27 de dezembro de 2024 Doar
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Vaticanista adverte censura de meios ao Papa Francisco quando fala do aborto

Papa Francisco. Crédito: Vatican Media

O vaticanista italiano Sandro Magister criticou que quando o Papa Francisco fala em aborto, especialmente em vista da tentativa do governo argentino de legalizar essa prática, sofre a censura de alguns meios de comunicação, incluindo o L'Osservatore Romano, jornal do Vaticano.

Em seu blog Settimo Cielo, Magister publicou no dia 14 de dezembro um post que começa com algumas palavras do Santo Padre que estão no livro "Sonhemos Juntos", que foi colocado à venda no dia 1º de dezembro: "Sou consciente de que escutar um Papa voltar sobre este tema chateará a muitos".

"Realmente, é assim. Cada vez que toca este tema, Francisco não goza de forma alguma de boa imprensa. Além disso, é sistematicamente ignorado", assegura Magister, que lembra que há poucos dias os deputados argentinos aprovaram a lei do aborto por 131 votos a favor, 117 contra e 6 abstenções. Agora a norma será votada no final do mês no Senado.

No livro "Sonhemos Juntos", o Papa afirma: "Não posso ficar calado sobre os mais de 30-40 milhões de nascituros que, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde, são descartados todos os anos através do aborto. É terrível constatar que em muitas regiões consideradas desenvolvidas, essa prática é frequentemente incentivada porque os filhos que vão nascer são deficientes ou não foram planejados. Mas a vida humana nunca é um fardo. É preciso dar-lhe espaço, não a descartar".

"O aborto é uma grave injustiça. Nunca pode ser uma expressão legítima de autonomia e poder. Se nossa autonomia exige a morte de outros, então nossa autonomia nada mais é do que uma jaula de ferro. Costumo me fazer duas perguntas: É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? E é justo contratar um assassino de aluguel para resolver um problema?", continua.

"Meu predecessor, São Paulo VI, advertia em sua carta encíclica de 1968, 'Humanae vitae', sobre a tentação de considerar a vida humana como um objeto entre muitos, sobre o qual os poderosos e as pessoas instruídas podem exercer seu domínio. Que profética é a sua mensagem agora! Hoje, o diagnóstico pré-natal é rotineiramente utilizado para filtrar aqueles que são considerados fracos ou inferiores", enfatiza o Papa no livro.

Magister recorda que isso "não acaba aqui. Em 1° de dezembro, durante um congresso argentino realizado em streaming no qual se discutia a lei do aborto, o sacerdote José María 'Pepe' Di Paola, pároco da periferia de Buenos Aires e amigo de longa data de Bergoglio, disse que havia recebido uma carta de Roma" do Papa.

Nela, o Santo Padre dizia-lhe que "para mim, a distorção na compreensão do aborto surge, sobretudo, quando este assunto é considerado uma questão religiosa. A questão do aborto não é fundamentalmente religiosa. É um problema humano e não uma opção religiosa. É preciso enfrentar a questão do aborto cientificamente".

Pe. Pepe Di Paola acrescentou "que o Papa enfatizou a palavra 'cientificamente'".

As perguntas sobre o assassino de aluguel que resolve "um problema" foram repetidas pelo Papa em uma carta escrita a mulheres de um bairro popular de Buenos Aires, preocupadas com a possível legalização do aborto, e posteriormente em uma carta a um grupo de ex-alunos na Argentina, em 1º de dezembro.

Magister explica que "o Papa quer demostrar que se preocupa em ir ao fundo das questões e falar diretamente ao mundo, sem se envolver na luta política, especialmente na política argentina".

"Em particular, para Bergoglio é urgente evidenciar o seu duplo distanciamento: da ex-presidente peronista Cristina Fernandez de Kirchner, com quem diz que 'não tem nenhum contato' desde que deixou o cargo, e de Juan Grabois, organizador de primeiro nível dos 'movimentos populares' tão amados pelo Papa e a quem nomeou assessor do dicastério vaticano para o serviço do desenvolvimento humano integral", indica Magister.

"A razão - escreve - desse distanciamento é que tanto um como o outro nos fazem crer que estão mais próximos do Papa e são mais seus amigos do que realmente são. Com o resultado de que os meios de comunicação acabam atribuindo a mim, Francisco, não 'o que digo', mas 'o que dizem que digo'", continua.

Magister depois lamenta que, em relação ao Papa Francisco, "os meios de comunicação primeiro o exaltam, depois o censuram, dependendo do que ele diz. Até o L'Osservatore Romano ignorou totalmente as cartas autografadas do Papa citadas nesta página [Settimo Cielo], com seus pronunciamentos contra o aborto".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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