PORTO PRÍNCIPE, Jun 26, 2020 / 13:30 pm
O Arcebispo de Miami (Estados Unidos), Dom Thomas Wenski, juntou-se aqueles que exigem que o governo de Donald Trump interrompa as deportações de haitianos em meio à pandemia da COVID-19, devido ao risco de disseminação da doença no pobre país do Caribe.
"Preocupa-me que as deportações de indivíduos potencialmente positivos de COVID-19 piorem o surto" e levem a "uma crise humanitária de proporções épicas", escreveu o Prelado em uma carta assinada em 19 de junho.
A carta foi endereçada ao Secretário de Estado, Mike Pompeo; Secretário Interino do Departamento de Segurança Nacional, Chad Wolf; e ao embaixador dos EUA no Haiti, Michele Sison.
"A capacidade do sistema de saúde do Haiti para responder aos casos do COVID-19 já está no seu limite, o que torna o possível influxo de novos casos especialmente perigoso. Peço que detenham as deportações de pessoas para o Haiti neste momento durante a COVID-19, no interesse da saúde pública e da estabilidade desse país", foi o pedido do Arcebispo, cujo ministério pastoral está associado à comunidade haitiana há décadas, tanto na Flórida como no Haiti.
Dom Wenski enfatizou que o bem-estar do Haiti é de extrema importância. "Um aumento contínuo da infecção poderia destruir uma economia já enfraquecida e exacerbar a instabilidade política", escreveu, acrescentando que essas condições "exacerbariam os fatores de pressão" que obrigam os haitianos a abandonarem o Haiti por causa do desespero "em relação ao trabalho, segurança e sobrevivência".
Em 25 de junho de 2020, o Haiti tinha 5.429 casos confirmados de COVID-19 e 92 mortes relatadas, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde. Por sua vez, os Estados Unidos registram 2.336.615 casos e 121.117 mortes, segundo estatísticas do CDC atualizadas em 24 de junho.
O Arcebispo Wenski comentou que, devido à capacidade limitada de testes nos Estados Unidos, o Departamento de Segurança Nacional e Imigração e Controle de Aduanas (ICE) "não pode garantir que todos os detidos sejam examinados".
"Como resultado, certos centros de detenção do ICE se tornaram locais de surtos da COVID-19. Com o passar das semanas e meses, estamos vendo um aumento significativo nos casos de COVID-19 entre os detidos do ICE e os funcionários do centro de detenção", assegurou o Prelado.
O meio arquidiocesano Florida Catholic informou que várias organizações missionárias católicas e representantes de Catholic Relief Services também alertaram nos últimos meses para a possibilidade de um surto incontrolável de COVID-19 no Haiti.
"Os especialistas em saúde do Haiti estimaram que o país, com 11 milhões de pessoas, tem apenas 39 médicos para enfrentar a COVID-19, 124 leitos de UTI e a capacidade de ventilar 62 pessoas. E o Haiti já está abalado com a memória do terremoto de 2010, uma epidemia mortal de cólera, o furacão Matthew em 2016 e uma turbulência política e eleitoral nos últimos anos", lembrou Dom Wesnki.
"Existe um precedente para suspender temporariamente os voos de deportação para o Haiti devido a dificuldades extremas", escreveu o Arcebispo sobre o que aconteceu após o terremoto de 2010.
"Existem medidas mais rígidas para proteger os interesses dos Estados Unidos, como monitorar e libertar os detidos para se refugiarem com suas famílias no local, em vez de deportá-los para um país que já está sufocado sob um sistema sobrecarregado", acrescentou o Arcebispo de Miami.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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