Vaticano, Apr 14, 2020 / 13:50 pm
Na pandemia de coronavírus, não se pode negar aos doentes e moribundos a assistência sacramental de um sacerdote, assegurou o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, em entrevista recente.
Em declarações à revista francesa Valeurs Actuelles, o Cardeal Sarah disse na quinta-feira, 9 de abril, que, durante a emergência de coronavírus, "os sacerdotes devem fazer todo o possível para permanecer perto dos fiéis" e "fazer tudo o que esteja ao seu alcance para ajudar os moribundos, sem complicar a tarefa dos cuidadores e autoridades civis ".
"Mas ninguém tem o direito de privar uma pessoa doente ou moribunda da assistência espiritual de um sacerdote. É um direito absoluto e inalienável", afirmou.
Na entrevista, o Cardeal guineense também disse que acreditava que muitos sacerdotes redescobriram sua vocação à oração em meio à pandemia de COVID-19.
"Se [os sacerdotes] não podem segurar fisicamente a mão de cada pessoa moribunda como eles gostariam, descobrem que, em adoração, podem interceder por cada um", disse e acrescentou que espera que os doentes e os isolados se sintam conectados aos seus sacerdotes através da oração.
O Cardeal Sarah também incentivou as pessoas que vivem trancadas a redescobrirem a oração familiar.
"Está na hora dos pais aprenderem a abençoar seus filhos. Os cristãos, privados da Eucaristia, percebem quanto a comunhão era uma graça para eles. Animo vocês a praticarem a adoração em casa, porque não há vida cristã sem vida sacramental", explicou.
"Em meio de nossos povos e aldeias, o Senhor permanece presente", acrescentou.
O Cardeal também assinalou que um aspecto positivo da pandemia é o "espírito de entrega e sacramentalidade que saía dos corações".
"Hoje, as nações estão se movendo para proteger os idosos. De repente, admiramos e aplaudimos com respeito e gratidão as enfermeiras, médicos, voluntários e heróis do cotidiano", enfatizou.
Na entrevista, o Cardeal Sarah também falou sobre seu livro sobre o celibato sacerdotal, "Do mais profundo de nossos corações", publicado em fevereiro.
O livro gerou controvérsia sobre uma contribuição do Papa Emérito Bento XVI. Surgiram diferentes pontos de vista sobre se o Papa Emérito havia aceitado em ser incluído como coautor do livro, conforme argumentavam o Cardeal Sarah e os editores franceses e ingleses.
O Cardeal disse que também ficou surpreso com as reações violentas ao conteúdo do livro, que, com Bento XVI, pretendiam que fosse como "uma reflexão calma, objetiva e teológica baseada na Revelação e em dados históricos".
"É claro que sofri durante esse período, senti os ataques contra Bento XVI com muita força. Mas, no fundo, me doía especialmente ver como o ódio, a suspeita e a divisão invadiram a Igreja em uma questão tão fundamental e crucial para a sobrevivência do cristianismo: o celibato sacerdotal", acrescentou.
Disse que lamentava a pouca discussão sobre o que considerava a parte mais importante do livro: o argumento para a renúncia aos bens materiais por parte dos sacerdotes e a reforma baseada na santidade e na oração.
"Nosso livro estava destinado a ser espiritual, teológico e pastoral. Os meios de comunicação e alguns autoproclamados especialistas fizeram uma leitura política e dialética disso", indicou.
"Agora que as polêmicas estéreis se dissiparam, talvez possamos realmente lê-lo? Talvez possamos discuti-lo pacificamente?", perguntou.
Sobre o tema da renúncia aos bens, o Cardeal também convidou os sacerdotes e bispos na Alemanha "a experimentar a pobreza, a renunciar aos subsídios estatais".
"Uma Igreja pobre não temerá a radicalidade do Evangelho. Acho que muitas vezes nossos laços com o dinheiro ou com o poder secular nos deixam tímidos ou até covardes para proclamar a Boa Nova", afirmou.
Ao abordar o chamado processo sinodal na Alemanha, disse que tinha a impressão de que "as verdades da fé e os mandamentos do Evangelho serão submetidos a votação".
A entrevista também falou sobre o Sínodo Amazônico de 2019. O Cardeal Sarah disse que algumas das reações negativas após a publicação da exortação apostólica do Papa Francisco "Querida Amazônia" deixaram claro que "a angústia dos pobres tinha sido usada para promover projetos ideológicos".
"Gostaria que os sínodos fossem mais momentos de oração comum e não um campo de batalha ideológico ou político", assinalou, explicando que "a unidade da Igreja se baseia, em primeiro lugar, na oração".
"Se não rezamos juntos, sempre estaremos divididos", afirmou.
O Cardeal Sarah também expressou o desejo de que a vida da Cúria Romana seja ainda mais marcada por uma vida comum de oração e adoração.
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"Gostaria que a vida de toda a Igreja seja principalmente uma vida de oração comum. Estou convencido de que a oração é o nosso primeiro dever como sacerdotes. Da oração virá a unidade. Da oração vem a verdade", disse.
O Purpurado também descreveu a crise na Igreja como "uma crise de fé e uma profunda crise do sacerdócio".
Também disse que a administração do Vaticano não é o centro da Igreja.
"O centro da Igreja está no coração de todo homem que crê em Jesus Cristo, que reza e adora. O centro da Igreja está no coração dos mosteiros. O centro da Igreja está, sobretudo, em cada sacrário, porque Jesus está presente lá", disse.
"A Igreja está lá para dar testemunho da verdade. Os cristãos sempre serão indignos dessa missão, mas a Igreja sempre estará lá para dar testemunho de Cristo", concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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