5 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal Pell revela sua experiência na prisão por um crime que não cometeu

Cardeal George Pell | Alexey Gotovskiy - ACI Prensa

O Cardeal George Pell, Prefeito Emérito da Secretaria para a Economia do Vaticano, absolvido de várias acusações de abuso sexual na Austrália, decidiu compartilhar sua experiência em uma prisão da Austrália, onde esteve preso de dezembro de 2018 até a sua libertação em abril de 2020.

"Há muita bondade aqui nas prisões. Tenho certeza de que, às vezes, as prisões podem ser um inferno na terra. Tive a sorte de me manter seguro e de ser bem tratado. Fiquei impressionado com o profissionalismo dos guardas, com a fé dos prisioneiros e a existência de um sentido moral, mesmo nos lugares mais escuros", contou o Purpurado em uma coluna de opinião publicada recentemente pela First Things.

O Cardeal Pell contou que ficou em isolamento por 13 meses, 10 na prisão de avaliação de Melbourne e 3 na prisão de Barwon. Depois de uma longa batalha legal, foi absolvido de todas as acusações em abril deste ano.

"Em Melbourne, o uniforme da prisão era um traje verde, mas em Barwon me deram as cores vermelhas brilhantes de um cardeal. Fui condenado em dezembro de 2018 por crimes sexuais históricos contra crianças, apesar da minha inocência e da incoerência no caso apresentado pelo Promotor da Coroa contra mim. Finalmente (em abril deste ano), o Supremo Tribunal da Austrália anulou minhas condenações em uma sentença unânime. Enquanto isso, cumpria minha sentença de seis anos", disse o Purpurado.

Em Melbourne, o Cardeal morava na cela 11, unidade 8, no quinto andar, e, segundo relata, sua cela tinha sete ou oito metros de comprimento e cerca de dois metros de largura: "o suficiente para minha cama, que tinha uma base firme, um colchão não muito grosso e dois cobertores", disse.

Em sua cela, "à esquerda, ao entrar, havia prateleiras baixas com chaleira, televisão e espaço para comer. Do outro lado do corredor estreito havia uma bacia de água quente e fria e um chuveiro com boa água quente. Ao contrário de muitos hotéis chiques, havia uma lâmpada de leitura eficiente na parede acima da cama. Como meus joelhos foram substituídos alguns meses antes de entrar na prisão, inicialmente usei uma muleta e me deram uma cadeira mais alta de hospital, o que foi uma bênção", descreveu o Cardeal Pell.

Além disso, explicou que, como "os regulamentos de saúde exigem que cada prisioneiro tenha uma hora do lado de fora por dia", ele podia sair ao ar livre duas vezes ao dia por 30 minutos.

"Em nenhum lugar da Unidade 8 havia vidro transparente, para que eu pudesse diferenciar o dia da noite, muito menos na minha cela. Eu nunca vi os outros onze prisioneiros", disse, mas acrescentou que os escutava.

"A unidade 8 tinha doze pequenas celas ao longo de uma parede externa, com prisioneiros 'barulhentos' em uma extremidade. Estive no extremo de 'Toorak', nomeado assim por causa de um subúrbio rico de Melbourne, exatamente igual ao extremo barulhento, mas geralmente sem batidas e gritos, sem angústia e raiva, de pessoas frequentemente destruídas por drogas, especialmente a metanfetamina cristalina".

"Ficava impressionado por quanto tempo podiam bater com os punhos, mas um guarda me explicou que eles chutavam com os pés como cavalos. Alguns inundavam suas celas ou as sujavam. De vez em quando, o esquadrão de cães era chamado ou alguém tinha que ser gaseado. Na minha primeira noite, pensei ter ouvido uma mulher chorando; outro prisioneiro estava ligando para a sua mãe", contou o Cardeal.

Também contou que esteve isolado para a sua própria proteção "já que os condenados por abuso sexual de crianças, especialmente clérigos, são vulneráveis ​​a ataques físicos e abuso na prisão".

"Fui ameaçado dessa maneira apenas uma vez, quando estava em uma das duas áreas de exercício adjacentes, separadas por um muro alto, com uma abertura na altura da cabeça. Enquanto eu caminhava pelo perímetro, alguém cuspiu em mim através do cabo da abertura e começou a me condenar. Foi uma surpresa total, então voltei furiosamente à janela para enfrentar meu agressor e repreendê-lo. Ele escapou da minha vista, mas continuou me condenando. Após minha repreensão inicial, permaneci em silêncio, embora mais tarde reclamei que não iria me exercitar se esse cara fosse ficar ao lado. Um dia depois, o supervisor da unidade me disse que o jovem infrator havia sido transferido porque havia feito algo pior a outro prisioneiro", continuou o Purpurado.

Além disso, contou que em outras ocasiões, "das 16h30 às 7h15 da manhã, fui denunciado por outros prisioneiros na Unidade 8".

"Uma tarde, ouvi uma discussão feroz sobre a minha culpa (...) A opinião sobre minha inocência ou culpa ficou dividida entre os prisioneiros, como na maioria dos setores da sociedade australiana, embora os meios de comunicação com algumas exceções esplêndidas tenham sido muito hostis", afirmou.

Depois, disse que "um correspondente que tinha passado décadas na prisão escreveu que eu era o primeiro sacerdote condenado que ele tinha ouvido falar e que tinha apoio entre os prisioneiros. E recebi apenas bondade e amizade dos meus três companheiros de prisão na Unidade 3, em Barwon. A maioria dos guardas das duas prisões reconheceu que eu era inocente".

"A antipatia entre os prisioneiros em relação aos autores de abuso sexual juvenil é universal no mundo de língua inglesa, um exemplo interessante de lei natural que emerge na escuridão. Todos temos a tentação de desprezar aqueles que definimos como piores que nós. Inclusive os assassinos compartilham o desdém por aqueles que estupram jovens. Por mais irônico que seja, esse desdém não é totalmente ruim, já que expressa uma crença na existência do bem e do mal, e que muitas vezes aparece nas prisões de maneiras surpreendentes", refletiu.

O Purpurado indicou que "a linguagem na prisão era grosseira e repetitiva", mas que "raramente" escutava "maldições ou blasfêmias". "O prisioneiro que consultei achou que esse fato era mais um sinal de crença do que um sinal da ausência de Deus", acrescentou.

O Cardeal Pell reconheceu que "como a maioria dos sacerdotes", seu trabalho o colocou "em contato com uma grande variedade de pessoas, de modo que os prisioneiros não me surpreenderam muito".

Os guardas foram uma surpresa agradável. Alguns eram amigáveis, um ou dois podiam ser hostis, mas todos eram profissionais. Se tivessem ficado decididamente em silêncio, como ficaram os guardas durante meses quando o Cardeal Thuận esteve em confinamento solitário no Vietnã, a vida teria sido muito mais difícil", disse.

Em outra parte de sua coluna, o Cardeal Pell disse que, depois de perder seu apelo ao Supremo Tribunal de Victoria, considerou não apelar diante da Suprema Corte Australiana "considerando que, se os juízes simplesmente já tinham seu parecer, não precisavam cooperar numa farsa tão custosa".

"O chefe da prisão de Melbourne, um homem maior que eu e um cara honesto, exortou-me a perseverar. Fiquei animado e continuo agradecendo a ele", revelou o Purpurado.

O Cardeal Pell também recordou a manhã de 7 de abril, quando a televisão nacional transmitiu o anúncio de sua sentença no Supremo Tribunal.

"Vi na minha cela, no Canal 7, como um jovem jornalista surpreso informava a Austrália sobre a minha absolvição e ficou ainda mais perplexo com a unanimidade dos sete juízes. Os outros três prisioneiros da minha unidade me parabenizaram e logo fui libertado a um mundo confinado pelo coronavírus. Minha viagem foi estranha. Dois helicópteros de imprensa me seguiram de Barwon ao Convento de Carmelitas em Melbourne, e no dia seguinte, dois carros de imprensa me acompanharam os 880 quilômetros até Sydney", contou.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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