18 de dezembro de 2024 Doar
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Advertem que presidente islâmico da Turquia poderia provocar "choque de civilizações"

Santa Sofia, Istambul | Domínio Público

Um partido político islâmico na Indonésia advertiu que os chamados do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para um "despertar" islâmico em meio à reconversão de Santa Sofia como mesquita podem levar a um choque de civilizações.

Um tweet recente de Erdogan "convocou os muçulmanos 'em todos os cantos do mundo' a seguir a liderança da Turquia no despertar da nação islâmica, ou ummah, que esteve unida em grande medida sob a liderança política e militar de um califado desde o século VII até a dissolução do califado otomano em 1924", disse o Partido Nacional do Despertar em um comunicado de 21 de julho.

Declarações recentes do presidente turco "estão atacando a ordem internacional baseada em regras; exacerbando emoções 'onde quer que os muçulmanos morem por toda a terra'; e ameaçam reacender um conflito de civilizações que afligiu a humanidade por quase 1.300 anos, ao longo de uma linha divisória que se estende desde Bukhara (na Ásia Central) até Al-Ándalus (Espanha)'', acrescentou o comunicado.

Enquanto "o Presidente Erdogan defendeu a conversão de Santa Sofia em uma mesquita, citando o direito da Turquia, como um estado nação soberano, de fazer o que bem entender com a antiga catedral cristã ortodoxa, os efeitos do chamado do presidente a um despertar islâmico 'se estendem' muito além das fronteiras da Turquia e ameaçam às nações de maioria muçulmana e não muçulmanas em todo o mundo", disse o Partido Nacional do Despertar.  

Santa Sofia, a igreja da "Santa Sabedoria", foi construída em 537 durante o Império Bizantino e serviu como Catedral do Patriarca de Constantinopla. Manteve-se como o maior edifício conhecido do mundo e a maior igreja cristã, por um longo período de tempo.

Em 1453, os exércitos turcos saquearam Constantinopla e a igreja se converteu em uma mesquita. Em 1934, o gabinete do então líder turco Mustafa Kemal Ataturk, chefe de um governo secularista, transformou a mesquita em um museu e a abriu para visitantes de todo o mundo.

Em 2 de julho de 2020, um tribunal turco decidiu que a conversão de Santa Sofia de mesquita para museu em 1934 foi ilegal. A decisão foi anunciada em 10 de julho e Erdogan anunciou mais tarde que Hagia Sophia, como também é conhecido o templo histórico, se tornaria novamente uma mesquita.

Erdogan fez seu anúncio em um longo discurso repleto de referências históricas, geográficas e religiosas ao velho mundo islâmico, conectando a reconversão de Hagia Sophia com um "renascimento islâmico" muito mais amplo.

Em seu discurso, o líder turco previu que a reconversão de Santa Sofia anunciaria a libertação da mesquita de al-Aqsa no Monte do Templo, na cidade velha de Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do Islã.

Elizabeth Prodromou, ex-vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos, disse à CNA, agência em espanhol do grupo ACI, em 17 de julho, que o discurso do presidente tinha como objetivo "justificar o que ele [Erdogan] vê como uma espécie de destino religioso, e também um modelo geopolítico para a Turquia do revisionismo e expansionismo ".

Erdogan escolheu especificamente essas "figuras históricas" para promover a profundidade da história da Turquia e "estender às tribos turcas da Ásia Central até o Império Otomano", disse.

Foi um discurso "anunciando a libertação do mundo muçulmano completo", disse Prodromou.

Os líderes cristãos e políticos de todo o mundo condenaram a decisão de reconverter Santa Sofia. Os líderes ortodoxos e católicos declararam um dia de luto pela decisão em 24 de julho.

Por sua vez, o Partido Nacional do Despertar disse que "as declarações de Erdogan foram rapidamente respaldadas pela Irmandade Muçulmana, pelo Irã e por uma ampla gama de supremacistas islâmicos em todo o mundo, incluindo muçulmanos indonésios que tentam transformar a República multi-religiosa e pluralista da Indonésia em uma ilha islâmica. Estado ou califado".

"O mundo islâmico encontra-se no meio de uma crise de rápida metástase, sem sinais aparentes de remissão. Entre as manifestações mais óbvias dessa crise estão os conflitos brutais que agora se estendem por uma vasta faixa de território habitado por muçulmanos, da África e do Oriente Médio às fronteiras da Índia; turbulência social desenfreada em todo o mundo islâmico; a disseminação descontrolada do extremismo religioso e do terror; e uma maré crescente de islamofobia entre populações não muçulmanas, em resposta direta a esses eventos", afirmou o partido.

Essa crise, acrescentou o comunicado, causou problemas humanitários em muitas partes do mundo e aumentou a radicalização militante islâmica.

"Em meio a essas circunstâncias, é o cúmulo da irresponsabilidade que Recep Erdogan inflame ainda mais as emoções muçulmanas na busca de sua agenda política interna e sirva para encobrir sua violação das normas internacionais, mediante a perfuração de gás natural dentro das águas territoriais de Chipre e Grécia; apoiando a al-Nusra (afiliada da al-Qaeda) na Síria; e sua intervenção no conflito líbio em nome do governo interino dominado pelos islamitas, em um esforço para aumentar o poder regional turco e reforçar os direitos marítimos no Mediterrâneo oriental", afirmou o partido.

O Partido Nacional do Despertar foi fundado na Indonésia em 1999 e possui 47 das 560 cadeiras na câmara legislativa do país. É geralmente identificado como um partido centrista e está alinhado com os partidos centristas democratas-cristãos da Europa.

Na semana passada, o xeque indonésio Yahya Cholil Staquf, líder da maior organização muçulmana independente do mundo, condenou as "campanhas de assassinato em massa, deslocamento e terror que ameaçam romper os laços de confiança já gravemente enfraquecidos que permitem a vida comunitária entre muçulmanos e não-muçulmanos".

Staquf é o secretário-geral de Nahdlatul Ulama da Indonésia, a maior organização muçulmana do mundo, com mais de 90 milhões de seguidores. Ele também co-fundou um movimento global que promove um "Islã humanitário" que evita as ideias de um califado, a lei islâmica e o "kafir" ou infiéis.

Em um ensaio de 7 de julho em Public Discourse, pediu "uma estratégia abrangente para desenvolver uma nova ortodoxia islâmica que reflita as circunstâncias reais do mundo moderno em que os muçulmanos devem viver e praticar sua fé".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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