo com a lei".

"Na Secretária de Estado, há uma fundação chamada 'money of the poor' (dinheiro dos pobres). E estava destinada aos pobres. Se, por outro lado, por dinheiro dos pobres querem se referir ao Óbolo de São Pedro, temos que esclarecê-lo", indicou o Cardeal Becciu.

"O óbolo não é apenas para a esmola do Papa, mas também para financiar seu ministério pastoral", disse o Cardeal, sugerindo que os dois investimentos da Secretaria de Estado do Vaticano na compra de apartamentos de luxo foram um uso apropriado dos fundos doados.

Em 29 de outubro, CNA – agência em inglês do Grupo ACI – informou que o Cardeal Becciu estava envolvido em uma complicada série de eventos e transações financeiras em torno da compra do Instituto Dermopatico dell'Immacolata (IDI), um hospital italiano que faliu em 2013, com 800 milhões de euros (mais de 888 milhões de dólares) em dívidas por roubo e fraude.

Como substituto da Secretaria de Estado, o Cardeal foi a "força motriz" por trás do pedido de uma subvenção de 25 milhões de dólares da Papal Foundation, com sede nos Estados Unidos, para fornecer aparentemente liquidez a curto prazo ao hospital, tendo, na realidade, a intenção de ajudar a eliminar um empréstimo incobrável de 50 milhões de euros (mais de 50 milhões de dólares) dos livros da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA).

Embora o saldo da subvenção tenha sido cancelado após a rejeição dos membros do conselho da Papal Foundation, inicialmente foram enviados 13 milhões de dólares à Secretaria de Estado, embora não tenha sido informado como o dinheiro foi usado.

O Cardeal Becciu disse a CNA que, apesar de estar envolvido na compra do IDI por uma associação criada com a Secretaria de Estado, "o Cardeal Parolin assumiu a Secretaria de Estado [em 2013] e já não me preocupava mais pelo IDI".

No início de 2019, o Cardeal Parolin escreveu à Papal Foundation dizendo que os 13 milhões de dólares seriam reclassificados como um empréstimo, e não como uma subvenção, e seriam pagos.

Duas fontes da Papal Foundation explicaram a CNA que o Vaticano propôs que o empréstimo fosse reembolsado por meio de "descontos" aplicados anualmente à lista de subvenções solicitadas à fundação pelos escritórios do Vaticano e os apostolados católicos.

"Os pobres terminarão pagando a dívida", disse uma das fontes.

O papel do Cardeal Becciu em autorizar o investimento de 200 milhões de dólares e o foco dos pesquisadores do Vaticano no tempo de seu mandato na Secretaria de Estado o colocaram sob escrutínio.

Enquanto esteve lá, o Purpurado italiano foi responsável pelo cancelamento de uma auditoria externa de todas as finanças da cúria, com a intenção de centralizar a informação e os detalhes dos ativos e fundos do Vaticano mantidos fora da Santa Sé e que não estão disponíveis para a análise.

Em 1º de outubro, os promotores do Vaticano fizeram uma busca e apreensão nos escritórios da Secretaria de Estado. Nesse dia, foram apreendidos vários documentos e dispositivos. Embora o Vaticano não tenha indicado exatamente o que causou a investigação, relatórios posteriores indicaram que estavam investigando o investimento imobiliário em Londres e o Cardeal Becciu.

No dia seguinte, vazou um memorando confidencial que anunciava a suspensão de cinco funcionários do Vaticano, incluindo dois oficiais: Mons. Mauro Carlino e o leigo Tomasso Di Ruzza, diretor da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano (AIF).

Di Ruzza foi posteriormente autorizado a voltar ao trabalho após uma investigação interna da AIF.

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A entrevista do Cardeal Becciu ocorreu dois dias depois que o mesmo meio informou que o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte havia sido contratado para lhe consultar sobre o acordo em maio de 2018, apenas algumas semanas antes de assumir o cargo.

Desde então, Conte se distanciou do acordo apoiado pelo Vaticano e das investigações posteriores.

Na segunda-feira, seu escritório emitiu um comunicado em resposta à nota do 'Financial Times' dizendo que é preciso levar em consideração "que o Sr. Conte apenas deu uma opinião legal e não estava ciente, nem obrigado a saber, o fato de que alguns investidores estavam vinculados a um fundo de investimento apoiado pelo Vaticano e que agora é o centro de uma investigação".

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