Abuja, Dec 22, 2020 / 10:00 am
O bispo de Gboko (Nigéria), Dom William Avenya, disse aos membros do Congresso, no dia 17 de dezembro, que o mundo não deveria ignorar o "genocídio" enfrentado pelos cristãos no país.
Dom Avenya testemunhou na quinta-feira em uma audiência sobre "Conflitos e Assassinatos no Cinturão Médio da Nigéria" da Comissão de Direitos Humanos Tom Lantos, uma comissão parlamentar bipartidária.
"O assassinato em massa de cristãos no cinturão médio da Nigéria, segundo todos os padrões, cumpre com os critérios para ser definido como um genocídio calculado segundo a Convenção sobre Genocídio", ressaltou.
O Prelado indicou que "é deprimente que nossa região do Cinturão Médio tenha realmente se tornado um vale de lágrimas, uma região onde enterros em massa são muito comuns".
O Cinturão Médio é uma região fértil que se estende pela parte central da Nigéria e, nos últimos anos, tem sido palco de uma crescente violência, onde muitas aldeias agrícolas em um local predominantemente cristão foram atacadas.
O International Crisis Group assinalou que houve uma média de mais de 2 mil mortes por ano, entre 2011 e 2016, no Cinturão Médio.
O subsecretário do Escritório de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho do Departamento de Estado, Robert Destro, indicou que 600 pessoas morreram no Cinturão Médio este ano, número quase seis vezes maior do que no norte do país.
Cristãos e muçulmanos na Nigéria têm sofrido um número crescente de ataques violentos por militantes Fulani e grupos terroristas como o Estado Islâmico Província de África Ocidental (Iswap), anteriormente Boko Haram, e o novo grupo Boko Haram que se separou de Iswap.
De acordo com a agência de refugiados da ONU (ACNUR), estima-se que mais de dois milhões estão "deslocados internamente" na Nigéria.
Os membros do Congresso e autoridades do Departamento de Estado indicaram que as causas da violência são complexas.
O copresidente da comissão, Chris Smith, acrescentou que os Fulani são pastores nômades que povoam a região mais ampla do Sahel, alguns foram levados para o sul, para o Cinturão Médio, pela desertificação causada pela mudança climática.
"O principal promotor do conflito dominante na região do Cinturão Médio são os extremistas Fulani, que parecem motivados em grande parte pelo chauvinismo étnico-religioso, em sua maioria contra agricultores cristãos - embora eu observe que em outros lugares os muçulmanos xiitas também são vítimas, e que os conflitos entre os sunitas também existem dentro da comunidade muçulmana", disse Smith.
Muitos dos ataques denunciados contra as aldeias são "massacres", disse Smith, já que civis são alvo de assassinatos, violência e estupros.
Em 2017, os bispos católicos informaram um número e intensidade crescentes de ataques de Fulanis, que utilizavam armamentos sofisticados nunca antes vistos em confrontos anteriores entre pastores e agricultores.
Alguns bispos enfatizaram a natureza etnorreligiosa dos ataques, afirmando que os militantes Fulani, em sua maioria muçulmanos, visam especificamente os povoados e igrejas cristãs.
O Embaixador dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa, Sam Brownback, disse na quinta-feira que a violência "frequentemente se desdobra em termos de fé", mesmo que os conflitos não sejam de origem religiosa.
As organizações não governamentais alertaram sobre "implicações cada vez mais religiosas" do conflito no ano passado, com relatos sobre o incêndio de locais religiosos e conversões forçadas de algumas vítimas de sequestro.
Dom Avenya acusou o governo nigeriano de não proteger os cristãos do Cinturão Médio.
"Como é possível explicar um cenário no qual até centenas de aldeães inocentes e indefesos morrem em um só ataque e ninguém diz nada a respeito?", perguntou.
"Parece que o sistema não apenas permitiu, mas também está ajudando a entronizar as visões supremacistas de um grupo religioso sobre outros", disse.
Destro disse que os líderes religiosos e políticos e os grupos de ajuda enfatizaram a falta de segurança no país e assinalou que as comunidades locais não têm recursos para se proteger e processar os perpetradores de violência.
"Se uma comunidade liga para o equivalente nigeriano do 911, ninguém atende. Não há proteção policial efetiva", disse.
A audiência aconteceu depois que a mídia internacional relatou mais dois ataques a civis nesta semana. Em 15 de dezembro, o grupo terrorista islâmico Boko Haram admitiu sua culpa pelo sequestro de centenas de crianças em uma escola no estado de Katsina, no noroeste, e no sudeste do país um sacerdote nigeriano foi sequestrado por quatro homens armados na segunda-feira e depois libertado na quarta-feira.
Devido à violência contínua contra civis na Nigéria, o Departamento de Estado designou a Nigéria, na semana passada, como um "País de Preocupação Especial (PCCh)" pela primeira vez na história, uma lista reservada para os países com os piores registros em matéria de liberdade religiosa, como China, Coreia do Norte e Arábia Saudita.
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A designação é "esperançosamente um verdadeiro alerta" para o governo, disse Smith, e assinalou que, se não houver uma resposta adequada à designação, os Estados Unidos deveriam considerar o uso de sanções.
Publicado originalmente em CNA.
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