18 de dezembro de 2024 Doar
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A Igreja deve proclamar a verdade frente à polêmica lei de bioética, diz bispo francês

Foto referencial. Crédito: Unsplash

Na França, o Bispo Marc Aillet rejeitou o projeto de bioética aprovado pela Assembleia Nacional, que coloca o "sofrimento psicossocial" como causa para o aborto, e assinalou que frente a isso a Igreja deve cumprir sua missão profética de proclamar a verdade sobre o homem e o desígnio de Deus para sua criação.

Foi o que indicou Dom Marc Aillet, Bispo de Bayonne, Lescar e Oloron (França), em um texto publicado no dia 15 de agosto no site de sua diocese intitulado "A missão profética da Igreja: sobre a aprovação do projeto de lei da bioética pela Assembleia Nacional".

A Assembleia Nacional da França, uma das duas câmaras que compõem o parlamento, aprovou no dia 1º de agosto um projeto de lei que acrescentaria o aborto por causa de "sofrimento psicossocial", como parte da Lei de Bioética.

Na França, o aborto ou interrupção voluntária da gravidez (IVG, na sigla em francês) é permitido até a 12ª semana de gestação, enquanto a interrupção médica da gravidez (IMG) pode ser realizada em qualquer momento da gestação sob certos critérios médicos.

A Assembleia também aprovou a procriação medicamente assistida (PMA) financiada pelo estado para casais de lésbicas, assim como a modificação genética de embriões para a pesquisa.

Dos 577 membros da Assembleia Nacional, apenas 101 deputados participaram do debate, ou seja, apenas 17,5% do total. Destes, 60 votaram a favor das emendas e 37 contra; os outros quatro se abstiveram.

Para o Prelado, essa escassa participação de legisladores "poderia ​aparecer como um escândalo" para aprovar e "endossar o que deve ser denunciado como uma 'ruptura antropológica maior'".

"Alguns deputados corajosos da oposição defenderam, com argumentos pertinentes, o direito do filho a ter pai e mãe, assim como a inviolável dignidade do embrião humano, e que seria irracional, do ponto de vista da ciência, não o reconhecer como um ser humano inteiro. Alguns poucos deputados da maioria, não menos corajosos, também ousaram votar contra o projeto de lei", continuou.

"O Governo aproveitou o descanso do verão e o relaxamento dos franceses, bastante compreensível após as medidas de confinamento, para aprovar este projeto de lei frente à indiferença geral. Os grandes meios de comunicação têm sido misteriosamente discretos sobre isso nestes dias", lamentou o Bispo.

Um dos perigos deste projeto, continuou, é que os embriões humanos com os quais se pretende fazer experiências "possam ser reduzidos a 'ratos de laboratório'" e isso pode abrir a porta para a "fabricação de embriões transgênicos e até quiméricos, abolindo assim, de certa forma, a fronteira entre o homem e o animal".

Sobre a interrupção da gravidez por "sofrimento psicossocial", Dom Aillet lembrou que "todo aborto é infanticídio de criança sem voz". É, como diz o Papa São João Paulo II na encíclica Evangelium vitae, "a supressão deliberada de um ser humano inocente".

Perante esta realidade e perante a pressão dos poderosos, o Prelado destacou "a missão profética da Igreja que é precisamente proclamar, a tempo e a destempo, a verdade sobre o homem da qual é depositária por mandato divino".

Dom Aillet afirmou que "a missão profética da Igreja é alertar a humanidade hoje e alertar contra a tentação da autodestruição", recordando que "não somos donos da vida humana, desde a concepção até a morte natural" visto que o dono da vida é Deus. É preciso também advertir que "opor-se impunemente ao plano do Criador pode causar sérios danos ao futuro da humanidade".

"Esta é a razão fundamental para a nossa defesa da dignidade da pessoa humana, começando pelos mais pequenos e vulneráveis".

Para o Bispo francês, a missão profética da Igreja não consiste em "procurar ser ouvida segundo os critérios do mundo, mas em falar à consciência do povo, esse santuário íntimo onde ressoa a voz de Deus que manda a todo homem fazer o bem e evitar o mal".

"A missão profética da Igreja consiste também em lembrar a gravidade moral deste projeto de bioética quando decide privar os filhos do direito de ter um pai e uma mãe".

"Não se trata de julgar ou condenar pessoas que, muitas vezes sem querer e sob pressão do meio ambiente ou sendo abusadas por propagandas lisonjeiras e enganosas, passam a utilizar esses meios para satisfazer um desejo legítimo de um filho ou para evitar outros males. O Senhor conhece seus corações e está sempre pronto para fazer sua Misericórdia. Mais um motivo para alertá-los e acompanhá-los com caridade, mas na Verdade".

O Prelado especificou que "aqueles que, conhecendo a gravidade moral dessas práticas, por demagogia eleitoral ou ideologia, promulgam leis injustas que se impõem a todos, são mais culpados. Santo Tomás de Aquino disse que uma lei civil que não está em conformidade com a lei natural e a lei divina "é mais violência do que lei".

O bispo recordou que o projeto de lei deve ir ao Senado, por isso ainda é "necessário continuar alertando as consciências, principalmente os senadores que irão examiná-lo".

O Projeto de Bioética retorna ao Senado francês para uma segunda leitura, onde poderá ser novamente emendado, antes de ser submetido a votação por uma comissão mista das duas câmaras no final de 2020. No entanto, a decisão da Assembleia Nacional é final quando não se pode chegar a um consenso.

Dom Aillet explicou que a missão profética da Igreja também tem a ver com "o combate espiritual. O que está em jogo é o desígnio redentor e criador de Deus, ao qual se opõe claramente 'o chamado diabo ou Satanás' desde o início dos tempos.

"Trata-se, sem dúvida, de lutar com todos os recursos humanos que temos à nossa disposição como cidadãos responsáveis".

"Trata-se também, para nós, fiéis da Igreja Católica, de lutar com as armas espirituais tradicionais: a Palavra profética - que, como a de Jesus, pode afastar as trevas e expulsar os demônios - a oração, em particular o Terço, e o jejum".

Por último, o Bispo sublinhou que "o Senhor busca almas de oração e de sacrifício para fazer parte corajosamente deste combate".

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Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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