8 de dezembro de 2024 Doar
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Bispo suíço dá comunhão a três protestantes em sua própria ordenação

Bispo Joseph Bonnemain. Crédito: Chur Diocese

O novo Bispo de Chur, Suíça, Dom Joseph Bonnemain deu a Santa Comunhão a três protestantes em sua própria ordenação no último 19 de março, Solenidade de São José. A informação foi dada pela página web dos bispos suíços.

"Na presença do [cardeal Kurt Koch], Joseph Bonnemain deu a Santa Comunhão a três personalidades reformadas: a presidente da Igreja Reformada Protestante Suíça, Rita Famos; o presidente do conselho da igreja de Zurique, Michel Müller - e o conselheiro do governo de Zurique, Mario Fehr", diz a página.

Em resposta ao pedido de comentário da CNA, o escritório de Dom Bonnemain respondeu com uma breve declaração em 22 de março, e apontou o cânon 844 §4 do Código de Direito Canônico da Igreja Católica em sua defesa.

O código citado pelo bispo diz: "Se existir perigo de morte ou, a juízo do Bispo diocesano ou da Conferência episcopal, urgir outra necessidade grave, os ministros católicos administram licitamente os mesmos sacramentos também aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja católica, que não possam recorrer a um ministro da sua comunidade e o peçam espontaneamente, contanto que manifestem a fé católica acerca dos mesmos sacramentos e estejam devidamente dispostos".

"A aplicação dessas normas em relação às pessoas individuais concretas durante uma celebração pública leva em conta as circunstâncias existentes e a atitude pessoal do indivíduo. A mídia, dadas as considerações de privacidade, não é o lugar para comentar tal assunto", respondeu a diocese aos questionamentos da agência CNA.

Bonnemain é um clérigo bastante familiarizado com o código de direito canônico. O Bispo de 72 anos e membro do Opus Dei já atuou como vigário judicial e canônico da catedral desta diocese suíça.

Um especialista jurídico da Universidade Católica da América, Pe. James Bradley, disse ao grupo ACI que "o cânon 844 §4 diz respeito à administração lícita dos sacramentos da penitência, da Eucaristia, e da unção dos enfermos aos que não foram batizados, além dos ortodoxos e outras confissões cristãs".

"Existem cinco condições para que isso seja um ato perfeitamente lícito", explicou o Pe. Bradley à CNA por e-mail.

"O primeiro é o perigo de morte, ou alguma necessidade grave. Além disso, são necessárias todas as seguintes condições: a pessoa que procura o sacramento deve ser incapaz de se aproximar do ministro da sua própria confissão; o indivíduo deve manifestar a fé católica no sacramento solicitado; a pessoa deve solicitar o sacramento por iniciativa própria; e a pessoa deve ter a devida disposição".   

Falando à CNA sob condição de anonimato, outro especialista em direito canônico que reside em Roma, confirmou esta afirmação acrescentando que era difícil imaginar como essas condições poderiam ter se aplicado naquela ocasião e por que o novo bispo apela a este cânon para justificar o ato.

Após reportagens internacionais críticas às ações do novo bispo, o portal financiado pela conferência dos bispos suíços, "kath.ch", também defendeu veementemente o ato do novo bispo, alegando que um antecessor havia feito a mesma coisa e referindo-se ao famoso caso do Cardeal Joseph Ratzinger e do Irmão Roger Schutz da Comunidade Taizé.

No entanto, esse caso "obviamente não pode ser comparado" com o que ocorreu, relatou o canonista em Roma consultado pela CNA. 

Assim como relatou a CNA Deutsch, agência do grupo ACI para a língua alemã, a diocese de Chur, que também compreende a cidade de Zurique, tem um histórico de altas tensões internas. O novo bispo – que na própria ordenação deu a comunhão aos políticos protestantes e se inclinou para pedir a bênção da assembleia– anunciou que sua prioridade era curar divisões em uma diocese "doente".

A escolha de Dom Bonnemain para liderar a diocese foi anunciada pelo Papa Francisco em fevereiro, encerrando um impasse sobre a nomeação na histórica diocese do leste suíço que tradicionalmente tem o inusual privilégio de vetar a nomeação de bispos propostas por Roma desde a época de Pio XII, e ao contrário do procedimento habitual, no caso de Chur, é a Santa Sé que propõe três candidatos e a diocese elege um, que posteriormente recebe o mandato pontifício para ser validamente ordenado.  

O Cardeal Koch, que ordenou o Bispo Bonnemain em 19 de março, é presidente do Pontifício Conselho para a Unidade Cristã. Ele disse à CNA que, ao contrário do relatório da mídia suíça, ele desconhecia o ato, uma vez que ele próprio não distribuiu a Santa Comunhão – e encontrava-se " em oração profunda" naquele momento.

O cardeal suíço, que ordenou Bonnemain no dia, recentemente também expressou sérias dúvidas sobre a proposta de intercomunhão de refeições eucarísticas do bispo Georg Bätzing na vizinha Alemanha, onde católicos e protestantes anunciaram no último 16 de março, que avançariam com a intercomunhão em um evento, apesar das objeções do Vaticano.  O ato foi imediatamente rebatido pelo Cardeal Arcebispo de Colônia, que afirmou que ele não daria a comunhão a protestantes caso se apresentassem em uma missa católica.

O bispo Bonnemain sucedeu Dom Vitus Huonder, que liderou a Igreja em Chur de 2007 a 2019, após chegar ao limite de idade permitido pelo Código de Direito Canônico. Dom Hounder ficou conhecido por defender o ensinamento da Encíclica Humanae Vitae que declara ilícito o uso de anticoncepcionais, por ser contrário ao aborto e por jamais ter demonstrado abertura a propostas de comunhão para católicos divorciados em novas uniões civis, o que rendeu-lhe críticas e gerou oposição ao interior desta diocese suíça, onde os católicos desejavam que o bispo se inclinasse a uma postura mais flexível, fundamentando-se supostamente na Carta Apostólica Amoris Laetitia.

Alguns fiéis chegaram a fundar uma organização chamada "Es Reicht!" (que em alemão significa "Agora basta!"), para pedir ao Papa Francisco a demissão do bispo. Dom Vitus Hounder ficou conhecido ainda por ter sido apelidado de "ultra-conservador" pelo controverso teólogo suíço Hans Küng.

Outra controvérsia em torno ao novo bispo surgiu do fato de que o mesmo se negou a cunhar o tradicional escudo ou brasão episcopal contendo uma frase em latim, alegando que seu sinal era o sinal da cruz.

Dias antes da ordenação, o vigário-geral da diocese, Pe. Martin Grichting, anunciou sua renúncia de todos os cargos e funções diocesanas e supradiocesanas antes da toma de posse de Dom Bonnemain. A diocese se limitou a narrar o fato com o comunicado de que "O cônego Grichting está de férias".

"O bispo Joseph Maria Bonnemain decidirá em um futuro próximo e após as devidas deliberações se nomeará um vigário geral para toda a diocese", conclui.

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