25 de novembro de 2024 Doar
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Cardeal Parolin diz que é responsável por polêmico empréstimo do Vaticano para hospital

Cardeal Pietro Parolin. Crédito: Daniel Ibañez | ACI Prensa

O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, disse que é o responsável por conceder um empréstimo controverso para a compra de um hospital italiano falido e que, além disso, foi ele que coordenou com o Arcebispo Emérito de Washington, Cardeal Donald Wuerl, uma subvenção de The Papal Foundation para cobrir o empréstimo quando este já não estava sendo pago.

O Cardeal Pietro Parolin comentou esta semana à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que se sentiu "obrigado" a abordar o assunto "para colocar fim a uma controvérsia que nos tira tempo e recursos de nosso serviço ao Senhor, à Igreja e ao Papa e, além disso, perturba a consciência de muitos católicos".

"As operações que envolvem o IDI podem ser atribuídas a mim", disse o Cardeal à CNA, em 19 de novembro, e insistiu que suas ações em relação ao Instituto Dermopatico dell'Immacolata (IDI) eram legais e transparentes.

O Cardeal indicou que ele pessoalmente havia feito o acordo de um empréstimo de 50 milhões de euros, em 2014, da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), para financiar parcialmente a compra do hospital IDI em falência.

O IDI foi comprado, em 2015, por uma associação entre a Secretaria de Estado do Vaticano e a ordem religiosa que havia administrado o hospital que tinha falido por ter uma dívida de 800 milhões de euros, o que levou alguns de seus antigos administradores a serem processados ​​e presos por fraude sistêmica e má administração de fundos.

Embora o Cardeal Parolin tenha dito que o acordo "foi realizado com intenções justas e meios honestos", é provável que o empréstimo da APSA atraia escrutínio dos reguladores bancários europeus, pois violaria os acordos regulatórios de 2012 que proíbem que a APSA conceda empréstimos comerciais.

Os acordos regulatórios foram o resultado de uma inspeção in situ realizada pelo Moneyval, o Comitê do Conselho da Europa que tem como objetivo combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, que proíbem legalmente a APSA de prestar serviços a pessoas ou participar em transações comerciais.

O Cardeal Parolin também disse que havia feito pessoalmente um plano com o Cardeal Wuerl para solicitar fundos a The Papal Foundation para cobrir o empréstimo da APSA.

A solicitação da subvenção de 25 milhões de dólares a The Papal Foundation foi um esforço para eliminar a dívida incobrável ​​da APSA, antes que o acordo chamasse a atenção e depois que ficou evidente que o hospital quebrado e endividado não podia pagar seu empréstimo.

O Cardeal Wuerl, no entanto, disse ao diretório de The Papal Foundation que os fundos estavam destinados a salvar o IDI do fechamento, cobrindo déficits operacionais de curto prazo. Nesse sentido, os membros leigos do diretório da fundação fizeram várias perguntas sobre se o dinheiro estava realmente destinado a cobrir um déficit operacional no hospital ou se visava cobrir a dívida com a APSA.

Os fideicomissários e doadores de The Papal Foundation também expressaram seu ceticismo sobre a quantia solicitada, que era muito maior do que seus desembolsos normais que, geralmente, são doações de centenas de milhares de dólares para organizações de caridade em todo o mundo, selecionadas pela Santa Sé

Depois que um membro do diretório se opôs ao empréstimo, o ex-cardeal Theodore McCarrick, que também era membro do diretório na época, escreveu que levantar preocupações era "irresponsável e muito prejudicial para The Papal Fundation". McCarrick, que foi expulso do estado clerical pelo Papa Francisco, já estava sob investigação por abusos sexuais quando interveio sobre o tema.

Apesar das objeções, a subvenção foi aprovada pelo conselho de The Papal Foundation em votação secreta. Fontes da fundação disseram à CNA que os membros do diretório acreditam que todos, exceto um dos membros religiosos, votaram a favor, enquanto todos, exceto um dos membros leigos, votaram contra a aprovação da subvenção.

Para entregar o dinheiro, foi enviado, inicialmente, duas cotas a Roma, no final de 2017 e princípio de 2018, por um total de 13 milhões de dólares. Depois que os desacordos internos sobre a subvenção se tornaram públicos, o Cardeal Wuerl disse que pediria ao Vaticano para cancelar a solicitação e devolver o dinheiro.

No início de 2019, o Cardeal Parolin escreveu ao diretório dizendo que os 13 milhões de dólares seriam reclassificados como um empréstimo, e não como uma subvenção, e seriam pagos como créditos contra futuras solicitações de subvenção.

Quando o dinheiro da subvenção acabou, a APSA foi obrigada a cancelar 30 milhões do empréstimo de 50 milhões de euros, eliminando os lucros da entidade financeira para o exercício fiscal de 2018.

O Bispo Nunzio Galantino, chefe da APSA, reconheceu o empréstimo e seu cancelamento em setembro, embora a APSA seja legalmente proibida de conceder empréstimos que financiem transações comerciais.

Após a publicação em 21 de outubro de um livro que alegava que o Vaticano estava quase insolvente, Dom Galatino culpou o empréstimo pela incapacidade da APSA de registrar um lucro pela primeira vez em sua história.

O Cardeal Parolin respondeu às perguntas da CNA nesta semana, depois que o Cardeal Angelo Becciu, que foi apontado como a força motriz tanto para organizar o empréstimo como para pressionar pela subvenção de The Papal Foundation, entrou em contato com CNA para negar sua participação nesses assuntos.

O Cardeal Becciu disse à CNA que os dois assuntos eram de "competência" do Secretário de Estado, Cardeal Parolin.

O Cardeal Becciu também disse à CNA, por mensagem de texto no início deste mês, que só foi saber sobre o empréstimo da APSA depois que o acordo já tinha sido feito e que não estava envolvido na solicitação de uma subvenção proveniente de The Papal Foundation.

O empréstimo que a APSA realizou em 2014 foi feito apesar das sérias objeções do Cardeal George Pell, que serviu como Prefeito da Secretaria de Economia e foi nomeado pelo Papa Francisco para assumir a responsabilidade financeira na Cúria do Vaticano.

CNA também explicou anteriormente que um pedido de empréstimo com o mesmo objetivo havia sido vetado pelo IOR, o Instituto para as Obras de Religião, conhecido como "Banco do Vaticano", depois que seu presidente, Jean-Baptiste Douville de Franssu, e o Cardeal Pell chegaram à conclusão que o hospital IDI era inviável e que o dinheiro nunca seria devolvido.

Embora o Cardeal Parolin tenha assumido a responsabilidade pelos arranjos do IDI, vários funcionários do Vaticano comentaram à CNA que o Cardeal Becciu esteve envolvido na organização do empréstimo e da subvenção de The Papal Foundation.

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Esse esforço incluiu uma visita a McCarrick feita pelo secretário da APSA, Pe. Mauro Rivella, em Washington (Estados Unidos), logo após o pedido da subvenção. A visita ocorreu antes que o então Cardeal McCarrick pressionasse os membros do diretório da fundação para aprovar a subvenção e depois que começou uma investigação sobre a conduta sexual inadequada do agora ex-sacerdote.

Mesmo assim, o Cardeal Parolin insistiu: "Até onde eu sei, o Cardeal Becciu não teve nenhum papel" nesses assuntos.

No entanto, as conexões pessoais do Cardeal Becciu com o hospital IDI remontam pelo menos até sua nomeação para o cargo de substituto da Secretaria de Estado em 2011.

Pouco depois que o Cardeal Becciu começou a trabalhar como segundo responsável pela Secretaria de Estado, o presidente do IDI, Pe. Franco Decaminada, posteriormente preso, processado e acusado de roubo e fraude, aproximou-se dele em busca de apoio a uma proposta de que a Secretaria de Estado forneça ao IDI 200 milhões de euros, aparentemente para financiar a aquisição de outro hospital pelo IDI, que já estava enfraquecido por sua insolvência.

Em outubro, o Cardeal Becciu disse à CNA que não se lembrava dessa proposta, apesar de vários meios de comunicação italianos terem informado sobre isso. Também no mês passado, o Purpurado comentou que seu interesse e participação com o IDI cessaram quando o Cardeal Parolin foi nomeado Secretário de Estado.

"O Cardeal Parolin assumiu o cargo de Secretário de Estado (em 2013) e eu não me preocupei mais com o IDI", afirmou.

Ao assumir a responsabilidade pelo empréstimo da APSA e pela solicitação a The Papal Foundation, o Cardeal Parolin disse à CNA que a interpretação desses eventos "por parte de certos meios é um assunto diferente, apresentando essas operações como não transparentes, irregulares ou inclusive ilegais: Isso, até onde estou informado, não é a verdade".

Além do empréstimo da APSA e da subvenção de The Papal Foundation, outros aspectos relacionados ao IDI suscitaram sérias dúvidas.

Além do empréstimo da APSA, o Vaticano também usou 30 milhões de euros destinados ao hospital pediátrico Bambino Gesú para comprar o IDI falido. Esse dinheiro foi retirado de uma doação de 80 milhões de euros que o governo italiano havia dado ao primeiro centro médico, o chamado "Hospital do Papa". Foi o Cardeal Guisseppe Versaldi quem fez a operação.

Nesse momento, o Purpurado dirigiu a associação para comprar o IDI, supervisionou a Prefeitura de Assuntos Econômicos da Santa Sé e foi o delegado do Vaticano para supervisionar a província italiana dos Filhos da Imaculada Conceição, a congregação religiosa que havia sido proprietária do IDI e que se associou ao Vaticano para comprá-lo novamente.

Algumas gravações telefônicas registram o Cardeal Versaldi discutindo o plano com Giuseppe Profiti, presidente de Bambino Gesú, e os dois concordaram em desviar os fundos.

O Cardeal Versaldi e Profiti depois negaram ter agido mal e o Purpurado afirmou que só queria poupar o Papa dos detalhes técnicos dos esforços para salvar o IDI.

Em suas declarações a CNA, o Cardeal Parolin também se referiu aos comentários do Cardeal Becciu, que disse à CNA que, embora não tenha certeza de quais funcionários do Vaticano sugeriram que ele está conectado às operações do IDI, acredita que ele poderia ser vítima de uma campanha de desinformação para manchar sua reputação. O Cardeal Parolin não acredita que seja esse o caso.

"Acho que não é um tema da Cúria. De qualquer forma, sou completamente alheio a qualquer operação desse tipo. E se houvesse tal operação, eu a condenaria nos termos mais enérgicos possíveis", afirmou.

Um porta-voz do Cardeal Wuerl disse a CNA que o Purpurado norte-americano "não tem comentários além de reiterar os fatos que já estão no registro público com relação ao processo de solicitação a The Papal Foundation".

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