21 de novembro de 2024 Doar
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Novos detalhes sobre o caso Becciu e o Cardeal se pronuncia sobre as acusações

Cardeal Becciu. | Daniel Ibáñez / ACI Prensa

A renúncia do Cardeal Angelo Becciu, aceita nesta quinta-feira, 24 de setembro, pelo Papa Francisco, após uma série de informações publicadas pela Catholic News Agency (CNA), agência em inglês do grupo ACI, sobre os escândalos financeiros no quais estaria envolvido o até ontem, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, revelou novos detalhes sobre os motivos últimos que levaram o Pontífice a pedir a demissão do Purpurado de 72 anos.

Segundo as investigações, o Cardeal Becciu teria usado milhões de euros de fundos de caridade do Vaticano em investimentos especulativos e de risco. O dinheiro proveniente das finanças do Vaticano e da Conferência Episcopal Italiana teria beneficiado projetos dirigidos pelos irmãos do Cardeal.

As principais acusações contra o Cardeal Becciu referem-se ao período em que atuou como Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano entre 2011 e 2018, ano em que o Papa Francisco o nomeou Cardeal e o nomeou Prefeito da Congregação para as Causas do Santos.

De acordo com informações divulgadas pela CNA, 200 milhões de dólares foram usados ​​para financiar a compra pela Secretaria de Estado de um imóvel de luxo na Sloane Avenue, em Londres. Parte desses 200 milhões teria sido obtida por meio de um empréstimo concedido pelo BSI, um banco suíço om uma longa trajetória de violação das salvaguardas contra lavagem de dinheiro e fraude.

Além disso, de acordo com um recente artigo publicado pelo semanário italiano L'Espresso, o cardeal Becciu entregou ao financista Enrico Crasso, ex-diretor do Credit Suisse, o controle de milhões de euros de fundos de investimento do Vaticano da Secretaria de Estado e do fundo de caridade do Óbolo de São Pedro.

Crasso também é diretor do Centurion Global Fund, um fundo de investimento empregado pela Secretaria de Estado com vínculos com bancos suíços investigados ou implicados em subornos e escândalos de lavagem de dinheiro.

Segundo informou CNA, trata-se do mesmo fundo com o qual a Secretaria de Estado do Vaticano investiu milhões de euros, incluindo dinheiro do Óbolo de São Pedro.

Os relatórios mostram que, embora os fundos mútuos tenham perdido dinheiro, seus administradores, incluindo Crasso, ganharam milhões em comissões. O fundo de investimento Centurion está sob investigação por parte das autoridades do Vaticano desde dezembro de 2019.

Segundo a informação publicada por L'Espresso, Crasso direcionou o dinheiro do Vaticano para fundos altamente especulativos com baixas margens de retorno e estabelecidos em paraísos fiscais. Nessa mesma informação, detalha-se que o Cardeal Becciu usou dinheiro do Óbolo de São Pedro para financiar projetos de três de seus irmãos.

L'Espresso cita, especificamente, que o Cardeal Becciu obteve doações da Conferência Episcopal Italiana no valor de 300 mil euros destinados à cooperativa Spes entre 2013 e 2015.

A Cooperativa Spes é o braço operacional da Cáritas Diocesana da Diocese de Ozieri, na Sardenha, à qual pertencia o Cardeal. O responsável e representante legal da Cooperativa Spes é um dos irmãos do cardeal Becciu.

Em 2018, o Cardeal entregou a Spes a quantia de 100 mil euros do Óbolo de São Pedro, que era controlado por ele quando era Substituto do Secretário de Estado.

Sobre a denúncia, o Cardeal Becciu assegurou nesta sexta-feira, 25 de setembro, em uma entrevista coletiva em Roma, que esses 100 mil dólares não foram tocados e ainda estão no fundo da Cáritas da diocese de Ozieri.

"Pareceu-me estranho que esse dinheiro fosse absorvido pela Cooperativa, tanto que, quando cheguei em casa, liguei para o meu irmão pelo telefone, liguei para o Bispo, e disseram-me, 'não, os 100 mil estão aí, no fundo da Cáritas, ainda não usamos, porque estamos pensando em fazer um projeto importante para os pobres'. Portanto, não entendo que esteja sendo acusado de peculato ou de favorecer minha família, meu irmão. Porque o dinheiro ainda está lá".

Em um comunicado de 24 de setembro, o Bispo de Ozieri e presidente da Cáritas Diocesana, Dom Corrado Melis, afirmou que esta instituição "nunca se beneficiou" de favores duvidosos ou ilegítimos e que "nunca usaram um centavo" de fundos destinados a obras de caridade para propósitos diferentes dessa finalidade.

Por outro lado, o Cardeal Becciu também intercedeu, segundo informações publicadas, em favor de outro irmão quando era Núncio em Angola e, posteriormente, em Cuba. Nesse período, contratou-se a empresa de carpintaria do irmão do Cardeal para mobiliar e reparar as igrejas em ambos os países.

O Cardeal Becciu também teria ajudado a conseguir clientes para a empresa Angel's srl, uma distribuidora de alimentos e bebidas da qual outro irmão do Cardeal é o sócio majoritário e representante legal.

Em um comunicado divulgado nesta sexta-feira, 25, a família do Cardeal Becciu afirma que as notícias que denunciam que o Cardeal Becciu favoreceu seus irmãos são "infundadas, maliciosas e falsas, em particular as referências imaginativas e não comprovadas da concessão de doações do Óbolo de São Pedro".

Segundo as informações, os grandes lucros das empresas dos irmãos Becciu teriam sido reinvestidos em produtos financeiros, ações e em valores de refúgio de baixo risco. Os rendimentos gerados por estes investimentos foram, por sua vez, reinvestidos em fundos de investimento do Secretário de Estado, como o Fundo Centurión.

Por meio de Crasso, o Cardeal Becciu também teria entrado em contato com Lorenzo Vangelisti, diretor-geral do Valeur Group, empresa de gestão de ativos, assessoria, comércio e imobiliária.

Vangelisti esteve envolvido na compra pelo Vaticano da propriedade da Sloane Avenue, em Londres, junto com o diretor de ações da Valeur, Alessandro Noceti, que trabalhava para a Suisse Credit em Londres.

O Cardeal Becciu, segundo informou a CNA no ano passado, também foi acusado de contratar sua sobrinha, Maria Piera Becciu, como secretária pessoal do Pe. Franco Decaminada, ex-presidente de um hospital italiano também ligado a um escândalo financeiro no Vaticano.

Decaminada foi detido em 2013 e enviado para a prisão por seu envolvimento na fraude massiva e corrupção causadas pelo colapso do Instituto Dermopático da Imaculada.

Conforme informou CNA em 2019, o Cardeal Becciu também foi acusado de tentar disfarçar os empréstimos nos balanços do Vaticano, cancelando-os contra o valor da propriedade comprada no bairro londrino de Chelsea, uma manobra contábil proibida pelas novas políticas financeiras aprovadas pelo Papa Francisco em 2014.

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A suposta tentativa teria sido detectada pela Prefeitura de Economia, então liderada pelo cardeal George Pell. Altos funcionários do secretariado disseram à CNA que quando o cardeal australiano pediu para ver os detalhes dos empréstimos, o Cardeal Becciu o chamou à Secretaria de Estado para uma "reprimenda".

Na coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira em Roma, o Cardeal Becciu afirmou que se sente "atordoado. Tudo me parece surreal, mas tento ser realista. É uma coisa surreal porque ontem, até as 18h02, me sentia amigo do Papa, fiel servidor do Papa. E, depois, o Papa, falando, me diz que não tem mais confiança em mim porque os magistrados assinalaram que eu havia cometido atos de peculato".

Além disso, assegurou que renova sua confiança no Santo Padre. "Eu lhe prometi fidelidade até o final e, inclusive, ao criar-me Cardeal, prometi dar a vida pela Igreja e pelo Papa, e eu não o trairei jamais, sou fiel e estou preparado para dar minha vida por eles".

Segundo assegurou, ainda não recebeu nenhuma comunicação da justiça das acusações contra ele.

Por outro lado, o Vaticano ainda não se pronunciou sobre as razões que levaram à renúncia do Cardeal Becciu. Após a coletiva de imprensa do Cardeal, nenhum comunicado ou declaração da Santa Sé foi divulgada.

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