BERLIM, Mar 28, 2020 / 07:00 am
Várias agências de notícias, incluindo a Agência Alemã de Imprensa (DPA), informaram nos últimos dias que uma mártir da tradição cristã primitiva chamada "Corona" foi venerada no passado como a santa padroeira contra as epidemias resistentes.
Dizem que Santa Corona, de 16 anos, foi executada no século II por professar sua fé no Oriente, provavelmente na Síria. Suas relíquias foram mantidas na cidade de Aachen, no oeste da Alemanha, por mais de mil anos, mais precisamente desde 997 d.C.
Daniela Lövenich, porta-voz da Catedral de Aachen, disse à DPA: "Entre outras coisas, Santa Corona é considerada uma santa padroeira contra epidemias. É isso que a torna tão interessante neste momento".
Na quarta-feira, 25 de março, a agência Reuters publicou um artigo no qual informou que a Catedral de Aachen decidiu retirar as relíquias da pouco conhecida Santa Corona para exibi-las quando a pandemia de coronavírus passar, como parte de uma exposição sobre artesanato em ouro.
Atualmente, os especialistas estão limpando meticulosamente o medalhão de ouro, bronze e marfim, que estava oculto à vista do público durante os últimos 25 anos.
Brigitta Falk, chefe do Tesouro da Catedral de Aachen, contou detalhes sobre a lenda do brutal martírio de Santa Corona. Dizem que a jovem cristã foi amarrada a duas palmeiras curvas que destroçaram a menina quando foram abertas novamente.
"Essa é uma história muito assustadora e fez com que ela se convertesse na padroeira dos lenhadores", disse e acrescentou que foi pura casualidade que também se convertesse na santa padroeira para resistir às epidemias.
As relíquias de Corona, que teriam sido levadas a Aachen pelo rei Otto III em 997, foram guardadas em um túmulo debaixo de um piso na catedral, que ainda pode ser visto, até o ano 1911 ou 1912 quando foi colocada no relicário.
O relicário, que mede 93 centímetros de altura e pesa 98 kg, agora está sendo polido para os visitantes.
"Tiramos o relicário um pouco antes do planejado e agora esperamos mais interesse devido ao vírus", disse Daniela Lövenich à Reuters.
Existe realmente uma "santa contra as epidemias"? O que diz a tradição da Igreja
"Não há notícias reais sobre sua vida", assinala a Lexikon des Mittelalters, uma enciclopédia alemã sobre a história e a cultura da Idade Média, escrita por autores de todo o mundo, reunindo mais de 36 mil artigos em nove volumes.
Dizem que Corona sofreu a morte na Síria ou no Egito no século II; suas relíquias foram do Egito, passando por Chipre e Sicília, até Otricoli (norte da Itália); dali Otto III a levou para Aachen.
"Corona foi particularmente invocada pelos caçadores de tesouros e açougueiros", indica o livro. Inclusive, o texto assinala que não se sabe nada sobre um patronato especial contra epidemias.
A edição de 1931 fala que não se tem certeza que o nome "Corona" se refira à moeda "corona", que era conhecida antes do século XVI. Assim, a santa teria sido chamada assim, sobretudo, por "assuntos de dinheiro, loteria, jogos de azar" e de "schatzgraben", que o Lexikon des Mittelalters condena expressamente como superstição.
A referência à possível veneração da Santa Corona por jogadores supersticiosos desapareceu em edições posteriores do Lexikon, mas também não há referência a invocações especiais da mártir em tempos de epidemia.
Na edição atual do Lexikon, concluída em 2001, a época de seu martírio remonta à época do imperador Antoninus Pius ou Diocleciano. Especialmente na Baviera e na Baixa Áustria, foi venerada "como patrona da sorte" e "patrona dos caçadores de tesouros". No entanto, não há referências a patronatos adicionais, como veneração por lenhadores, açougueiros ou contra epidemias.
Até agora, apenas a "Enciclopédia Ecumênica dos Santos" emitiu a Santa Corona como padroeira contra epidemias.
No entanto, não existe uma fonte exata sobre este patronato. O site é operado pelo pastor protestante aposentado Joachim Schäfer. De acordo com suas próprias declarações, "muitos leitores (...) ajudam com seu conhecimento dos detalhes, conselhos e correções".
"Sempre recebemos mensagens que exigem explicações 'oficiais' ou certos pontos de vista e interpretações. Não representamos nenhuma posição oficial de nenhuma igreja ou outro grupo; independência é muito importante para nós", indicou
Ainda não está claro quais são as fontes, em última instância, responsáveis pelo fato de que Santa Corona tenha sido nomeada como padroeira contra as epidemias.
O Tesouro da Catedral de Aachen já recebeu um pedido explícito de informação sobre este tema por parte da CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI.
A Catedral de Aachen, construída pelo imperador Carlos Magno no século IX, é uma das mais antigas da Europa. Carlos Magno foi enterrado lá em 814 e foi usada para a coroação de reis e rainhas alemães.
Publicado originalmente em CNA Deustch. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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