19 de dezembro de 2024 Doar
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Bispos e padres dos EUA se dividem sobre restrições à missa em latim

Celebração da missa segundo o Missal de 1962. Crédito: David Ramos | ACI Prensa.

O motu proprio Traditionis custodes do papa Francisco restringiu a missa tradicional de um modo que gerou a preocupação de que acabe criando mais divisão do que a unidade que foi apresentada pelo papa como justificativa.

Entre os bispos nos Estados Unidos há os que já permitiram continuar usando o que o documento do papa chama de "missa do Missal Romano de 1962"; outros pediram tempo para estudar o motu proprio e a carta do papa Francisco aos bispos que o explica.

Traditionis custodes apareceu em um momento em que a missa de 1962 tem atraído mais católicos, alguns dos quais a descobriram em igrejas que permaneceram abertas durante as restrições de combate da Covid-19, enquanto outras fecharam e limitaram o acesso aos sacramentos. Antes de 2020, a missa tradicional tornou-se mais amplamente utilizada devido ao motu proprio Summorum pontificum de 2007 do papa Bento XVI, que permitiu a qualquer sacerdote usar o rito mais antigo sem pedir permissão de seu bispo. Existem pelo menos 657 locais nos Estados Unidos que rezam a missa tradicional. O papa Francisco disse que o objetivo pastoral de Bento XVI de promover a unidade através do Summorum pontificum foi distorcido "para ampliar as brechas, reforçar as divergências e encorajar discórdias". 

O padre Thomas Kocik, sacerdote da Diocese de Fall River, Massachusetts, e autor de livros e artigos sobre liturgia, disse temer que divisões mais profundas na Igreja ocorram como resultado de Traditionis custodes. "A unidade não pode ser forçada, apenas fomentada", disse Kocik ao jornal National Catholic Register. Ele teme que, caso as restrições sejam implementadas com rigor, muitos católicos se unam a comunidades irregulares ou cismáticas. Membro da Sociedade para a Liturgia Católica, o padre Kocik disse que a alegação de que a missa tradicional causou divisão não corresponde à sua experiência como sacerdote. "Durante anos, celebrei a antiga missa em paróquias diocesanas e jamais achei que isto fosse uma causa de divisão eclesial". "Pelo contrário, onde vivo a Missa tradicional latina tem permitido aos católicos anglo-saxões, hispânicos e brasileiros rezar juntos segundo sua herança litúrgica romana comum".

O padre Kocik também questiona o que ele chama de "premissas duvidosas" que, segundo ele, parecem estar na base do motu próprio. A primeira é que o Missal de Paulo VI, que teve emendas feitas por São João Paulo II, representa o que o Concílio Vaticano II havia previsto e aprovado a respeito da renovação do Rito Romano. A segunda premissa falha segundo o sacerdote é de que a Missa de 1962 não é propícia à participação plena e ativa dos fiéis na liturgia, algo que o Concílio insistiu com muita força. "O Papa parece pensar que os católicos ligados à antiga Missa preferem ser espectadores silenciosos e passivos, mas essa não tem sido minha experiência", disse o padre Kocik.

Maggie Gallagher, diretora executiva do Instituto Bento XVI de Música Sacra e Culto Divino, que dá treinamento para sacerdotes diocesanos que querem aprender a celebrar a missa tradicional, disse que também ela ficou intrigada com o que o papa Francisco está tentando realizar com o motu proprio.

Aqueles que vão à missa tradicional são claramente uma minoria, disse ela, é uma opção litúrgica que tem dado inspiração a muitas famílias jovens. "Talvez isto resulte em mais supressão da missa latina ou talvez em mais bispos afirmando publicamente que, no seu julgamento, a missa latina tem sido útil", disse ela ao Register. "Seria triste se resultasse em mais segregação da missa em latim. A visão de Bento XVI era que as duas formas se influenciariam mutuamente e se aproximariam mais no desenvolvimento orgânico. Se segregadas em um pequeno canto, isso tornará mais difícil para as pessoas experimentarem a beleza e a sacralidade da Eucaristia em ambas as formas".

Gallagher disse que o Instituto Bento XVI, foi fundado na arquidiocese de São Francisco com o apoio do arcebispo Salvatore Cordileone, não planeja parar de treinar sacerdotes para a missa tradicional.

O arcebispo Cordileone tem defendido o uso do Missal de 1962 e disse que a missa tradicional continuará a ser oferecida na arquidiocese em resposta a necessidades e desejos legítimos dos fiéis. Perguntado pelo Register, como ele vê a missa tradicional como um aumento do culto aos fiéis e se isso pode ser feito sem diminuir a missa do Novus Ordo, o arcebispo Cordileone apontou outro elemento da carta do papa do qual ele disse que ninguém está falando: o de denunciar abusos litúrgicos generalizados há décadas na missa segundo o Vaticano II.

"Minha própria convicção pessoal é que a familiaridade com a missa tradicional latina como parte regular da vida da Igreja pode ser um possível remédio para os abusos litúrgicos, dado o rigor com que ela é regulamentada em suas rubricas, especialmente porque essas rubricas refletem uma maior sensibilidade à santidade da Santíssima Eucaristia", disse o arcebispo.

O arcebispo Gregory Aymond de Nova Orleans disse aos padres e diáconos da arquidiocese que ele está discutindo a implementação do motu proprio com os párocos que celebram a missa tradicional e demais sacerdotes. Ele garantiu àqueles que vão à Missa de 1962 que suas necessidades espirituais continuarão a ser atendidas.

Na diocese de Pittsburgh, o bispo David Zubik confirmou a continuação da existência da paróquia "Preciosíssimo Sangue de Jesus", que é dirigida por sacerdotes do Instituto do Cristo Rei Sacerdote Soberano, e na arquidiocese de Saint Paul-Minneapolis, o arcebispo Bernard Hebda está permitindo que a missa tradicional continue a ser oferecida como de costume. O arcebispo Hebda também nomeou uma força-tarefa para estudar o motu proprio

O Arcebispo Alexander Sample de Portland, Oregon, disse no Twitter: "Preciso de tempo para rezar, refletir e estudar esta nova lei para que eu possa responder com misericórdia, caridade e verdade".

O Padre Gerald Murray, canonista e pároco da igreja da Sagrada Família em Nova York, disse que a disposição do motu proprio que proíbe as missas tradicionais nas igrejas paroquiais representa um grave problema, na medida em que a maioria dessas missas nos Estados Unidos são agora celebradas nessas igrejas. Entretanto, disse ele, a lei canônica dá aos bispos diocesanos a autoridade de dispensar esta proibição para o bem-estar espiritual dos fiéis. "Isso seria certamente desejável onde não há lugar digno ou sagrado alternativo para celebrar a missa", disse ele ao Register.

O padre Murray também disse que é lamentável que parece não ter havido consulta e diálogo com os sacerdotes e fiéis ligados à liturgia tradicional antes da decisão do papa. "Tal diálogo teria permitido ao papa Francisco testar suas conclusões sobre o pensamento e os motivos daqueles que amam a tradicional missa latina. Penso que teria sido demonstrado que a grande maioria desses sacerdotes e fiéis são católicos devotos que estão unidos à Igreja e que respeitosamente querem promover o culto reverente e não estão minando a unidade da Igreja quando fazem perguntas sobre a reforma litúrgica e outros assuntos decididos no Concílio Vaticano II".

Murray teme que os seminaristas diocesanos que aspiram a celebrar a missa tradicional podem ser levados a se unir à Fraternidade Sacerdotal de São Pedro ou ao Instituto de Cristo, o Sacerdote Soberano do Rei.

"Infelizmente, a própria missa que os padres celebraram durante o Concílio Vaticano II não é mais considerada pelo papa Francisco como uma 'expressão da lex orandi do rito romano'. O que serviu tão bem à Igreja durante séculos será agora proibido em algumas dioceses enquanto autorizado em outras, com o status efetivo de ser meramente tolerado pela suprema autoridade da Igreja como uma exceção concedida a alguns, mas negada a outros, até que, como escreve o papa Francisco em sua carta que acompanha Traditionis custodes, "aqueles enraizados na forma anterior de celebração ... retornem a seu tempo ao Rito Romano promulgado pelos Santos Paulo VI e João Paulo II"".

O padre Murray diz que, embora os papas do passado tenham revertido decisões de seus predecessores, ele não se lembra de um motu proprio semelhante na história recente que ab-rogou o motu proprio de um papa anterior de forma tão ampla. "Normalmente em uma questão de tal peso e significado, um papa modifica ou complementa as disposições canônicas de seus antecessores, mantendo continuidade na lei em assuntos onde os direitos dos fiéis foram reconhecidos e se tornaram bem estabelecidos. Alterações repentinas e imprevistas deste tipo perturbam a expectativa razoável do clero e dos leigos de que uma disposição espiritual a eles concedida seja honrada por papas posteriores. Este é particularmente o caso quando as razões dadas para justificar a revogação da lei existente estão longe de ser geralmente aceitas como claramente evidentes, nem são reconhecidas como verdadeiras por todos aqueles que seriam caracterizados como trazendo esta ação sobre si mesmos por suas atitudes e ações".

Byron Smith, secretário-diretor do grupo leigo Una Voce America, que trabalha para preservar a missa de 1962, disse estar espantado que, em meio à crise de abuso sexual, aborto, descrença na Presença Real na Eucaristia e escassez de vocações, o papa Francisco viu como necessário derrubar um degrau da escada para a salvação de muitos milhões de católicos fiéis. "Os bispos existem para nos levar ao céu, não para bloquear o acesso a um meio de graça que os santos usaram durante séculos", disse Smith.

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