24 de novembro de 2024 Doar
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Vaticano elege Bispo de Hong Kong, mas adia sua nomeação

Peregrinos chineses na Praça de São Pedro, no Vaticano. Crédito: Daniel Ibáñez | ACI Prensa

A Santa Sé adiou o anúncio da nomeação do novo Bispo de Hong Kong. Segundo informa CNA, agência em inglês do Grupo ACI, esta medida foi tomada frente às preocupações do clero e de leigos locais que consideram Pe. Peter Choy Wai-man como muito próximo do governo comunista do China.

A Diocese de Hong Kong está vacante desde 2019, quando o Bispo Michael Yeung-cheung morreu inesperadamente. Desde então, a diocese está sob liderança do Cardeal John Tong Hon, antecessor de Dom Yeung, que deixou o cargo em 2017.

Oficiais eclesiais em Roma, Hong Kong e China continental confirmaram a CNA que a decisão de nomear Pe. Choy como o próximo Bispo de Hong Kong já tem aprovação final do Vaticano. Atualmente, o sacerdote é um dos quatro vigários gerais na Diocese de Hong Kong.

CNA entrou em contato com Pe. Choy para lhe pedir uma declaração sobre sua nomeação, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

A nomeação de Pe. Choy não foi anunciada porque poderia ser interpretada como uma repressão aos protestos políticos na província, segundo indicaram a CNA várias fontes do Vaticano e de Hong Kong.

Fontes de Hong Kong e Roma também disseram a CNA que o próprio Cardeal Tong sugeriu que não fosse anunciada a nomeação do sacerdote.

"A situação (na China e em Hong Kong) é muito delicada e ninguém quer tornar as coisas mais difíceis. Será anunciada (quando possível) e isso é tudo", disse uma fonte da Cúria vaticana a CNA.

CNA entrou em contato com o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, para lhe pedir uma declaração sobre a nomeação de Pe. Choy e a decisão de adiar seu anúncio, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

Durante boa parte de 2019, Hong Kong foi cenário de protestos em massa contra o governo chinês e o governo local. As manifestações começaram depois que os comunistas respaldaram as autoridades em sua tentativa de aplica a extradição para a China continental. O projeto foi deixado de lado, mas os protestos continuam.

Pe. Choy é próximo ao Cardeal Tong e se diz que tem uma boa relação de trabalho com as autoridades do governo comunista chinês, na ilha e na China continental.

Quando Dom Yeung morreu, havia rumores de que Pe. Choy seria seu sucessor. Vários sacerdotes da ilha disseram a CNA que parecia que o falecido prelado estava preparando-o para sucedê-lo.

Um sacerdote que era próximo ao falecido bispo e que pediu para se manter em anonimato disse a CNA que "Pe. Peter era considerado o candidato desde o começo", pois era "um grande amigo do Bispo Michael (Yeung) e não havia dúvida de que o queria como seu sucessor".

Outro sacerdote, próximo à chancelaria de Hong Kong, comentou com CNA que existe preocupação entre os católicos sobre se Pe. Choy poderia sair à frente na defesa da Igreja local, enquanto outro membro do clero local assinalou que Pe. Choy é "um falcão pró-Pequim" e "um inimigo jurado do Cardeal Zen".

"Sua nomeação é mais uma prova de que a santa Sé está vendendo" a Igreja, acrescentou a fonte.

As duas últimas fontes indicaram a CNA que a nomeação de Pe. Choy como Bispo de Hong Kong suscitaria a rejeição do Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Bispo Emérito da diocese e um dos mais duros críticos do acordo provisório entre China e Vaticano para a nomeação de bispos, assinado em 2018.

Outro candidato para ser Bispo de Hong Kong foi o atual Bispo Auxiliar da diocese, Dom Jospeh Há Chi-shing, o qual é associado publicamente às pessoas que protestam na ilha, pois ele mesmo participou de algumas manifestações.

Vários clérigos na diocese indicaram a CNA que, antes de sua morte, Dom Yeung tinha a intenção de fazer com que Pe. Choy fosse nomeado como um segundo bispo auxiliar para gerar certo equilíbrio.

Desse modo, disse um oficial da chancelaria de Hong Kong a CNA, os dois bispos auxiliares "seriam como o ying e yang: um muito alto e forte (Há) e o outro mais tranquilo e retraído (Choy), mas ambos muito bons amigos do bispo (Yeung)".

A mesma fonte explicou que as preocupações sobre as facções no clero diocesano, incluindo o aspecto político, fizeram com que Dom Yeung nomeasse quatro vigários gerais ao mesmo tempo, uma figura incomum em uma diocese.

Uma fonte próxima à Congregação para a Evangelização dos Povos, no Vaticano, disse a CNA que Dom Há era a primeira opção em Roma para suceder Dom Yeung e que o Papa Francisco tinha aprovado formalmente sua nomeação, mas por fim decidiu trocá-lo.

A Congregação e a Secretaria de Estado são responsáveis, entre outras coisas, por recomendar as nomeações episcopais na China.

Pe. Choy nasceu em Hong Kong, em 1959. Foi ordenado sacerdote em 1986. É um dos quatro vigários gerais da diocese desde 2017. Entre suas responsabilidades estão a formação do clero e dos leigos e a liderança do diálogo ecumênico e inter-religioso. Também é decano do seminário de Hong Kong.

A Diocese de Hong Kong conta com 300 sacerdotes, a maioria dos quais pertence a ordens religiosas. Servem a cerca de 600 mil católicos.

Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

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