REDAÇÃO CENTRAL, Jul 13, 2021 / 15:50 pm
O beato Peter To Rot, grande catequista e pai de família, é lembrado por ter sido martirizado aos 33 anos em um campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra Mundial, ao defender o matrimônio católico e opor-se ao restabelecimento da poligamia. To Rot é um modelo a ser seguido pela Igreja Católica no século XXI e foi o padroeiro da Jornada Mundial da Juventude de Sidney, em 2008.
O beato nasceu em 1912, em Rakunai, na Papua Nova Guiné. Ele é o primeiro nativo do país a ser beatificado.
Para contar a história de To Rot, é preciso voltar à década de 1870, quando missionários metodistas levaram o cristianismo à ilha, seguidos pelos católicos, que chegaram com os Missionários do Sagrado Coração. Angelo To Puia, líder tribal influente, abraçou o catolicismo e recebeu o batismo em 1898. Todo o povo seguiu seu exemplo e gerou-se um efeito dominó nos povos vizinhos, formando-se rapidamente uma comunidade católica na região. Angelo trabalhou em estreita colaboração com os sacerdotes missionários para formar seu povo na fé. Começou pela sua própria família, incluindo o seu terceiro filho, Peter To Rot.
Desde criança, Peter To Rot cultivou sua vida espiritual e era bom estudante. Por esse motivo, o padre Emilio Jakobi achou que ele poderia sentir um chamado ao sacerdócio, mas essa não era a sua vocação.
Os missionários e o clero eram insuficientes para a evangelização do enorme território da Oceania. O cuidado pastoral da nascente Igreja local da Nova Guiné recaiu, em grande medida, sobre os catequistas leigos como o beato Peter, que se destacou nessa função. Em 1936, To Rot se casou com Paula Ia Varpit. A adesão generalizada ao cristianismo na Nova Guiné erradicou a poligamia, comum na cultura local.
Em 1942, os japoneses ocuparam a Papua Nova Guiné. Os missionários e sacerdotes foram presos em campos de concentração. Como Peter não era missionário, nem sacerdote continuou em Rakunai. Um dos Missionários do Sagrado Coração pediu a To Rot, antes de ser preo: "Cuide bem dessa gente. Ajude-os, para que não se esqueçam de Deus".
Logo os ocupantes japoneses proibiram reuniões religiosas e To Rot organizou encontros secretos para administração dos sacramentos.
Quando os japoneses perceberam que a Igreja da Nova Guiné não ia desaparecer apenas com o afastamento dos missionários, tentaram reintroduz a poligamia na ilha, com apoio dos chefes locais ressentidos com a monogamia traazida pelo cristianismo.
"Os japoneses não podem evitar que amemos a Deus e obedeçamos a suas leis. Devemos ser fortes e devemos nos negar a fazer o que eles querem", disse To Rot. Ele defendeu energicamente a monogamia e repreendeu aqueles que contraíram segundas núpcias, incluindo seu irmão.
Quando interferiu nas intenções de um espião japonês de se casar com uma segunda mulher, foi denunciado e preso. "Estou na prisão pelos adúlteros e pelos serviços à igreja. Bem, estou pronto para morrer", disse a um chefe da aldeia que o visitou.
To Rot resistiu às súplicas de sua mulher para que deixasse a catequese e, assim, voltasse para casa. Peter, porém, pediu a ela que lhe trouxesse sua cruz de catequista.
Em algum momento de julho de 1945, as autoridades japonesas mataram o beato Peter To Rot. Ele foi envenenado e espancado. A notícia logo se espalhou e To Rot foi aclamado como mártir da fé e da integridade do matrimônio cristão.
O papa São João Paulo II beatificou Peter To Rot em 17 de janeiro de 1995. "Quando as autoridades legalizaram e encorajaram a poligamia, o beato Peter soube que isso era contra os princípios cristãos e denunciou firmemente aquela prática. Porque o Espírito de Deus habitava nele. Sem medo, ele proclamou a verdade sobre a santidade do matrimônio", disse na missa de beatificação de To Rot.
"Ele se recusou a tomar o ´caminho fácil´ do compromisso moral. ´Eu tenho que cumprir o meu dever como testemunha da Igreja de Jesus Cristo', explicou. O medo do sofrimento e da morte não o deteve. Ao final do seu encarceramento, Peter To Rot esteve sereno, inclusive alegre. Disse às pessoas que estava disposto a morrer pela fé e pelo seu povo", acrescentou o papa.
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