INDIANA, Feb 29, 2020 / 06:00 am
Em 19 de fevereiro, o Bispo de Fort Wayne-South Bend, Indiana (Estados Unidos), Dom Kevin C. Rhoades, afirmou que a Igreja Católica "condena firmemente" o antissemitismo e alertou sobre os erros teológicos e a retórica "falsa e de ódio" contra os judeus nas redes sociais.
"Infelizmente, houve um aumento nos últimos anos da retórica antijudaica e antissemita em nossa sociedade", disse o bispo em um comunicado publicado no jornal diocesano Today's Catholic. "Aqueles que falam dos judeus como nossos inimigos estão errados", acrescentou.
O Prelado indicou que os Papas "se referiram constantemente aos nossos irmãos e irmãs judeus como 'amigos' a quem amamos e estimamos, não como inimigos ou adversários aos quais rejeitamos".
Dom Rhoades alertou sobre erros e retóricas de ódio contra os judeus, especialmente entre alguns escritores atuais, que "não apresentam os judeus ou o judaísmo de maneira respeitosa ou teologicamente correta".
"Nesta era das redes sociais, as pessoas leem ou escutam todos os tipos de opiniões expressas sobre o judaísmo e o povo judeu em blogs, sites e similares. Alguns estão cheios de retórica falsa e de ódio, oposta ao próprio espírito do cristianismo. Como católicos, devemos rejeitar as expressões que conduzam a um desprezo pelos judeus", acrescentou.
O Prelado ressaltou que "a Igreja Católica não oferece refúgio ao preconceito antijudaico, independentemente de seu conteúdo ou expressão. Isso se aplica às declarações racistas contra os judeus, ao antissemitismo ou a qualquer opinião religiosa que denigra judeus ou judaísmo".
Dom Rhoades indicou que as diferenças entre cristãos e judeus em temas de fé "não implicam hostilidade".
"A única verdadeira atitude cristã em relação aos judeus é uma atitude de respeito, estima e amor", continuou Dom Rhoades. "Como membros da família de Deus, estamos unidos uns aos outros em seu plano de salvação".
O Catecismo da Igreja Católica ensina que "a fé judaica, ao contrário de outras religiões não cristãs, já é uma resposta à revelação de Deus no Antigo Testamento", disse o Bispo.
"Não devemos esquecer que o judaísmo foi a religião de Jesus, Maria e José, e dos apóstolos e dos primeiros discípulos que expandiram a Boa Nova de Cristo ao mundo", assinalou Dom Rhoades. "Os quatro evangelhos foram escritos sobre um judeu, por judeus, e originalmente para leitores judeus. O povo judeu, então, é a família de Jesus".
"Embora muitos judeus não tenham aceitado o Evangelho ou tenham se oposto à sua divulgação, Deus não os rejeitou", disse o Bispo, que enfatizou a rejeição do Concílio Vaticano II à afirmação de que todos os judeus eram "assassinos de Cristo".
"Ainda que as autoridades dos judeus e os seus sequazes urgiram a condenação de Cristo à morte não se pode, todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo, o que na Sua paixão se perpetrou", assinala o documento Nostra Aetate.
Dom Rhoades assinalou que o catecismo católico ensina que todas as pessoas são responsáveis pela morte de Jesus.
"É especialmente importante que a Igreja e a comunidade judaica continuem abordando questões religiosas e éticas que ambos enfrentam em um mundo que tenta desafiar a liberdade religiosa", disse Dom Rhoades. "Os judeus e os cristãos podem impactar profundamente a sociedade quando se unem em temas essenciais como a santidade da vida humana, a reforma migratória, os cuidados médicos, o tráfico de pessoas e a paz mundial".
"Embora como católicos professemos nossa fé em Cristo como o messias, o Filho de Deus e o Salvador do mundo, também reconhecemos o amor inquebrantável e constante de Deus por seu povo escolhido, Israel", disse o Bispo. "Em nossa missão de pregar Cristo ao mundo, não descartamos nem rejeitamos os tesouros espirituais do povo judeu", acrescentou.
"Demos graças a Deus pelo crescimento da confiança e da amizade estabelecida entre católicos e judeus desde o Concílio Vaticano II", concluiu.
Casos de ataques a judeus
Em outubro de 2018, um homem armado atacou a Tree of Life Congregation, em Pittsburgh, durante os cultos matinais de Shabat. Gritando frases antissemitas, o atacante matou oito homens e três mulheres. Também feriu outros seis, incluindo quatro policiais. Foi ferido e entregue à polícia. Antes do ataque, publicou comentários antissemitas e criticou a ajuda judaica aos imigrantes, a quem qualificou como "invasores".
Em Poway, Califórnia, em abril de 2019, um homem armado atacou a Chabd da sinagoga de Poway, no último dia da Páscoa. O atacante matou uma mulher e feriu três pessoas, incluindo o rabino. O atacante publicou um manifesto antissemita antes do ataque e também reivindicou a responsabilidade de um incêndio provocado em uma mesquita da Califórnia.
Em dezembro de 2019, em Jersey City, Nova Jersey, dois homens mataram a tiros quatro pessoas, incluindo dois judeus ortodoxos, em um cemitério e supermercado kosher. As autoridades locais disseram que a evidência preliminar indica que os suspeitos têm opiniões que refletem o ódio contra os judeus.
Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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