22 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal Pell expressa surpresa com a extensão da criminalidade no Vaticano

Cardeal Pell em uma imagem de arquivo. | Daniel Ibáñez / ACI Prensa

O Cardeal George Pell, ex-prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, disse que ficou surpreso com a aparente extensão da "criminalidade" envolvida nos recentes escândalos financeiros vaticanos.

Em uma recente entrevista concedida à Associated Press (AP), o Cardeal lamentou que seus esforços para implementar, durante o tempo em que esteve a cargo da Secretaria da Economia (entre 2014 e 2017), mecanismos rigorosos para garantir a transparência financeira e a responsabilidade contábil sejam justificados precisamente agora que os detalhes dos recentes escândalos saíram à luz.

O Cardeal Pell declarou à AP que sabia, desde o momento em que o Santo Padre o colocou no comando de parte da agenda da reforma da Cúria, que havia "um pouco de desordem nas finanças do Vaticano".

No entanto, assegurou que "jamais, jamais pensei que seria tão expressivo, como foi demonstrado". "Eu não sabia que poderia haver tanta criminalidade envolvida", assegurou.

Até 2017, o Cardeal Pell fez numerosos esforços, a pedido do Papa Francisco, para colocar ordem e responsabilidade nas finanças do Vaticano, que por um longo período se desenvolveram sem procedimentos, controles ou supervisões centralizadas.

O Purpurado afirmou ter descoberto centenas de milhões de euros "fora dos livros" das contas ordinárias do Vaticano.

Os esforços do Cardeal Pell encontraram resistência institucional de vários oficiais da Cúria e departamentos. Especialmente midiático foi o caso do Cardeal Angelo Becciu, agora afastado da Cúria pelo Papa e forçado a renunciar aos seus privilégios cardinalícios.

Becciu, na época em que o Cardeal Pell estava encarregado da Secretaria de Economia, era o substituto da Secretaria de Estado do Vaticano. Ocupando este cargo, o Cardeal Becciu cancelou uma auditoria externa contratada pelo Cardeal Pell para as finanças de todos os departamentos do Vaticano.

Segundo CNA, agência em inglês do Grupo ACI, ambos os purpurados discutiram por vários assuntos financeiros, em particular, pelo uso por parte do Cardeal Becciu de um banco suíço para realizar diferentes investimentos posteriormente ocultados dos balanços do Vaticano, como a polêmica compra de apartamentos em Londres.

Desde pelo menos 2018, de forma discreta, mas exaustiva, o Vaticano investigou a emaranhada rede de investimentos e transações realizada pela Secretaria de Estado e na qual estaria envolvido um grupo de empresários e oficiais da Cúria vinculados a investimentos relacionados com a operação imobiliária em Londres.

Em 24 de setembro, o Papa afastou o Cardeal Becciu por causa dos indícios contra ele que o colocam no centro da trama de uso ilícito de dinheiro da Igreja para, entre outras coisas, beneficiar parentes ou para influenciar no resultado do Julgamento por abusos sexuais na Austrália contra o Cardeal Pell, julgamento no qual foi inicialmente condenado e finalmente absolvido.

Becciu negou todas essas acusações, inclusive processou um dos jornais que o investigou. Por sua vez, na entrevista à AP, o Cardeal Pell disse sobre as acusações contra Becciu que "pelo bem da Igreja, espero que não haja nada".

"Na verdade, digo isso com toda a sinceridade, porque, como algumas pessoas na Austrália me disseram, minha própria família: 'Uma coisa é que seja a máfia, ou outras pessoas, que te persigam, e outra muito pior é que (a perseguição) seja de dentro da Igreja'".

O Cardeal, neste sentido, mostrou-se convencido de que a verdade virá à tona: "Acho que vamos descobrir, se há algo ou não". "Certamente, a festa ainda não acabou".

Enquanto isso, a investigação das autoridades vaticanas continua. Na semana passada, a polícia encontrou centenas de milhares de euros em dinheiro em duas casas de Fabrizio Tirabassi, funcionário leigo da Secretaria de Estado até sua suspensão, junto com outros funcionários, no ano passado.

O Cardeal Pell declarou à AP que os contínuos escândalos financeiros parecem mostrar um comportamento criminoso. No entanto, um julgamento no Vaticano terá que oferecer toda a verdade. "Poderíamos estar diante de uma incompetência surpreendente".

"Seria melhor para a Igreja que essas coisas não tivessem acontecido, que não se mostrasse que eu tinha razão desta forma. Mas, já que aconteceram, fica muito claro" que sua agenda original de reforma era necessária.

Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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