VATICANO, Oct 13, 2005 / 15:45 pm
Ao oferecer a segunda coletiva de imprensa sobre a XI Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, os padres sinodais descartaram a proposta de alguns setores de permitir a presença de sacerdotes casados como solução à falta de presbíteros, pois "o verdadeiro problema é a crise de fé" e a carência destes apenas "um sintoma desta crise".
Assim afirmaram os Cardeais e Presidentes delegados do Sínodo Francis Arinze, Juan Sandoval e Telesphore Toppo. Também estiveram presentes na coletiva de imprensa o Arcebispo John Foley, Presidente da Comissão para a Informação e o Bispo Sofron Stefan Mudry, O.S.B.M., Vice-presidente da mesma Comissão.
À pergunta de um jornalista, no final do evento, sobre a insistência por parte de alguns na ordenação de homens casados como suposta solução à escassez de sacerdotes em algumas regiões do mundo, o Cardeal Toppo respondeu que "o verdadeiro problema é a crise de fé; a falta de sacerdotes é um sintoma desta crise". "O sacerdócio é fruto da fé da comunidade, da família. Sem fé não há sacerdotes", sentenciou.
Na mesma linha, o Arcebispo de Guadalajara, Cardeal Juan Sandoval, insistiu que "a falta de sacerdotes é um efeito e não a causa", assinalando como causas desta escassez, "a falta de fé, a secularização, o fechar a janela ao infinito".
Do mesmo modo, o Bispo ucraniano Dom. Mudry ressaltou que apesar de que nas Igrejas orientais católicas há sacerdotes casados, isto não soluciona o problema anterior porque "também devem dedicar tempo à família, ao estudo, e é difícil que se possam transferir a outro lugar para continuar sua missão se assim o bispo lhe pedir".
Ao referir-se aos sacerdotes casados na Igreja dos países da Europa oriental, Dom. Mudry esclareceu que "não temos nada contra eles, conservaram a Igreja durante o comunismo muito bem, e portanto, agradecemo-lhe sua obra; entretanto, a situação social atual faz com que sejam mais um problema do que outra coisa", disse.
Comunhão aos divorciados que voltaram a casar
Sobre a não admissão à Comunhão eucarística das pessoas divorciadas que voltaram a casar, o Cardeal Arinze assinalou que a Igreja "mostra compaixão para com estas pessoas que sofrem, e embora não possam comungar –porque sua situação não reflete a imagem de unidade entre Cristo e a Igreja (o marido e a esposa)–, continuam sendo membros da Igreja".
"A Comunhão não é algo que possuímos e a damos a nossos amigos ou a quem nós gostamos ou que sofrem. Sacerdotes e bispos somos somente ministros e devemos responder diante Deus", acrescentou o Cardeal.
Inculturação: Liturgia não é "espetáculo" para distrair
Referindo-se ao convite nas intervenções destes dias de uma maior homogeneidade da inculturação, o Cardeal Toppo sublinhou que esta "é essencial, e é a expressão da fé de um povo".
A esse respeito, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e disciplina dos Sacramentos, lamentou que "quando se diz ‘inculturação’ muitos pensam em cores, cantos, nem sequer cantos sérios, mas em cantos que excitam um pouco, daqueles que vão bem no teatro, mas não na Missa. Outros pensam em danças africanas, sobretudo aqueles que não são da África e pedem dança aos africanos".
Frente a isto, o Cardeal esclareceu que "se a inculturação quer ser verdadeira", deve haver um estudo interdisciplinar muito sério que depois deve ser levado aos bispos das Conferências Episcopais e ao dicastério respectivo para sua avaliação. "Infelizmente não acontece assim", disse.
Por sua vez, o Cardeal mexicano acrescentou que "o importante é que os cantos, a dança, a cor, etc., ajudem na interiorização, a unir-se ao Senhor e que a cerimônia não se torne um espetáculo para divertir sem mais".
"É claro que a liturgia deve ter normas universais. A inculturação deve ajudar não à diversão, mas na interiorização. Se ajudarem a que as pessoas possam interiorizar e unir-se ao Senhor, estão bem. Se os distrair, não é justo".
Finalmente, diante do requerimento dos jornalistas, referiu-se à Comunhão eucarística dos políticos e afirmou que estes "devem ser coerentes com suas decisões e, sendo católicos, ser coerentes com a doutrina moral da Igreja Católica".
A conferência se realizou na Sala de Imprensa da Santa Sé depois da apresentação da "Relatio post disceptationem", documento que resume brevemente os temas centrais das discussões dos padres sinodais.
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