22 de dezembro de 2024 Doar
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Religiosas ajudam meninas com deficiência em meio às dificuldades pelo coronavírus

Faith com sua família e com a irmã Rose Catherine Wakibiru. Créditos: Irmã Rose Catherine Wakibiru

Diante do fechamento de instituições educacionais no Quênia, devido à propagação do coronavírus, algumas religiosas continuam cuidando de meninas com deficiência no Lar Limuru Cheshire, levando ajuda e esperança para essas famílias que vivem em extrema pobreza.

A administradora do Lar, dirigido pelas Irmãs da Assunção de Nairóbi (Quênia), irmã Rose Catherine Wakibiru, destacou que cuidam de mais de 60 meninas, que tiveram que voltar para suas casas devido às medidas tomadas pelo Governo do País.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Quênia tem mais de 300 infectados e 14 morreram pelo vírus. O Governo do país declarou, em meados de março, o fechamento das escolas em todo o país até 4 de maio, contudo, devido ao aumento de casos, a medida foi prorrogada por um mês.

A religiosa indicou que se viu obrigada a pedir aos pais e responsáveis que buscassem suas filhas e as levassem para morar junto com suas famílias novamente, já que as meninas ficam 24h no Lar atendido pela congregação.

"Muitos dos pais não estavam prontos para receber as meninas", indicou.

A irmã Wakibiru assinalou que muitas meninas no Lar de Cheshire vêm de famílias pobres que vivem em assentamentos informais nas periferias de Nairóbi, como é o caso de Faith (um nome que será usado para proteger sua identidade), uma menina de 23 anos com deficiência, que vive com sua família em uma casa de um quarto em Satellite, um dos assentamentos informais.

"Inicialmente, Faith morava com sua mãe e seus três irmãos em Kibera (uma das maiores favelas de Nairóbi). Mas sua família se mudou para Satellite três semanas atrás, depois que sua casa foi arrasada pelas inundações", comentou.

Além disso, a religiosa indicou que nem todas as meninas foram recebidas em casa, cerca de cinco delas não tinham para onde ir quando a instituição foi fechada, por isso outras famílias as acolheram.

"Conheço todas as famílias que deixam suas filhas aqui e tenho uma ideia daquelas que podem acolher mais uma menina, além da própria. Então, quando fiz as ligações, perguntei-lhes se estavam dispostos a cuidar de uma menina extra. Foi assim que consegui que as cinco meninas tivessem um lugar para ficar", acrescentou.

Para aliviar a carga dos pais adotivos, o Lar Limiru Cheshire cobre as necessidades básicas das meninas, como alimentação e os materiais sanitários em seus novos lares.

No Quênia, muitas pessoas vivem com o que podem ganhar no dia e, para elas, é muito difícil conseguir trabalho, por isso, lamentavelmente, nem todas as famílias aceitaram receber suas próprias filhas, e se opuseram a que elas voltem para casa.

"Temos uma menina de Kibera. Ela tem três irmãos com deficiência. Sua mãe também tem problemas intelectuais. Quando telefonei para que viessem buscar a filha, me disseram que não viriam", contou.

A religiosa indicou que, para convencer a família, teve que prometer que iria cobrir as necessidades básicas da menina, "inclusive, permiti que a família escolhesse tudo o que precisava em uma loja próxima e pagamos o valor ao comerciante".

A irmã Wakibiru assinalou que, devido à pobreza, as pessoas com deficiência são a última prioridade nas famílias que lidam com a falta de recursos básicos, como a alimentação. Quando há pouca comida para compartilhar, as crianças com deficiência não recebem nada.

"As crianças com deficiência são tratadas como pessoas de segunda classe. As pessoas só pensam nelas quando todos os demais já estão satisfeitos", acrescentou.

A religiosa indicou que alguns membros da família também roubam os artigos de higiene pessoal e absorventes que as meninas recebem nas instituições de caridade.

"Realmente, não podemos culpar os membros da família por se ajudarem com as provisões das meninas", disse, acrescentando que "é a pobreza o que move as pessoas, mas só podemos esperar que aprendam a ser mais atentos às necessidades das meninas, que são mais vulneráveis".

Uma semana depois que as meninas saíram do Lar, a irmã Wakibiru comentou que a maioria dos pais e responsáveis ​​expressou frustração por não poder trabalhar com seus filhos com deficiência e pediu o apoio das religiosas.

A irmã Wakibiru indicou que, graças à ajuda de doadores locais, conseguiu apoiar famílias nos bairros pobres de Nairóbi e, com um documento especial do governo, conseguiu locomover-se, apesar da proibição de movimento dentro e fora de Nairóbi e de outras cidades onde há mais casos de COVID-19.

"No início da próxima semana, terei coberto todas as casas em Nairóbi e irei para Nakuru, onde temos nossos casos mais necessitados. Fico contente pelo governo ter me concedido uma permissão para viajar e atender nossas meninas", comentou a religiosa.

Em cada visita domiciliar, as famílias recebem alimentos para sustentá-los por até um mês, dependendo do nível de necessidade. As famílias também recebem máscaras e desinfetantes para mantê-los seguros durante a pandemia.

A irmã Wakibiru, as Irmãs da Assunção e os outros trabalhadores do Lar fundado há quase 50 anos pelo herói da Segunda Guerra Mundial Geoffrey Leonard Cheshire, vivem um dia de cada vez enquanto suas provisões esgotam em meio às doações reduzidas.

"Só podemos planejar e esperar que os apoiadores se unam para levar adiante a vida dessas meninas vulneráveis e de suas famílias", acrescentou.

Publicado originalmente em ACI África. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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