Vaticano, Dec 13, 2019 / 15:30 pm
O Arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, afirmou que é tarefa dos fiéis acompanhar e segurar a mão daqueles que morrem em suicídio assistido e disse que é contra essa prática.
Assim indicou o Prelado, em 10 de dezembro, em declarações a alguns jornalistas no marco de um evento realizado no Vaticano sobre a importância dos cuidados paliativos.
Ao ser perguntado sobre sua opinião a respeito de um documento que os bispos suíços emitiram neste mês sobre suicídio assistido e o acompanhamento oferecido pela Igreja, Dom Paglia destacou que não o leu e que, "em nossa perspectiva, ninguém deve ser abandonado. Somos contra o suicídio assistido porque não queremos fazer o trabalho sujo da morte".
"É necessário ter em mente que a vida para mim, que creio, continua, mas não apenas para os que creem, mas para todos. Nesse sentido, acompanhar e segurar a mão daqueles que morrem (em suicídio assistido), acho que é uma grande tarefa que todo fiel deve promover, assim como todo fiel deve promover um contraste à cultura do suicídio assistido", explicou o Arcebispo.
"O suicídio é uma grande derrota, nunca podemos transformá-lo em uma opção de sabedoria. É uma grande derrota nossa", continuou.
Em seguida, um dos jornalistas perguntou se, então, um sacerdote ou um católico fiel pode acompanhar alguém durante o suicídio assistido, ao que o Arcebispo respondeu: "Você busca a regra. Eu acho que ninguém deve ser abandonado. O problema é que eu não quero dar uma regra para contradizer. Acho que a escolha é sempre de quem está lá neste caso".
"Para mim, quem tira a própria vida mostra uma derrota de toda a sociedade, mas não de Deus. É isso que eu quero afirmar", indicou.
"Que depois possam se encontrar regulamentações neste ou outro discurso, porque às vezes há certos gestos ou certos fatos que são para contradizer, para contrastar, convertem-se em ideológicos. Quero tirar a ideologia desta explicação", disse Dom Paglia.
O presidente da Pontifícia Academia para a Vida também comentou que faz "os funerais de suicidas porque o suicídio é sempre uma grande exigência de amor que não é respondida. O Senhor não abandona ninguém, nunca, ninguém".
"Devemos lembrar uma coisa: para a Igreja Católica, se alguém afirma que Judas está no inferno é herético. Nesse sentido, os cuidados paliativos são uma perspectiva na qual o acompanhamento responsável, e não um acompanhamento passivo, deve ajudar à serenidade, ao amor, à vida, à beleza do encontro", continuou.
Fazendo referência ao documento dos bispos suíços, a autoridade vaticana também disse que "este é um tema que vai além das leis, porque não precisamos tanto de leis novas em uma sociedade individualista, mas de um complemento de amor e um complemento de corresponsabilidade, porque cada um de nós nunca é 'escolhido pelos outros'. Por isso, ninguém é patrão de sua própria vida, porque minha vida também é sua, porque sou único. Não posso me retirar de um tecido dizendo que sou apenas um fio. Se eu retiro um fio, o tecido não é o que deveria ser".
"Uma sociedade que avança, como posso dizê-lo, para uma perspectiva de justificação do suicídio ou uma perspectiva de deixar sozinhos aqueles que não são fortes, é uma sociedade cruel para mim. Por isso, estou convencido de que ninguém deve ser abandonado em nenhuma situação na qual se encontre", ressaltou o Arcebispo italiano.
O documento dos bispos suíços
No início deste mês, os bispos da Suíça divulgaram um documento de 30 páginas no qual explicaram como deveria ser o acompanhamento no caso de pessoas que procuram suicídio assistido.
O texto intitulado "Conduta pastoral em relação à prática do suicídio assistido" responde ao alto índice de suicídios assistidos no país, onde essa prática é legal e onde existem clínicas especializadas.
O texto, explica a agência italiana SIR, assinala que cada vez mais os suíços veem o suicídio assistido como "uma solução aceitável quando se enfrenta o sofrimento e a morte".
No documento, os bispos explicam que o suicídio assistido "é radicalmente contrário à mensagem do Evangelho" e sua prática "é um grave ataque à preservação da vida da pessoa humana, que deve ser protegida desde a concepção até a morte natural".
Os bispos explicam o procedimento do suicídio assistido: o paciente recebe um medicamento para evitar vômitos, após meia hora administram a substância letal. O tempo em que a morte ocorre, que é de aproximadamente 16 minutos, varia de pessoa para pessoa, o que "gera uma pergunta difícil sobre o acompanhamento durante esses longos minutos de agonia".
Os prelados dizem que "a orientação geral, considerando um sério discernimento, implicaria acompanhar a pessoa que decidiu cometer suicídio 'o máximo possível', mas o agente pastoral deve deixar fisicamente o local onde a medicação letal é administrada".
No texto, os prelados apresentam três razões pelas quais esse gesto não significa abandonar o paciente: a primeira é que, ao sair do quarto, a "Igreja testemunha que é sempre a favor da vida". A segunda é que, ao permanecer no local onde ocorre o suicídio assistido, o gesto do agente pastoral poderia ser interpretado como "uma ajuda ou cooperação" da Igreja ao mesmo.
A terceira razão se refere aos sacramentos últimos, que são sempre considerados "sacramentos da vida e para a vida", não para a morte.
O documento, explica SIR, está marcado por uma séria preocupação com a realidade do suicídio para nunca perder a esperança de que a decisão possa ser revertida.
"A experiência mostra que o pedido de suicídio com frequência esconde um desejo não manifesto que deve ser discernido e aprofundado", afirmam os prelados suíços.
O que a Igreja ensina sobre o suicídio
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O ensinamento da Igreja sobre o suicídio está estabelecido nos numerais 2280 a 2283 do Catecismo.
"Cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos dispor dela", assinala o numeral 2280.
"O suicídio contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar a sua vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. Ofende igualmente o amor do próximo, porque quebra injustamente os laços de solidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana, em relação às quais temos obrigações a cumprir. O suicídio é contrário ao amor do Deus vivo", indica o numeral 2281.
O numeral 2282 também adverte que "a cooperação voluntária no suicídio é contrária à lei moral", enquanto o numeral 2283 enfatiza que um suicida também poderia ser salvo.
"Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida", refere o texto.
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