21 de novembro de 2024 Doar
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Papa Francisco na Vigília Pascal: Jesus nos permite recomeçar nossas vidas “dos escombros”

Papa Fracisco na vigília pascoal de 2021 em Roma. | © EWTN News/Daniel Ibáñez/Vatican Pool

Neste 3 de abril, sábado santo, o Papa Francisco presidiu a celebração da Vigília da Páscoa, e assegurou que é possível recomeçar sempre, porque há uma vida nova que Deus nos dá. Independentemente de todos os nossos fracassos, a Ressurreição nos traz a certeza de que podemos sempre reiniciar nossa vida cristã, mesmo se ela estiver em escombros.

A celebração, realizada no Altar da Cadeira da Basílica de São Pedro, começou às 19h30.m. (horário de Roma). Devido à pandemia de Covid-19 não houveram batizados durante a liturgia, que foi seguida por um número reduzido de bispos, sacerdotes e fiéis.

Abaixo segue o texto completo da homilia do Papa Francisco nesta Vigília de Páscoa 2021:

As mulheres esperavam encontrar o cadáver para o ungir; em vez disso, encontraram um túmulo vazio. Foram chorar um morto; em vez disso, escutaram um anúncio de vida. Por isso, como diz o Evangelho, aquelas mulheres «estavam cheias de medo e maravilha» (Mc 16, 8). Maravilha: neste caso, é uma mistura de medo e alegria que se apodera dos seus corações, ao verem a grande pedra do túmulo rolada para o lado e, dentro, um jovem de túnica branca. É maravilha pelas palavras escutadas: «Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou» (16, 6). E depois por este convite: «Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá O vereis» (16, 7).

Acolhamos, também nós, este convite, o convite de Páscoa: vamos para a Galileia, onde nos precede o Senhor Ressuscitado. Mas, que significa «ir para a Galileia»?

Ir para a Galileia significa, antes de mais nada, recomeçar. Para os discípulos, é voltar ao lugar onde inicialmente o Senhor os procurou e chamou para O seguirem. É o lugar do primeiro encontro e do primeiro amor. Desde então, deixadas as redes, seguiram Jesus, escutando a sua pregação e assistindo aos prodígios que realizava. E todavia, apesar de estar sempre com Ele, não O compreendiam totalmente, muitas vezes entenderam mal as suas palavras e, à vista da cruz, fugiram deixando-O sozinho. Não obstante este falimento, o Senhor Ressuscitado apresenta-Se como Aquele que os precede uma vez mais na Galileia; precede-os, isto é, está diante deles. Chamara-os para O seguirem, e volta a chamá-los sem nunca cansar. O Ressuscitado está a dizer-lhes: «Partamos donde iniciamos. Recomecemos. Quero-vos de novo comigo, não obstante e para além de todos os falimentos». Nesta Galileia, aprendemos a maravilhar-nos com o amor infinito do Senhor, que traça novas sendas nos caminhos das nossas derrotas. Assim é o Senhor, traça caminhos novos dentro dos antigos, e nos convida a ir a Galileia para fazer isto

Aqui está o primeiro anúncio de Páscoa que gostava de vos deixar: é possível recomeçar sempre, porque há uma vida nova que Deus é capaz, independentemente de todos os nossos falimentos, de fazer reiniciar em nós. Mesmo dos escombros do nosso coração, Deus pode construir uma obra de arte. A partir dosescombros do nosso coração; a partir mesmo dos pedaços arruinados da nossa humanidade, Deus prepara uma história nova. Ele sempre nos precede: na cruz do sofrimento, da desolação e da morte, bem como na glória duma vida que ressurge, duma história que muda, duma esperança que renasce.

E, nestes meses sombrios de pandemia, ouçamos o Senhor ressuscitado que nos convida a recomeçar, a nunca perder a esperança. Ir para a Galileia significa, em segundo lugar, percorrer caminhos novos. É mover-se na direção oposta ao túmulo. As mulheres procuram Jesus no túmulo, isto é, vão recordar o que viveram com Ele e que, agora, se perdeu para sempre. Vão refugiar-se em sua tristeza. É a imagem duma fé que se tornou comemoração duma coisa linda mas que acabou, apenas para se recordar.

Muitos vivem a «fé das recordações», como se Jesus fosse um personagem do passado, um amigo da juventude já distante, um facto sucedido há muito tempo quando, ainda criança, frequentava a catequese. Uma fé feita de hábitos, coisas do passado, belas recordações da infância, uma fé que já não me comove, nem me interpela. Ao contrário, ir para a Galileia significa aprender que a fé, para estar viva, deve continuar a caminhar. Deve reavivar cada dia o princípio do caminho, a maravilha do primeiro encontro. E depois confiar, sem a presunção de já saber tudo, mas com a humildade de quem se deixa surpreender pelos caminhos de Deus. Vamos para a Galileia descobrir que Deus não pode ser depositado entre as recordações da infância, mas está vivo, sempre surpreende. Ressuscitado, nunca cessa de nos surpreender.

Aqui está o segundo anúncio de Páscoa: a fé não é um repertório do passado, Jesus não é um

personagem ultrapassado. Ele está vivo, aqui e agora. Caminha contigo todos os dias, na situação que estás a viver, na provação que estás a atravessar, nos sonhos que trazes dentro de ti. Abre novos caminhos onde te parece que não existem, impele-te a ir contracorrente relativamente a nostalgias e ao «já visto». Mesmo que tudo te pareça perdido, por favor, abre-te maravilhado à sua novidade: te surpreenderás.

Ir para a Galileia significa, além disso, ir aos confins. Porque a Galileia é o lugar mais

distante: naquela região composta e diversificada, moram aqueles que estão mais longe da pureza ritual de Jerusalém. E todavia Jesus começou de lá a sua missão, dirigindo o anúncio a quem carrega fadigosamente pela vida, dirigindo seu anúncios aos excluídos, f´rageis, pobres para ser rosto e presença de Deus a vida diária, aos excluídos, aos frágeis, aos pobres, para ser rosto e presença de Deus que incansavelmente vai à procura de quem está desanimado ou perdido, que Se move até aos confins da existência porque, a seus olhos, ninguém é último, ninguém está excluído.

E hoje também é lá que o Ressuscitado pede aos seus para irem. É o lugar da vida diária, são os caminhos que percorremos todos os dias, são os recantos das nossas cidades onde o Senhor nos precede e Se torna presente, precisamente na vida de quem se encontra ao nosso lado e partilha connosco o tempo, a casa, o trabalho, as fadigas e as esperanças. Na Galileia, aprendemos que é possível encontrar o Ressuscitado no rosto dos irmãos, no entusiasmo de quem sonha e na resignação de quem está desanimado, nos sorrisos de quem exulta e nas lágrimas de quem sofre, sobretudo nos pobres e em quem é marginalizado. Ficaremos maravilhados ao ver como a grandeza de Deus se revela na pequenez, como a sua beleza resplandece nos simples e nos pobres.

E assim temos o terceiro anúncio de Páscoa: Jesus, o Ressuscitado, ama-nos sem fronteiras e

visita todas as situações da nossa vida. Ele plantou a sua presença no coração do mundo e convidanos também a nós a superar as barreiras, vencer os preconceitos, aproximar-nos de quem está ao nosso lado dia a dia, para redescobrir a graça da quotidianidade. Reconheçamo-Lo presente nas nossas «galileias», na vida de todos os dias. Com Ele, a vida mudará. Porque, para além de todas as derrotas, do mal e da violência, para além de todo sofrimento e para além da morte, o Ressuscitado vive e governa a história.

Irmão, irmã, se nesta noite tens no coração uma hora escura, um dia que ainda não raiou,

uma luz sepultada, um sonho despedaçado, abre o coração com assombro ao anúncio da Páscoa: «Não tenhas medo, ressuscitou! Espera-te na Galileia».

Os teus anseios serão realizados, as tuas lágrimas serão enxugadas, os teus medos serão vencidos pela esperança. Porque sabes que o Senhor te precede sempre, caminha sempre diante de ti e com ele, a vida sempre recomeça.

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