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Presidente do México permite marchas feministas, mas restringe culto

Feministas violentas atacam policiais femininas e vandalizam a Catedral Metropolitana do México, em 8 de março de 2020. Crédito: David Ramos | ACI Prensa.

As violentas marchas feministas programadas para 8 de março (8M) na Cidade do México e em outras localidades do país têm a autorização do governo de Andrés Manuel López Obrador, enquanto as restrições ao culto católico devido à pandemia de coronavírus Covid-19 são mantidas praticamente em todo o país.

Em 3 de março, López Obrador anunciou em sua coletiva de imprensa matinal que, diante das restrições às manifestações feministas em 8 de março em outros países, "aqui é proibido proibir, os direitos de manifestação e expressão estão garantidos".

Na maior parte do país, mantêm-se as restrições à quantidade de fiéis autorizados a participar na celebração da Missa, bem como limitações às procissões e expressões de fé, visando, principalmente, a Semana Santa.

Na Quarta-feira de Cinzas, no início da Quaresma, em algumas dioceses mexicanas, optou-se por celebrar a Missa sem a participação dos fiéis e entregar as cinzas diretamente a eles para que pudessem ser distribuídas em suas casas e nos centros de trabalho.

"Aqui, liberdade absoluta e completa", disse López Obrador sobre as marchas feministas, ao mesmo tempo em que pediu às feministas que as "manifestações sejam pacíficas".

"Que não destruam os estabelecimentos comerciais, que não ataquem os monumentos públicos e muito menos agridam as outras pessoas, e que também haja cuidado para que não prejudiquem os próprios manifestantes, mulheres ou homens, porque da última vez lançaram bombas", disse.

Segundo dados do Governo do México, em 6 de março, foram confirmados no país mais de 2,3 milhões de casos de Covid-19, com um total de mais de 210 mil mortes.

A universidade norte-americana Johns Hopkins, especializada em medicina, coloca o México como o terceiro país com mais mortes por Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil.

Uma decisão "contraditória" e "irresponsável"

Em diálogo com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Luis Losada, diretor de campanha do CitizenGO na América Latina, criticou que "a posição de López Obrador permitindo 'liberdade absoluta' com as manifestações feministas 8M é contraditória com as restrições ao culto e ao comércio".

"Por que a 'liberdade absoluta' é assimétrica? Por que não há 'liberdade absoluta' para participar de serviços religiosos e sim para participar em eventos feministas? Como explicar esta assimetria a muitos proprietários de restaurantes falidos e fechados por causa do sinal vermelho?", questionou.

Losada lembrou que "a liberdade de expressão é um direito fundamental. Mas a liberdade religiosa e a liberdade de empresa também são direitos fundamentais".

"Se uma emergência de saúde obriga a restringi-los para evitar a expansão da pandemia e salvar vidas, obrigará a todos, não apenas a alguns. Porque essa assimetria, além de irritante, é imoral e ilegal", continuou. "E, além disso, é irresponsável: quantas vidas se perderam por causa da má administração de uma crise por parte de um governo que pensou que o vírus lhe caía 'como uma luva'?", acrescentou.

Losada disse depois que "pedir que as feministas não sejam violentas em 8M" é algo impossível. "Elas acreditam na violência como vetor político. Vimos isso em Quintana Roo, Puebla e Michoacán".

"Talvez o presidente López Obrador esteja tentando com este gesto de tolerância aliviar seu mau relacionamento com as feministas que tentam impor a sua agenda. Eu prevejo o fracasso. Porque, para as feministas, sua agenda é quase sua religião. Jamais a abandonarão. Jamais se contentarão em quebrar alguns vidros", destacou.

As feministas, advertiu, "querem o aborto sem limites. E, claro, pago com o esforço fiscal de todos os cidadãos. Elas nunca vão parar até conseguir o que querem".

"O Governo mostra uma negligência criminosa"

Por sua vez, Pe. Hugo Valdemar, cônego penitenciário da Arquidiocese Primaz do México, disse que permitir marchas feministas e ao mesmo tempo restringir o culto "nada mais é do que a manifestação de uma grande incoerência. Em uma marcha deste tipo não se cumpre nenhuma das normas mínimas para evitar o contágio, ao contrário do cuidado que se tem nos templos para salvaguardar a própria saúde e a dos outros".

"No entanto, este governo irresponsável que tem pânico das feministas, lhes dá luz verde enquanto nos templos continuam impondo restrições que beiram o absurdo", disse ele.

Para o Pe. Valdemar, "o Governo mostra negligência criminosa ao autorizar marchas feministas. Não estamos em um momento para isso".

"Janeiro e fevereiro foram meses trágicos. As coisas estão começando a ficar controladas agora. Não é possível que justo neste momento sejam permitidas manifestações multitudinárias".

O sacerdote mexicano destacou o "contraste entre a disciplina e a responsabilidade que a Igreja tem demonstrado, às vezes até exagerada, e a irresponsabilidade criminosa do governo e das feministas, que, independentemente da saúde pública, se preparam para mostrar mais uma vez do que estão feitos, de ressentimento social, violência, ódio e destruição".

Frente à eventual violência das feministas contra os templos católicos em 8 de março, Pe. Valdemar lembrou que "em outras ocasiões, grupos leigos católicos, diante do vergonhoso silêncio de alguns bispos, se organizaram para construir cercas humanas e defender os templos, e o fizeram com sumo respeito e civilidade".

"Infelizmente, esses católicos heroicos se expõem à violência e brutalidade das feministas, que chegam a agir com verdadeiro ódio satânico. Porém, os fiéis leigos, ante a covardia dos pastores, têm todo o direito de defender seus templos, e nós lhes agradecemos por esses gestos heroicos de fé".

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Consultada sobre se iria se pronunciar sobre a permissão para as aglomerações feministas em 8 de março enquanto se mantêm as restrições ao culto público, a Conferência do Episcopado Mexicano assinalou que não tem uma opinião sobre isso.

Javier Rodríguez, Diretor de Comunicação da Arquidiocese Primaz do México, destacou que embora não haja uma postura a respeito da permissão do governo de López Obrador para as marchas feministas, "tem havido um diálogo interno com os responsáveis ​​das diferentes paróquias para estar atentos a qualquer contingência e contar com o apoio imediato das autoridades da Cidade do México".

"No caso específico da Catedral Metropolitana, a segurança interna está a cargo da Guarda Nacional e a externa da Secretaria de Segurança Cidadã da Cidade do México, explicou.

Desde a tarde do dia 7 de março, o Governo da Cidade do México decidiu colocar cercas de proteção em frente à Catedral do México, semelhantes às instaladas em frente ao Palácio Nacional, sede do governo do país.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz

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