22 de dezembro de 2024 Doar
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Quais seriam as repercussões de um eventual governo Biden para a agenda do aborto e LGBT na América Latina?

Joe Biden. Crédito: Gage Skidmore (CC BY-SA 2.0).

Embora tenha se declarado "católico", Joe Biden, o presidente virtualmente eleito dos Estados Unidos, não ocultou a sua afinidade com a agenda do aborto e do coletivo LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgênero).

Planned Parenthood Action Fund, braço político da multinacional de aborto Planned Parenthood Federation of America, qualificou Biden e sua candidata a vice-presidente, Kamala Harris, de "campeões da saúde reprodutiva".

Um artigo do jornal norte-americano The Washington Post de agosto deste ano lembra como Joe Biden e Kamala Harris "trabalharam" a favor do casamento gay.

Na verdade, Biden, como vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo Barack Obama, "casou" um casal de homossexuais que trabalhava na Casa Branca.

Diversos meios de comunicação informaram em 7 de novembro que Joe Biden foi o vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, após cinco dias de contagem e uma disputa acirrada em todo o país.

O presidente Donald Trump não admitiu a vitória do democrata e anunciou recursos legais para exigir a recontagem em vários estados. No entanto, a vitória do candidato do Partido Republicano seria muito difícil de ser alcançada e a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) reconheceu Biden como o vencedor.

"Uma má notícia para a defesa da vida e da família"

Em diálogo com ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Luis Losada Pescador, diretor de campanhas de CitizenGO na América Latina, alertou que se a vitória de Biden fosse finalmente confirmada pelas instituições competentes nos Estados Unidos, "seria uma má notícia para a defesa da vida e da família na América latina".

"Provavelmente a política da Cidade do México seria revogada voltando a financiar ONGs como a Planned Parenthood, que sem nenhuma vergonha realiza ingerência ideológica em nossos países para legalizar o aborto", disse.

Estabelecida em 1984 pelo presidente Ronald Reagan, a "Política da Cidade do México", que leva o nome da cidade em que foi anunciada, determina que as organizações não governamentais estrangeiras não podem receber financiamento de fundos públicos se realizarem ou promoverem o aborto como um método de planejamento familiar.

Nos anos que se seguiram, a política da Cidade do México tornou-se o emblema da postura do novo presidente sobre o aborto. Os presidentes que chegam geralmente revogam ou restabelecem esta política durante sua primeira semana no cargo, simbolizando a posição que assumirão sobre as questões do aborto durante seu mandato.

O presidente Bill Clinton revogou essa política em 22 de janeiro de 1993. George W. Bush a restabeleceu em 22 de janeiro de 2001. Barack Obama a revogou novamente em 23 de janeiro de 2009, recebendo críticas do Vaticano.

Em 23 de janeiro de 2017, Donald Trump restabeleceu a política da Cidade do México, mais uma vez cortando o financiamento dos EUA para organizações não governamentais que realizam ou promovem o aborto no exterior.

Losada advertiu que, como aconteceu no governo de Obama, "também regressariam os embaixadores especiais LGBT para 'exportar' ideologia de gênero: 'matrimônio' e adoção gay, 'mudança' de sexo no registro e doutrinamento de gênero nas escolas".

"Além disso, o viés de cooperação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) seria claramente ideológico e interferente". "Por isso que a vitória de Biden seria uma má notícia para a região", frisou.

Os milhões de dólares do aborto

International Planned Parenthood Federation (IPPF), matriz de Planned Parenthood Federation of America, a Fundação Mexicana para o Planejamento Familiar (Mexfam) e a Associação Pró-Bem-estar da Família Colombiana (PROFAMILIA), entre outras, reconhece que graças à Política da Cidade do México perdeu 100 milhões de dólares durante a administração Trump.

Segundo a multinacional do aborto, entre 2017 e 2020 perdeu 1,2 milhão de dólares para seus projetos na Colômbia, 500 mil dólares para a República Dominicana, outros 500 mil dólares para El Salvador, 600 mil dólares para seus trabalhos na Guatemala, 500 mil dólares para Honduras e 60 mil dólares para o Panamá, entre outros.

Em 2014, sob o governo de Barack Obama, USAID assinou convênios de cinco anos com a IPPF e também com a multinacional do aborto Marie Stopes, por mais de 71 milhões de dólares e 74 milhões de dólares, respectivamente.

Ao ser obrigada a cumprir a Política da Cidade do México, novamente implementada em 2017 por Donald Trump, a USAID interrompeu os convênios com a IPPF e Marie Stopes e as multinacionais de aborto tiveram que interromper seus projetos.

Entre 2002 e 2006, com a aplicação da Política da Cidade do México durante o governo do republicano George W. Bush, a International Planned Parenthood Federation estima que perdeu 116 milhões de dólares.

Agenda do aborto e da ideologia de gênero "desde o primeiro dia de seu governo"

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Rodrigo Iván Cortés, presidente da Frente Nacional pela Família do México, indicou que o impacto de um governo Biden nos temas da vida, da família e das liberdades fundamentais "poderia ser visto desde o primeiro dia de seu governo".

Cortés advertiu que além da promoção do aborto e da ideologia de gênero nos Estados Unidos, assim como a supressão da Política da Cidade do México, Biden apoiaria a "agenda agressiva" especialmente "no sistema interamericano de direitos humanos" da Organização dos Estados Americanos (OEA), especificamente na Corte e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

"O que veremos é que se intensificará a agenda do aborto, a ideologia de gênero contra a família e as restrições às liberdades fundamentais como a liberdade religiosa e a dos pais para educar seus filhos. É muito evidente que assim será", assegurou.

No caso do México, assinalou, "ocorreria maior pressão ou sinergia com os atores que buscam os mesmos objetivos de cultura da morte, ideologia de gênero e restrição das liberdades fundamentais".

Críticas à "auréola de catolicismo" de Biden

O presidente da Frente Nacional pela Família do México criticou a precipitada colocação de "uma auréola de catolicismo em Biden quando ele defende tudo o que é contrário" aos princípios "inegociáveis" estabelecidos por Bento XVI em 2006. Estes são a proteção da vida em todas as suas etapas, o reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre o homem e a mulher baseada no matrimônio, e a proteção do direito dos pais à educação dos filhos.

Para Cortés, a presidência de Biden terá um impacto cultural, porque "vai haver uma distorção do que é ser católico na vida pública e vai se generalizar a ideia de que é possível ser católico, político e promover sem piedade e misericórdia o assassinato de inocentes em sua etapa mais vulnerável, que se pode andar promovendo o casamento do mesmo sexo, e toda a ideologia de gênero".

Marcial Padilla, diretor da plataforma mexicana ConParticipación, concordou que, com um governo Biden, "Planned Parenthood e outras organizações abortistas enviariam fundos para a pressão política e nos meios de comunicação contra o direito à vida".

Padilla indicou que "a companheira da chapa de Joe Biden, a senadora Kamala Harris, falou e agiu claramente em favor da agenda progressista, do aborto e da ideologia de gênero"; e quando foi fiscal distrital da Califórnia "perseguiu investigadores que expuseram o negócio de venda de restos humanos da Planned Parenthood", liderados por David Daleiden.

"Pensar que o governo Biden-Harris seria favorável ao direito à vida ou aos valores familiares porque Joe Biden é católico seria contrário aos dados disponíveis agora. Em vez disso, devemos esperar uma ação intensa por parte do governo dos Estados Unidos, tanto na política interna de seu país quanto no exterior", afirmou.

Julia Regina de Cardenal, presidente da Fundação 'Sim à Vida de El Salvador', destacou que se Biden e Harris forem declarados vencedores das eleições nos Estados Unidos, "virá um imenso investimento para nossos países 'menos desenvolvidos' para promover a indústria do aborto, facilitar seus serviços ao que eles chamam de saúde reprodutiva e também impor a ideologia de gênero".

"Biden disse que é católico, mas é pró-aborto", disse a líder pró-vida, assinalando que Kamala Harris foi "qualificada como a senadora mais liberal, 'progressista', extremista de esquerda, anti-vida e até chegou a questionar a capacidade da juíza Amy Coney Barrett por suas crenças religiosas. É isso que eles chamam de tolerância e progresso?".

Sara Larín, fundadora da Fundação 'VIDA SV' de El Salvador, destacou que o governo de Donald Trump "realizou mais de vinte ações a favor da causa pró-vida, fez nomeações importantes em seu gabinete, protegeu o direito à objeção de consciência de profissionais de saúde, protegeu crianças em escolas públicas abolindo os banheiros trans, concedeu aos estados liberdade de escolher se querem ou não financiar a Planned Parenthood e liderou muitas iniciativas internacionais destinadas a respeitar a soberania de outros países, especialmente aqueles em desenvolvimento, para proteger sua autodeterminação em assuntos internos como o aborto".

"Como salvadorenhos pró-vida, denunciamos que a fórmula presidencial Biden-Harris tem como prioridade urgente reverter a Política da Cidade do México, pois significaria que, mais uma vez, El Salvador terá que se defender de todas as ações a favor da despenalização do aborto que serão financiadas com o dinheiro dos norte-americanos", disse.

"Um ponto de alerta para todo o movimento pró-vida"

Jesús Magaña, presidente de 'Unidos pela Vida' de Colômbia, destacou que "definitivamente para o movimento pró-vida no continente sua ascensão ao poder é muito preocupante, especialmente por causa do claro apoio que recebeu da IPPF".

"Seria um ponto de alerta para todo o movimento pró-vida", disse, já que Biden foi apoiado por "indústrias fortemente abortistas" nos Estados Unidos.

Este apoio, indicou, permite prever que um governo de Biden e Harris tenderá "para a promoção de todas as políticas de aborto não só nos Estados Unidos, mas em todos aqueles aspectos internacionais em que o governo dos Estados Unidos possa ter alguma influência".

Raúl Magnasco, presidente da 'Mais Vida' de Argentina, alertou que "a eventual confirmação de Joe Biden como próximo presidente dos Estados Unidos significaria um retrocesso para a Argentina, como para os demais países que costumam receber pressões de organismos internacionais, assim como das organizações de aborto, para implementar legislação contrária à vida e à família".

"Historicamente, na alternância bipartidária dos Estados Unidos, o Partido Democrata desempenha um papel de 'esquerda', sem poder considerar o mesmo como socialista puro, mas carregando seus governantes no poder de retrocessos legislativos como aborto, eutanásia, drogas, perseguição da fé e reducionismo dos valores pátrios e tradicionais em geral", assinalou.

O impulso econômico dos Estados Unidos, alertou, "pode ​​afetar muito as fracas estruturas políticas de países como a Argentina".

O diretor da Frente Nacional pela Família no Equador, Erwin Ronquillo, disse à ACI Prensa que o possível governo de Biden e Harris "abriria uma porta perigosa para a promoção da agenda do aborto e da limitação das liberdades".

"No Equador, mais de 80% dos cidadãos são contra o aborto, por exemplo. No entanto, nos últimos anos, vários ativistas locais em conjunto com grupos de poder, financiados por ONGs e algumas organizações internacionais, pressionam para legalizá-lo, apesar do fato de que nossa constituição claramente proíbe isso".

Ronquillo destacou que "embora tenhamos conseguido resistir aos ataques (...), não é menos verdade que o freio que o governo republicano colocou na ajuda internacional ao aborto liderada pela transnacional IPPF ajudou muito nessa causa".

"É por isso que um eventual governo democrata daria uma carta aberta para que grandes fluxos de fundos voltem a fluir para as filiais locais da IPPF, para buscar impor a agenda abortista internacional sobre nossa normativa soberana", assinalou.

"Vamos continuar lutando"

María Lourdes Varela, diretora de '40 Dias pela Vida' na América Latina, destacou que "dos Estados Unidos não só vem um mau exemplo pró-aborto, mas também recursos para promover o aborto em nossos países, para nos convencer de matar nossos próprios filhos".

Diante disso, afirmou, Donald Trump "tem demonstrado e cumprido seu eleitorado com a defesa da vida nos Estados Unidos e isso impacta automaticamente no mundo inteiro".

Porém, "o movimento pró-vida, as atividades pró-vida, nada têm a ver com um presidente ou candidato. Sabemos que temos tudo contra nós, mas principalmente em '40 Dias pela Vida' acreditamos que com Deus tudo é possível".

Varela destacou que "não importa quem ganhe, vamos continuar lutando nos Estados Unidos, no México e no mundo para que o aborto seja algo impensável no mundo".

Diego López Marina contribui com esta matéria.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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