22 de novembro de 2024 Doar
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Papa une cruz com colete de migrante afogado: Não bloqueiem barcos com refugiados

Papa abençoa cruz feita com colete salva-vidas de migrante afogado. | Vatican Media

O Papa Francisco pediu que não se permaneça indiferente diante do drama dos refugiados e migrantes e indicou que "não se resolve o problema bloqueando barcos. Devemos nos comprometer seriamente a esvaziar os campos de detenção na Líbia".

O Pontífice falou assim nesta quinta-feira, 19 de dezembro, na instalação, no acesso do Palácio Apostólico do Vaticano do Pátio do Belvedere, de uma cruz de cristal com um colete salva-vidas em seu interior que pertenceu a um migrante afogado no mar.

Francisco pediu para aplicar "soluções possíveis" e "denunciar e perseguir os traficantes que exploram e maltratam os migrantes, sem temor de revelar conivências e cumplicidades com as instituições".

A instalação da cruz no Palácio Apostólico, que pretende recordar os migrantes e refugiados que arriscam suas vidas no mar para chegar à Europa, aconteceu depois da audiência que o Pontífice concedeu a um grupo de refugados que chegaram recentemente à Itália, vindos de Lesbos graças aos corredores humanitários promovidos pela Esmolaria Apostólica com o Ministério do Interior italiano.

"Este é o segundo colete salva-vidas que recebo como presente. O primeiro me foi dado há uns anos por um grupo de socorristas. Pertencia a uma menina que morreu afogada no Mediterrâneo. Eu repassei aos dois subsecretários da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, dizendo-lhes: 'Esta é a missão de vocês!'", explicou o Santo Padre.

Além disso, assinalou que com este gesto queria significar "o implacável compromisso da Igreja em salvar as vidas dos migrantes, para poder acolhê-los, protegê-los, promovê-los e integrá-los".

"Este segundo colete, entregue por outro grupo de socorristas há apenas alguns dias, pertencia a um migrante que desapareceu no mar no mês de julho. Ninguém sabe quem era nem de onde vinha. Só se sabe que seu colete foi encontrado à deriva no Mediterrâneo central em 3 de julho de 2019, em determinadas coordenadas geográficas. Enfrentamos outra morte causada pela injustiça".

O Papa insistiu que "é a injustiça que obriga muitos migrantes a deixar suas terras. É a injustiça que os obriga a atravessar desertos e a sofrerem abusos e torturas em campos de detenção. É a injustiça que os leva e os faz morrer no mar".

Em seguida, explicou o significado da cruz de cristal com o colete em seu interior: "O colete está vestindo a cruz de resina colorida, que quer expressar a experiência espiritual que captei nas palavras dos socorristas. Em Jesus Cristo, a cruz é fonte de salvação, 'loucura para os que se perdem' – diz São Paulo –, mas para os que se salvam – para nós – é força de Deus'. Na tradição cristã, a cruz é símbolo de sofrimento e de sacrifício e, ao mesmo tempo, de redenção e salvação".

"Esta cruz é transparente: representa um desafio para olhar com mais atenção e buscar sempre a verdade. A cruz é luminescente: que incentivar nossa fé na ressurreição, o triunfo de Cristo sobre a morte. Também o migrante desconhecido, que morreu com a esperança de uma nova vida, compartilha esta vitória. Os socorristas me contaram como estão aprendendo humanidade das pessoas que conseguem salvar. Revelaram-me como em cada missão redescobrem a beleza de ser uma grande família humana, unida na fraternidade universal".

Assinalou que decidiu "expor este colete salva-vidas 'crucificado' nesta cruz para que nos recordemos que devemos ter os olhos abertos… o coração aberto, para recordar a todos o compromisso imprescindível de salvar toda a vida humana, um dever moral que une os que creem e os que não creem".

O Santo Padre convidou a acolher os refugiados, porque "como podemos deixar de escutar o grito desesperado de tantos irmãos e irmãs que preferem enfrentar um mar tempestuoso a morrer lentamente nos campos de detenção líbios, lugares de tortura e escravidão ignóbil?".

"Como podemos ficar indiferente diante de tantos abusos e violências à vítimas inocentes, deixando-as à mercê de traficantes sem escrúpulos? Como podemos 'seguir adiante, pelo outro lado', como o sacerdote e o levita da parábola do Bom Samaritano, tornando-nos assim cúmplices de suas mortes? A nossa ignávia é pecado!".

O Papa Francisco finalizou seu discurso assinalando que "é preciso colocar de lado os interesses econômicos e pôr no centro a pessoa, cuja vida e dignidade são preciosas aos olhos de Deus. É preciso socorrer e salvar porque somos todos responsáveis pela vida no nosso próximo, e o Senhor nos cobrará no momento do juízo final".

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