Vaticano, Oct 22, 2020 / 12:20 pm
Desde o dia 31 de agosto, Dom Tadesuz Kondrusiewicz, Arcebispo de Minsk e presidente dos Bispos da Bielorrússia, não pode retornar ao seu país. Naquele dia, ele tentou voltar para sua diocese procedente da Polônia, onde tinha ido para uma celebração, e foi bloqueado na fronteira. A desculpa oficial: seu passaporte não era válido.
Em declarações à ACI Prensa – agência em espanhol do Grupo ACI –, Dom Kondrusiewicz assinalou que "a Santa Sé está fazendo importantes esforços para resolver este problema".
Nos dias 19 e 20 de outubro, o Arcebispo esteve no Vaticano para se encontrar com o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e com o Secretário do Vaticano para as Relações Internacionais, Dom Paul Richard Gallagher, para discutir sua situação pessoal e a de seu país.
O bloqueio de Dom Kondrusiewicz é uma situação complicada em decorrência do contexto de atentados aos direitos humanos e às liberdades que este país do Leste Europeu sofre após os protestos contra os resultados das eleições presidenciais ocorridas em 9 de agosto e que culminaram em a vitória do atual presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994.
O veto ao retorno do Arcebispo de Minsk surpreendeu os fiéis e as autoridades religiosas da Igreja Católica, pois Dom Tadesuz Kondrusiewicz tinha mantido conversas positivas com o governo, havia organizado encontros inter-religiosos de oração e pregado a reconciliação, em um país com fortes divisões internas.
Na entrevista, o Arcebispo bielorrusso se mostrou muito preocupado porque "a situação na Bielorrússia é muito difícil, às vezes, crítica. Mas ainda me preocupam alguns lemas que vejo e ouço: 'Recordamos, não perdoamos'. Esta não é uma maneira cristã de pensar". "Sem perdão", explicou, "não há caminho para a reconciliação, não há caminho para a paz".
O problema, insistiu, é que "nossa sociedade bielorrussa foi educada primeiro no espírito do ateísmo e, hoje, no espírito do secularismo, não reconhece a perspectiva espiritual, mas apenas a material, a do prazer".
"Hoje, graças a Deus, não temos um ateísmo ideológico e militante, mas temos um ateísmo materialista. Hoje ninguém persegue a Igreja, mas há uma perseguição à religião cristã com luva branca, porque muitos parlamentos aprovam leis contrárias à lei divina".
Dom Kondrusiewicz enfatizou que os encontros inter-religiosos são uma forma de ajudar na reconciliação. "A última vez que o organizamos, já durante a crise, foi fenomenal".
"Havia muitas pessoas: cristãos católicos, cristãos ortodoxos, greco-católicos, protestantes, judeus, muçulmanos. A igreja estava cheia e eu estava observando essas pessoas. Percebi que uma mulher muçulmana na segunda fila rezava muito intensamente. E foi um encontro de oração organizado apenas um dia antes seguindo o convite da Justiça e Paz Europa a todos os cristãos da Europa para rezar juntos o Pai-Nosso para pedir uma solução pacífica para a crise sócio-política na Bielorússia".
"Não houve tempo para enviar um convite formal, exceto por internet. E apesar disso, todos vieram. Não organizei este encontro só para a Igreja Católica, mas para todos, e todos deram uma resposta".
"Este encontro criou uma sinfonia interconfessional e inter-religiosa que é o símbolo de uma nova sociedade aberta a todas as confissões. Isso é muito importante porque consolida. Todas as religiões e confissões estão juntas e rezam juntas pelo mesmo objetivo, pela solução pacífica do problema".
Em sua opinião, esses encontros inter-religiosos podem ser uma resposta à secularização da Europa. "Acho que é um sinal positivo para toda a Europa. Naquele encontro de oração que reuniu tantas confissões, rezamos juntos".
Finalmente, negou que a Igreja faça política na Bielorrússia. "A Igreja na Bielorrússia nunca enviou mensagens políticas nem foi marcada politicamente. Só proclamou a lei de Deus e a doutrina social da Igreja Católica. Não fazemos política, de forma alguma. Esse não é nosso objetivo. Nosso objetivo é anunciar o Evangelho".
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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