PARIS, Jun 1, 2021 / 13:24 pm
O arcebispo de Paris, dom Michel Aupetit, condenou os ataques sofridos pelos católicos que participaram de uma procissão na capital francesa, em homenagem aos mártires da Comuna de Paris, regime esquerdista de curta duração que governou a cidade depois da derrota da França na Guerra Franco-Prussiana de 1870. Os líderes da Comuna de Paris, anticlericais de esquerda, controlaram a cidade de 18 de março a 28 de maio de 1871. Quando o exército francês sufocou a revolta, os revolucionários executaram seus reféns, entre os quais estava o então arcebispo de Paris, dom Georges Darboy.
Dom Aupetit condenou "a raiva, o desprezo e a violência" contra cerca de 300 católicos, incluindo crianças e idosos, que participavam da "Marcha dos Mártires". O evento foi realizado no sábado, 29 de maio, para celebrar o sesquicentenário da morte dos mártires católicos na Comuna de Paris.
A procissão de sábado começou na Place de la Roquette, onde o arcebispo Darboy foi executado, e terminaria na igreja de Notre Dame des Otages, construída em homenagem aos mártires mortos em maio de 1871. Segundo o semanário católico francês Famille Chrétienne, os participantes da procissão escutaram zombarias e assobios antes de partir. Poucos minutos depois de iniciado o percurso planejado, um grupo agrediu fisicamente os participantes da procissão, atirando coisas sobre eles e quebrando as suas bandeiras. Um vídeo postado nas redes sociais mostra pessoas com bandeiras vermelhas agredindo violentamente os participantes da procissão.
Mais tarde, cerca de 50 pessoas bloquearam com violência a passagem da procissão nas proximidades da igreja de Notre Dame de la Croix de Ménilmontant. Os organizadores pediram aos participantes do evento que se refugiassem na igreja. Embora a procissão não tivesse chegado ao seu destino, em Notre Dame des Otages, o bispo auxiliar de Paris, Dom Denis Jachiet, decidiu encerrá-la para evitar mais infortúnios.
Horas antes, uma manifestação para comemorar a Comuna de Paris havia ocorrido mais ou menos no mesmo lugar. A manifestação pró-Comuna foi convocada pelo Novo Partido Anticapitalista, agremiação fundada em 2009, cujo objetivo, segundo seu site na internet é "juntar todas as forças que querem sair da era do lucro, romper com o capitalismo, para abrir caminho a uma sociedade inédita, democrática e igualitária, feminista e ecologista." O NPA também combate a "islamofobia" e já se manifestou publicamente contra a pichação de um centro cultural islâmico em Rennes chamando-a de "crime".
"Houve uma demonstração de raiva, desprezo e violência", disse Aupetit. "Estamos preocupados porque o que pregamos, um Deus de amor, pode despertar tanto ódio, tanta raiva".
O arcebispo de Paris lembrou que "o Senhor nos prometeu que haveria violência. Não porque sejamos violentos, mas lembrando-nos do que os nossos irmãos viveram aqui. Aqueles mártires, segundo os relatos da época, nunca responderam à raiva com raiva, ao ódio com ódio. Ao contrário, eles tiveram um coração pacífico que perdoou".
Dois homens idosos ficaram levemente feridos, um dos quais precisou de pontos por causa de um ferimento na cabeça.
O organizador do evento disse ao jornal Le Figaro: "Esperamos e rezamos até que a polícia liberou a nossa saída", e contou que mães e crianças "estavam em estado de choque".
Karine Dalle, porta-voz da arquidiocese de Paris, disse à Famille Chrétienne que o incidente foi "surreal", "uma violência totalmente gratuita. É triste de ver que, 150 anos após a Comuna, algumas pessoas abusam de uma simples comemoração pacífica, especialmente quando esse ato não tem nenhuma conotação política".
O ministro francês Gérald Darmanin, da segurança pública, também condenou o ataque. Através da sua conta no Twitter, ele afirmou: "em Paris, os católicos foram atacados por indivíduos violentos em uma procissão. A liberdade de culto deve ser exercida com total serenidade em nosso país". A procissão agredida contou com a proteção de um único policial designado pela prefeitura de Paris.
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