22 de dezembro de 2024 Doar
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Ensinar religião beneficia avaliação médica e atenção ao paciente, afirmam especialistas

Foto referencial. Crédito: Pixabay.

Quatro educadores de faculdades de medicina assinalaram em um artigo publicado em uma grande revista do Colégio de Médicos Americanos (ACP) que é importante ensinar religião e espiritualidade aos estudantes de medicina.

O artigo publicado em 19 de maio no "Annals of Internal Medicine", revista médica publicada por ACP, foi escrito por um grupo de educadores médicos, incluindo os médicos Kristin Collier, Cornelius James, Sanjay Saint e Joel Howell, que assinalaram a importância de ensinar religião e espiritualidade aos estudantes de medicina.

No artigo intitulado 'É hora de abordar mais plenamente o ensino de religião e espiritualidade na medicina?', os educadores sustentaram que avaliar as crenças religiosas de um paciente é importante para compreender completamente suas necessidades.

Os docentes também destacaram a importância da espiritualidade nos Estados Unidos, pois "hoje, aproximadamente 90% dos norte-americanos acreditam em Deus ou em um poder superior. Além disso, 53% dos norte-americanos consideram a religião 'muito importante' em suas vidas".

"Dado que o compromisso religioso está intrinsecamente relacionado aos aspectos culturais, mentais, espirituais e sociais do bem-estar, muitos pacientes acreditam que qualquer abordagem autêntica aos cuidados de saúde deve envolver seus compromissos religiosos".

No entanto, os médicos geralmente não discutem a espiritualidade com seus pacientes, mas promovem uma educação médica baseada na ciência quantitativa que ignora realidades espirituais imateriais, assinalaram.

"A ciência se tornou uma fonte quase inquestionável de autoridade. Os médicos começaram a ver os pacientes menos como seres sociais, com famílias e fé, como partes essenciais de suas vidas; e mais como coleções de órgãos defeituosos definidos por patologia microscópica e cultura bacteriológica", afirmaram.

Kristin Collier, professora assistente e diretora do Programa da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan sobre a Saúde, Espiritualidade e Religião, disse que os pacientes querem um relacionamento mais profundo com seu médico.

"Sou médica de cuidados primários, por isso tenho relações com as pessoas ao longo do tempo... Como médicos, não somos técnicos que se encarregam de máquinas complexas. Estamos cuidando de seres humanos e sabemos por pesquisas que os pacientes querem ser vistos como pessoas de forma íntegra", afirmou a diretora em declarações à CNA, agência em inglês do Grupo ACI.

Além disso, Collier assinalou o exemplo de Cicely Saunders, uma enfermeira inglesa e fundadora da medicina paliativa, que sustentou que no trato com o paciente confluem quatro dinâmicas: física, social, psicológica e espiritual, e afirmou que abordar somente a metade dessas necessidades é reconhecer apenas a metade da pessoa.

"Os pacientes têm necessidades sociais e espirituais. De fato, essas necessidades podem confluir no físico. Por exemplo, pacientes que têm necessidades espirituais não reconhecidas e não tratadas no final da vida... podem sofrer dores físicas constantes", afirmou.

Segundo o artigo, os professores das faculdades de medicina indicaram que há uma falta de capacitação e ensino que forme futuros médicos para conversar sobre espiritualidade. Do mesmo modo, assinalaram que 78% dos estudantes de medicina disseram que raramente ou nunca viram seus instrutores discutirem religião com seus pacientes.

A Associação de Colégios Médicos Americanos (AAMC), composta por 155 colégios médicos credenciados nos Estados Unidos e no Canadá, exigiu um conjunto básico de "competências espirituais" para que os estudantes realizem sua educação médica. Para AAMC, a espiritualidade é a busca individual de significado por meio da participação em "religião e / ou crença em Deus, a família, o naturalismo, o racionalismo, o humanismo e as artes".

Collier disse que muitas escolas de medicina têm um plano de estudos de espiritualidade e descreveu o currículo da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan.

Nesse sentido, a docente assinalou como exemplo a avaliação FICA, um questionário que avalia as crenças, o propósito e a comunidade de um paciente. Segundo o programa, a Faculdade oferecerá atores que desempenham o papel de pacientes, para que os alunos façam perguntas sobre espiritualidade. No entanto, Collier afirmou que médicos e instrutores devem viver esse exemplo com pacientes reais, embora esse seja um assunto raramente discutido.

Nesse sentido, assinalou que no passado era tabu para os médicos discutir a história sexual de um paciente, apesar de ser um aspecto essencial para entender a saúde física do paciente; e que, da mesma forma, os médicos não abordarão a questão da espiritualidade, porque é muito particular ou considerada não relacionada à assistência médica.

"De certa forma, a história espiritual é paralela à história sexual. Durante anos, a história sexual foi considerada 'fora dos limites' no encontro clínico, talvez por ser muito particular ou não relevante para a maioria dos médicos, ou talvez porque os médicos se sentiam incômodos falando de uma ampla gama de comportamentos sexuais", assinalou o artigo de 19 de maio.

Por sua vez, Collier aconselhou os médicos a começarem com um questionário, como a avaliação espiritual do FICA, para apresentar esse importante tema. Mas, assinalou que, eventualmente, seria necessário transcender a um questionário, pois uma interação humana profunda vai além do papel e conhecer a pessoa em um sentido completo, ajudará os médicos a compreenderem melhor como tratar seus pacientes.

"Acho que isso ocorre de uma maneira melhor em uma relação e, por isso, mantenho uma relação com meus pacientes... O que dá sentido a sua vida? Essa pergunta geralmente pode abrir caminho para que conheçam muitas crenças realmente importantes de seus pacientes", afirmou Collier. "[Estas perguntas] podem ajudar a informar suas decisões quando se trata do fim da vida ou de seus objetivos de conversa no cuidado", acrescentou.

Do mesmo modo, destacou a importância da fé em sua própria vida e como isso lhe deu uma perspectiva valiosa sobre o tratamento dos pacientes. Além disso, afirmou que é responsabilidade dos médicos dar um exemplo de prática médica que respeite a dignidade humana.

"Vejo pacientes feitos à imagem de Deus e quero poder cuidar de tudo o que lhes causa angústia e poder contar com a minha equipe para poder cuidar disso", disse Collier.

"Como educadores em medicina, temos a responsabilidade de ensinar nossos estudantes de medicina, residentes e companheiros como fornecer uma atenção integral às pessoas, porque isso honra a sua dignidade. E sabemos que os pacientes querem ser vistos como algo mais que sua doença ou sua biologia", concluiu.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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