5 de novembro de 2024 Doar
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Especialista explica a resposta da Igreja frente os casos de abuso sexual

Pe. Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção da Infância da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores. | Daniel Ibañez

Pe. Hans Zollner, sacerdote jesuíta e presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, concedeu uma entrevista ao programa Cara a Cara da EWTN, onde explicou a resposta à crise de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja.

O especialista da Universidade Gregoriana incentivou a Igreja Católica a trabalhar por e para as vítimas e a liderar a prevenção desses abusos, porque "mais de 90% dos abusos sexuais são cometidos por pessoas que não vivem o celibato, ou seja, nas famílias, nas associações esportivas e que não prometeram viver o celibato. Além disso, 95 ou 96% dos sacerdotes de países onde essa situação ocorreu viveram uma vida contundente na qual não abusaram de menores".

Sobre as respostas da Igreja a essa profunda crise, Pe. Zollner falou sobre o Encontro sobre a proteção de menores de fevereiro de 2019 no Vaticano, do qual participaram todos os presidentes das conferências episcopais do mundo, bem como os superiores gerais e responsáveis por todas as ordens religiosas.

Durante esses dias, os participantes "viram o interesse do Santo Padre em se envolver e se comprometer em uma luta que concerne à Igreja e em nome de toda a sociedade", também escutaram o testemunho de oito vítimas que explicavam seu caso em três perguntas: O que aconteceu? O que aconteceu quando entrou em contato com as autoridades eclesiásticas? E o que quer que as autoridades façam com casos como o seu?

Pe. Zollner destacou que, com esses testemunhos, "os bispos entenderam que não se trata de pessoas que querem destruir a vida da Igreja ou danificá-la" e que vinham "de todas as partes do mundo, não apenas dos países ocidentais", algo que "abriu-lhes os olhos porque perceberam, pela primeira vez, que é uma realidade em seus países e regiões".

Vos estis lux mundi

No final desse encontro no Vaticano, foram tomadas algumas decisões que envolvem ações concretas, como a instituição de comissões de prevenção e combate contra os abusos que estão no mesmo nível da conferência episcopal, além da aplicação em nível mundial da carta apostólica em forma de motu proprio Vos estis lux mundi.

Este documento foi promulgado apenas três meses após o encontro em Roma, em 1º de junho de 2019, em mais de 190 países. "Essas normas e leis foram aprovadas em pouco tempo (...). Temos que ver como funcionam porque o Santo Padre promulgou a lei por três anos e devemos revisá-la depois para ver como funcionou e se algo precisa ser mudado", explicou durante a entrevista.

Sobre o documento Vos estis lux mundi, o especialista da Universidade Gregoriana de Roma explicou que tem repercussões principalmente sobre "a responsabilidade e a corresponsabilidade do bispo diante da lei, do Santo Padre e dos irmãos bispos".

Pe. Zollner considera "um ponto fundamental" como prestar contas ao conhecimento e à ação diante de um caso de abuso. Portanto, agora todos os religiosos, sacerdotes e clérigos "estão obrigados a denunciar acusações de abuso quando souberem de um caso diante da autoridade eclesiástica. Ou houver haja uma negligência por parte de um bispo, o Arcebispo metropolitano tem o direito de começar uma investigação".

Além disso, este documento introduziu um nível intermediário entre o bispo e o Papa, "que é a autoridade do bispo metropolitano". Mas, se houver uma acusação de negligência concernente ao metropolita, a responsabilidade recai sobre "os bispos sufragâneos com a ajuda do núncio no país".

Além disso, destacou que "todos os casos de acusações de abuso sexual cometidos por um sacerdote, diácono ou bispo contra menores de idade são tratados pela Congregação para a Doutrina da Fé, e não por outros dicastérios".

"Nos últimos anos, ampliaram o número de juízes e pessoas que trabalham nesses casos, mas há uma complicação muito importante que são os diferentes idiomas, a atenção às vítimas e a dificuldade de se conectar com as pessoas que estão na outra parte do mundo", indicou Pe. Zollner.

Disse que "apenas um caso já traz muitíssimo trabalho para pouquíssimas pessoas que estão trabalhando no momento na Congregação para a Doutrina da Fé", mas assegurou que sabe que estão começando a se organizar de maneira que ajudem a "avançar nos casos com uma rapidez maior".

Países avançados em prevenção

No entanto, Pe. Zollner explicou que nem todos os países estão no mesmo ponto na prevenção deste flagelo e que há alguns que "estão empenhados em prevenir as reações e escândalos, enquanto em outros, especialmente em países pequenos onde há uma liderança da Igreja definida e um episcopado unido, existe a possibilidade de responder de uma forma contundente e apropriada".

Indicou que nesta luta estão mais avançados "México, Chile, Argentina e talvez El Salvador, na América Central, e outros pontos como a Arquidiocese de Bogotá, na Colômbia, ou Quito, no Equador".

Assegurou que estes são "pontos de referência que também estão organizando workshops, cursos em universidades e também discutindo isso no nível da sociedade".

Mas ressaltou que tanto na América Latina quanto no resto do mundo "uma sociedade precisa estar preparada para começar a discutir estes temas em um sentido mais amplo". Além disso, explicou que a mudança que ocorreu em alguns países é "um fator de grande esperança, porque vejo que em muitos países existe a possibilidade de falar sobre esse assunto, onde há dois anos não era possível abrir a boca e realizar um workshop público. É surpreendente e de grande alegria e esperança, porque vejo que depois de anos nos quais não se avançava, parecia que estávamos no mesmo lugar; agora vejo mais interesse e comprometimento e mais pessoas que certamente estão envolvidas, são competentes e estão dispostas a contribuir para uma mudança fundamental na Igreja", destacou.

"Em outros países, como muitos dos países andinos, ainda não vejo muita discussão sobre isso [casos de abuso] também por razões econômicas. Uma sociedade parece iniciar a discussão sobre esses temas quando existe certo bem-estar econômico, porque quando há demasiada pobreza, violência, como acontece em alguns países da América no momento, as pessoas não estão interessadas na discussão sobre violência sexual", afirmou.

Também incentivou a que "cada instituição dentro da Igreja, as dioceses, precisam formar pessoas mais especialistas na missão [de proteger menores], e para isso existe o centro de proteção do menor da Universidade Gregoriana que foi criado há oito anos".

Segundo explicou, "cada pessoa, não apenas os provinciais ou sacerdotes, mas todos podemos contribuir, em primeiro lugar, para lutar contra os abusos e, em segundo lugar, para escutar as vítimas dos abusos cometidos e, em terceiro lugar, para uma mudança de atitude na Igreja, fazendo algo para melhorar a situação.

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