BEIRUTE, Nov 18, 2020 / 13:01 pm
O provincial dos Padres Carmelitas Descalços do Líbano, Pe. Raymond Abdo, defendeu as raízes cristãs deste país do Oriente Médio e desmentiu o discurso político do grupo terrorista Hezbollah de que a terra do Líbano era muçulmana.
Em entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), o Pe. Abdo indicou que o Líbano "é cristão pelas suas raízes com Jesus Cristo", o que se reflete no símbolo do país, o cedro, "como símbolo da sua existência eterna".
"Os cedros do Líbano são os cedros com que Salomão fez o templo de Deus, porque o cedro tem cheiro parecido ao incenso. É uma árvore que pode viver 2 mil anos, são símbolo da eternidade", acrescentou.
O sacerdote destacou que, como a Terra Santa, as "mudanças demográficas do tempo não devem influenciar" a realidade da base cristã do Líbano, e lamentou que atualmente exista um discurso político do Hezbollah "que diga falsamente que a terra do Líbano era muçulmana. Eles querem até criar uma república islâmica no Líbano".
O Hezbollah, grupo islâmico xiita nascido no Líbano em 1982, recebe apoio do Irã e é classificado como organização terrorista pela União Europeia, Estados Unidos e outros países.
Em suas declarações à ACN, o sacerdote explicou que "a importância dos cristãos do Líbano não é apenas numérica, os números podem mudar muito, mas a essência desta Igreja é muito importante e simbólica".
Pe. Abdo destacou que a comunidade cristã no Líbano tem suas origens no tempo de Jesus Cristo, e destacou que atualmente no país é a Igreja Maronita, que nasceu no século IV - V de São Maron, a maior comunidade.
"Essa comunidade vivia primeiro na Síria, em uma região próxima ao Líbano. Nos séculos VIII e IX, esta comunidade buscou paz e refúgio no Líbano, fugindo das perseguições dos jacobitas. Desde então, existe uma comunidade maronita que se distingue por uma identidade muito forte de fidelidade a Roma, ao Papa", indicou.
O sacerdote assinalou que fora do país também existe uma grande comunidade libanesa, principalmente no Brasil, onde vivem quase seis milhões de fiéis.
"Também existe uma grande comunidade na Argentina, no México, no Chile, em todos os países da América Latina, mas a maioria está no Brasil. Nos Estados Unidos são mais de dois milhões", acrescentou.
Além disso, indicou que o grande número de pessoas fora do Líbano é uma prova do que o país tem sofrido, onde genocídios como o dos drusos contra os cristãos em 1840 e 1860 levaram vários cidadãos a deixar o país.
"Acredito que quando o Senhor pede a essas pessoas que saiam do Líbano, é para dar um testemunho, é para divulgar a palavra de Deus, a experiência de Cristo", frisou.
Da mesma forma, o sacerdote comentou sobre a situação dos imigrantes no país, que vivem em pelo menos dez campos de refugiados.
"Eles têm sua lei, estão protegidos, têm legislação particular no país, mas contribuem para a desestabilização do Líbano porque também há terroristas entre eles que buscam refúgio nesses campos", lamentou.
Pe. Abdo destacou que a situação econômica do país é crítica e que ao nível das infraestruturas não conseguem lidar com o número de imigrantes que se encontram no país, o que tem levado a uma deficiência no fornecimento de energia elétrica.
"A infraestrutura do país é muito pequena e as pessoas são muito numerosas. Essa é a causa de uma crise econômica, de problemas sociais muito grandes e de tensões políticas que não se sabe para onde irão", frisou.
Finalmente, indicou que a crise de saúde devido ao coronavírus agravou a difícil situação no Líbano.
ACN indicou que está realizando uma campanha de "cinco milhões de euros para a reconstrução do país depois da terrível explosão de 4 de agosto", que deixou mais de 200 mortos, mais de seis mil feridos e 300 mil casas destruídas.
Na tarde de 4 de agosto, a explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio em um depósito no porto de Beirute deixou grande parte da cidade destruída. A magnitude foi tão grande que chegou a ser sentida a 240 quilômetros de seu epicentro, na ilha de Chipre.
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Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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