Vaticano, Dec 18, 2020 / 10:30 am
O vaticanista italiano Sandro Magister fez algumas precisões ao afirmar que o Papa Francisco é censurado nos meios de comunicação quando fala sobre o aborto, após receber uma carta do filósofo argentino José Arturo Quarracino, sobrinho do Cardeal Antonio Quarracino, predecessor do Santo Padre na Arquidiocese de Buenos Aires, na Argentina.
Segundo Quarracino, escreve Magister, "é verdade que o Papa Francisco fala duramente contra o aborto, mas o faz de tal forma que suas palavras não ressoam nos grandes meios de comunicação, que assim não sofrem nenhum tipo de censura, por isso ele se adapta voluntariamente a esse silêncio".
Em sua publicação intitulada "Não censura, mas silêncio calculado. Uma carta da Argentina sobre o Papa e o aborto", Magister indica que "se, de fato, o Papa quisesse que as suas palavras contra o aborto tivessem um impacto maior no público, porque – pergunta-se Quarracino - ele não as pronuncia em um Ângelus, em uma grande audiência pública, como faz com suas numerosas iniciativas em defesa da natureza ou dos migrantes, e não em cartas particulares que nem mesmo 'L'Osservatore Romano' informa?".
Na carta que enviou a Magister, Quarracino lembra que quando o presidente da Argentina, Alberto Fernández, prometeu legalizar o aborto - que já tem meia sanção porque foi aprovado na Câmara dos Deputados e que no final do mês será votado no Senado - "nesse momento a hierarquia católica fez uma única afirmação contrária, mas muito branda e 'sem luta'".
"Em segundo lugar, no final de janeiro deste ano, o presidente argentino foi recebido em visita oficial por Francisco, em clima de generosa cordialidade. Naquela ocasião, não só os dois nem sequer se referiram à decisão abortista de Alberto Fernández, como também Dom Marcelo Sánchez Sorondo celebrou uma Missa escandalosa na cripta onde estão os restos mortais de São Pedro, dando-lhe a comunhão, apesar de sua confessada 'fé' abortista e sua decisão de promover a pena de morte pré-natal", escreve Quarracino.
Em 31 de janeiro, o chanceler da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, o Bispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, presidiu uma Missa nas grutas da Basílica de São Pedro antes da reunião de Fernández com o Papa Francisco. Nessa Missa, Dom Sánchez Sorondo deu a Eucaristia a Fernández.
"Com isso, ficou claro que o primeiro magistrado argentino iria avançar decisivamente com seu projeto, e que a hierarquia eclesiástica, argentina e vaticana, apresentaria uma oposição branda, reafirmando sua postura pró-vida e... nada mais", continua o filósofo.
O sobrinho do Cardeal Quarracino indica posteriormente que embora o Papa se pronuncie sobre o aborto com "formulações doutrinariamente justas e precisas", também se sabe da "cooperação do Pontífice com o Conselho para o Capitalismo Inclusivo, como se fosse o capelão daquele empreendimento da grande plutocracia internacional, com empresas e personagens que em sua totalidade foram responsáveis pela implementação do maior genocídio conhecido na história da humanidade, o dos nascituros".
Quarracino destaca que, desta forma, "Bergoglio compromete sua participação em um empreendimento político-econômico, associado com aqueles que implementaram e executaram o genocídio que ele mesmo critica. Quer dizer: crítico nas palavras contra o aborto, mas parceiro de ações com os promotores do aborto. Não é um pouco esquizofrênico?".
Na opinião do filósofo, essa forma de se expressar repete-se na carta que o Papa enviou às mulheres das cidades argentinas e a seus ex-alunos no país sul-americano.
"Se a posição [do Papa] fosse contundente, o que ele deveria fazer, e ainda há tempo, é escrever pública e oficialmente, em papel timbrado, cartas ao presidente e à vice-presidente argentina Cristina Kirchner, expressando sua rejeição total e absoluta, com o mesmo método que utilizou com as mulheres, com o padre Pepe [di Paola, um sacerdote das villas] e com seus ex-alunos", diz Quarracino.
"Também poderia - e deveria fazê-lo - pedir orações para que a Argentina enfrente com sucesso a ofensiva genocida em curso, tanto nas audiências de quarta-feira quanto no Ângelus de domingo. Se ele se compromete publicamente com outras temas - o meio ambiente, os imigrantes, a desigualdade econômica global - por que não o faz nesta questão, que é mais importante do que as mencionadas?", continua o filósofo em sua carta a Magister.
Quarracino posteriormente afirma que "talvez seja verdade" que o Papa "nunca teve um relacionamento" com Cristina Kirchner "depois que deixou de ser presidente, mas o que Bergoglio não diz é que foi ele quem geriu pessoalmente, em 2014, o encontro e vínculo dela com o sinistro George Soros, que é o principal operador político e financeiro da atual ofensiva abortista nos últimos anos na Argentina" e em vários outros lugares do mundo.
"Foi a partir dessa época que se tornou famosa a sua exortação aos argentinos que o visitavam para 'cuidar de Cristina'. Cuidar de Cristina Kirchner para que ela seja agora a principal e fundamental promotora no Senado argentino para a aprovação da lei genocida. É a ela que se deve escrever oficial e publicamente os conceitos expressos em forma particular", acrescenta Quarracino.
Cristina Kirchner é atualmente a vice-presidente da Argentina e presidente do Senado, onde os 72 senadores votarão a lei do aborto a partir do próximo dia 29 de dezembro, dia seguinte à celebração na Igreja da memória dos Santos Inocentes, crianças menores de dois anos assassinadas pelo rei Herodes.
Em agosto de 2018, o Senado rejeitou a lei com 38 votos. 31 votaram a favor, 2 abstiveram-se e 1 estava ausente. Neste 2020, em caso de empate, Cristina Kirchner tem voto de qualidade e tudo parece indicar que votaria pela legalização do aborto.
Quarracino considera que, se o Papa não escrever a Cristina Kirchner de forma oficial e pública, "estaremos perante uma montagem para encobrir uma cumplicidade de fato, embora pareça –e só isso até agora– uma oposição total. Até agora, é uma oposição aparente, dissimulada com fórmulas teóricas".
"Fazer negócios com os donos do Poder Mundial- os Rothschilds, os Rockefellers, a Fundação Ford, etc. - não é grátis. Pedem o sangue de quem pode pôr em perigo o seu 'reinado' mundialista, como Herodes", conclui José Arturo Quarracino.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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