14 de dezembro de 2024 Doar
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Presidente da Grécia pede ajuda ao Papa para defender a Basílica de Santa Sofia

Basílica de Santa Sofia. | Pixabay

O Papa Francisco conversou por telefone com a presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, sobre a decisão do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de converter a histórica Basílica de Santa Sofia em Constantinopla em uma mesquita.

Na ligação entre o Pontífice e a mandatária grega, realizada em 20 de julho, a presidente Sakellaropoulou pediu ao Pontífice que "use a sua influência para advertir a comunidade internacional sobre a conversão de Santa Sofia em mesquita", segundo afirmou em uma mensagem publicada no perfil oficial da presidente.

Na conversa, "destaquei que esta decisão da Turquia corrói os fundamentos da tolerância e aprofunda a brecha entre culturas e religiões".

Segundo um comunicado divulgado posteriormente pelo governo grego, Sakellaropoulou afirmou que "essa ação não é um assunto interno da Turquia, mas uma questão mais ampla pela qual a comunidade internacional deve expressar sua condenação de maneira direta" e definiu a medida como um "erro".

A Basílica de Santa Sofia foi construída no século VI por ordem de Justiniano I, imperador do Império Romano de Oriente, sobre construções anteriores da época de Teodósio II e de Constantino I. Em 1453, após a conquista Otomana dos últimos restos do império, a basílica converteu-se em uma mesquita. Em 1935, depois de alguns anos fechada, foi transformada em museu como símbolo da nova república turca, em oposição ao desaparecido império otomano.

O presidente Erdogan, de ideologia islamista, nunca escondeu sua intenção de devolver o culto islâmico à basílica como parte de seus planos de revitalização da Turquia como nação islâmica. A decisão foi tomada em 10 de julho, depois que a justiça turca declarou ilegal a transformação do templo em museu.

A consagração do templo ao culto islâmico exclusivo está prevista para 24 de julho, para o qual os ricos mosaicos cristãos bizantinos, que representam a Cristo Pantocrator e a Nossa Senhora, serão cobertos por causa de sua incompatibilidade com a oração muçulmana. Esses mosaicos já permaneceram ocultos durante séculos embaixo de uma capa de cal.

Por enquanto, o trabalho se concentrará em encontrar um sistema que permita ocultar temporariamente um mosaico da Virgem com o Menino acompanhados pelo Arcanjo São Gabriel, que está na semi-abóbada da ábside principal da basílica, logo acima do Mihrab que assinala em direção à cidade de Meca e de onde o imã conduzirá a oração.

No domingo passado, 12 de julho, durante a oração do Ângelus do Palácio Apostólico do Vaticano, o Papa Francisco disse que se sentia "muito triste" por Santa Sofia. Em resposta, Erdogan convidou o Santo Padre para a cerimônia de reabertura de Santa Sofia como mesquita.

A mudança no status neutro de Santa Sofia piorou as relações já abaladas entre o governo turco e as autoridades religiosas cristãs ortodoxas. A Igreja Ortodoxa Grega, cuja sede está localizada precisamente em Constantinopla, assinalou que o uso da basílica como "um troféu e um símbolo de conquista" gera "fortes protestos e frustrações entre os cristãos de todo o mundo, além de prejudicar a Turquia de diversos modos".

Além disso, o Metropolita Hilarion, chefe do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou, alertou que "qualquer tentativa de modificar o estado atual de Santa Sofia, que agora é um museu, violará os frágeis equilíbrios inter-religiosos que foram mantidos até agora. "

Por sua vez, o Conselho de Igrejas do Oriente Médio emitiu uma declaração na qual indica que transformar Santa Sofia em uma mesquita é "um ataque contra a liberdade religiosa", dado "o simbolismo histórico que a Igreja de Santa Sofia representa".

O patriarca caldeu, Cardeal Louis Raphael Sako, disse à agência Asia News que esse movimento é "muito triste e doloroso" e lamentou que " o presidente turco não tenha considerado o respeito pelos sentimentos dos bilhões de cristãos no mundo, esquecendo o que eles fizeram pelos muçulmanos".

"Essa decisão contraria a tolerância entre as religiões, enquanto é imperativo buscar o diálogo para espalhar a tolerância e a convivência entre diversas religiões".

Embora o apoio a esta decisão de Erdogan seja majoritário no mundo islâmico, alguns muçulmanos também levantaram suas vozes lamentando a mudança no status quo de Santa Sofia.

Em nota divulgada pela agência Fides, três intelectuais muçulmanos turcos, seguidores da corrente islâmica reformista kemalista, Nazif Ay, Mehmet Ali Öz e Yusuf Dülger, definiram como "um erro grave e irresponsável" eliminar a neutralidade religiosa de Santa Sofia garantida pelo seu funcionamento como museu.

A conversão de uma igreja construída por cristãos ortodoxos em uma mesquita "ofenderá os não-muçulmanos e dará espaço à islamofobia e ao ódio contra o islã", asseguraram os intelectuais turcos.

Mas, talvez a declaração islâmica mais importante contra a abertura de Santa Sofia como mesquita seja a do secretário-geral do Alto Comitê para a Fraternidade Humana, Mohamed Abdel Salam, que também é conselheiro especial do grão-imã de Al Azhar, Ahmed Al Tayeb, autoridade máxima dentro do Islã sunita.

Abdel Salam assinou uma carta dirigida ao Presidente Erdogan, na qual reclama que Santa Sofia continue sendo um "local de abertura, de encontro e de inspiração para pessoas de todas as nações e religiões".

Além disso, exige "evitar as divisões e promover o respeito e a compreensão recíproca entre todas as religiões".

Esta carta acompanha uma declaração do Alto Comitê, na qual se pede evitar "qualquer passo que prejudique o diálogo inter-religioso e a comunicação intercultural e que possa criar tensões e ódio entre os fiéis das diferentes religiões, confirmando a necessidade que a humanidade tem de dar prioridade aos valores da convivência".

Os locais de culto, continua o comunicado, não devem "ser usados ​​de maneira a contribuir para a segregação e a discriminação em um momento em que o mundo tem a necessidade de dar resposta ao chamado de solidariedade humana e fortalecer os valores de convivência".

O Alto Comitê para a Fraternidade Humana é um organismo composto por representantes de diferentes religiões criados à raiz do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi, em 4 de fevereiro de 2019, pelo Papa Francisco e Ahmed Al Tayeb.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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