18 de novembro de 2024 Doar
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Denunciam sacerdote por homilia que pronunciou em funeral de jovem que se suicidou

Imagem referencial. Crédito: Unsplash

Um sacerdote da Arquidiocese de Detroit (Estados Unidos) enfrenta uma denúncia apresentada pelos pais de um adolescente que cometeu suicídio no ano passado, os quais o acusam de ter dado uma mensagem "inadequada" em sua homilia.

Os pais de Maison Hullibarger, um jovem de 18 anos que se suicidou em 4 de dezembro de 2018, disseram que Pe. Don LaCuesta, durante a Missa do funeral de seu filho, causou-lhes "danos e dores irreparáveis" com sua homilia, devido à repetição contínua do suicídio de Maison.

Em 8 de dezembro de 2018, Pe. LaCuesta presidiu a Missa do funeral de Hullibarger na Paróquia Our Lady of Mt. Carmel, em Temperance, Michigan.

Os pais de Maison, Jeff e Linda Hullibarger, entraram com um processo contra o sacerdote na última semana de novembro de 2019, bem como contra a Arquidiocese de Detroit e a paróquia Our Lady of Mt. Carmel. Eles exigem uma indenização de 25 mil dólares por danos.

Na homilia, publicada pela Arquidiocese na íntegra, o sacerdote disse que o suicídio é um ato contra a vontade de Deus, mas enfatizou a misericórdia de Deus diante do suicídio.

De acordo com a denúncia, os Hullibargers se reuniram com Pe. LaCuesta antes da Missa para discutir o serviço.

O casal comentou que disseram que queriam um funeral que fosse uma celebração da vida de seu filho e de sua amabilidade, e não disseram ao sacerdote, nem ao público em geral, que seu filho havia se suicidado.

O pai de Maison, Jeff, comentou que se aproximou do púlpito durante a homilia e pediu ao Pe. LaCuesta para "por favor" parar de falar sobre suicídio, de acordo com a denúncia, mas o sacerdote continuou sua homilia.

Dom Robert Dempsey, pastor em Lake Forest (Illinois) e professor visitante de Direito Litúrgico no Instituto Litúrgico do Seminário Mundelein, disse à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que determinar o conteúdo da homilia para uma Missa fúnebre é responsabilidade exclusiva do homilista, que deve sempre ser bispo, sacerdote ou diácono.

"Embora o pregador seja o único responsável pelo conteúdo de sua homilia, é obrigado a seguir as normas litúrgicas", disse Dom Dempsey à CNA, por e-mail.

A Ordem Católica para Funerais (Order of Christian Funerals), as normas litúrgicas da Igreja sobre funerais, estabelece que o pregador de uma Missa fúnebre deve estar "atento à dor dos presentes".

"O pregador deve se deter no amor compassivo de Deus e no mistério pascal do Senhor, como proclamado nas leituras das Escrituras. Também deve ajudar os membros da assembleia a compreenderem que o mistério do amor de Deus e o mistério da morte e ressurreição vitoriosa de Jesus estiveram presentes na vida e na morte do falecido e que esses mistérios também estão ativos em suas próprias vidas", lê-se na introdução geral às normas.

"As solicitações razoáveis ​​de privacidade e sensibilidade de uma família devem ser atendidas; as solicitações contrárias à crença da Igreja ou à disciplina litúrgica não", disse Dom Dempsey, acrescentando que "ninguém tem direito a escutar somente aqueles aspectos da palavra de Deus com os quais estão de acordo ou receber os sacramentos segundo a sua própria preferência ou compreensão".

No entanto, Dom Dempsey assinalou que a compaixão é importante para um pregador.

"No caso (de Detroit), um mínimo de senso comum e compaixão humana poderia ter evitado uma infinidade de problemas para todos os envolvidos. O matrimônio não é o momento apropriado para pregar sobre a imoralidade das pílulas anticoncepcionais; os funerais não são uma ocasião adequada para pregar sobre a imoralidade objetiva do suicídio ou sobre a incerteza sobre a perseverança final", disse Dom Dempsey.

Dom Dempsey enfatizou que as normas da Igreja ordenam que o sacerdote consulte a família no planejamento de uma Missa fúnebre e "dá indicações específicas sobre a natureza da homilia que será pregada".

"Além disso, a justiça natural e a caridade pastoral sugerem que o sacerdote deve respeitar os desejos de confidencialidade da família em relação a fatos específicos relacionados à vida e à forma (de) morte do defunto. Nos casos de suicídio, overdose, vício, quanto menos se diga, melhor, mesmo que a família não solicite especificamente confidencialidade", afirmou Dom Dempsey.

O presidente de Estudos Pastorais do Seminário de St. Patrick, em Menlo Park (Califórnia), Pe. Pius Pietrzyk, assinalou à CNA que, em sua visão, a imoralidade do suicídio não é suficientemente pregada nas Missas funerárias.

"Não é misericordioso dizer a alguém que não há problema em cometer suicídio. Nunca é misericordioso fazer isso. No entanto, acho que indiretamente o fazemos quando não pregamos o suficientemente forte, não esclarecemos o suficiente a imoralidade grave do suicídio e a culpabilidade que pode ser associada a ele".

"Um sacerdote em um funeral não está pregando aos mortos. Está pregando aos vivos. E, embora não se deva condenar em um sermão a alma de uma pessoa que está sendo enterrada, ninguém quer isso, um sacerdote não deve evadir a imoralidade do tema em questão", assinalou Pe. Pietrzyk.

Pe. Pietrzyk reconheceu que a forma da morte do jovem era, segundo o casal, pouco conhecida antes do funeral.

"Se isso não era amplamente conhecido na comunidade, e o casal quisesse manter os detalhes disso menos públicos, acho que um sacerdote deveria respeitar isso", disse.

"Mas se for amplamente conhecido na comunidade que cometeu suicídio, acredito que o sacerdote tem uma obrigação moral de tocar o tema. Portanto, só depende das circunstâncias de quão amplamente se sabe", indicou.

A família de uma pessoa falecida não tem direitos civis ou canônicos estritos para obrigar um sacerdote a pregar sobre um tema determinado ou não pregar sobre outros, enfatizou.

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O presbítero "não prega a verdade que a família dá; prega a verdade da Igreja", disse.

Pe. Pietrzyk disse que observa muitos sacerdotes e até alguns bispos, fomentando a sensação de que os leigos têm o direito de "controlar" a liturgia, especialmente no contexto de matrimônios e funerais. Mas, disse, a Missa não pertence ao "povo", mas à Igreja.

"Isso não significa que ignore a família... deveria escutá-los com atenção. Mas os desejos da família não podem substituir a mente da Igreja em relação a esses assuntos", afirmou.

A Arquidiocese de Detroit emitiu uma declaração em 17 de dezembro de 2018, na qual indica que "sua esperança é sempre proporcionar consolo a situações de muita dor, através de serviços funerários centrados no amor e no poder curador de Cristo. Infelizmente, isso não aconteceu neste caso. Entendemos que uma situação insuportável se tornou ainda mais difícil e lamentamos", dizia o comunicado.

A Arquidiocese também anunciou que, no "futuro próximo", Pe. LaCuesta não pregará nos funerais e terá todas as outras homilias revisadas por um sacerdote mentor. Além disso, afirmou a Arquidiocese, ele concordou em "procurar a assistência necessária para se tornar um ministro mais eficaz nessas situações difíceis".

Pe. Pietrzyk também disse que, em sua opinião, o processo civil não deveria ter êxito porque "nenhum tribunal, nem em Michigan, nem no tribunal federal, e certamente não no Supremo Tribunal, vai sustentar este tipo de ação extracontratual e, certamente, nunca vão pedir que a Igreja retire um sacerdote em particular".

"O casal poderia ter discordâncias legítimas com a homilia e a forma como o funeral foi tratado, mas a ideia de que isso é um assunto legal, a ideia de que os tribunais devem se envolver nisso é contrária a todos os precedentes constitucionais dos Estados Unidos. Não vai a lugar nenhum, nem deveria", afirmou.

"Mesmo que alguém se solidarize com a situação difícil (do casal), como qualquer pessoa deveria se solidarizar com a difícil situação de qualquer pai que tenha perdido um filho, a questão dos direitos civis e legais é outra questão. Assim, acho que se pode e se deve criticar o processo civil, ainda que sinta muita dor e simpatia pelo casal".  

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