Vaticano, Aug 25, 2021 / 10:02 am
O papa Francisco advertiu os cristãos sobre a hipocrisia dentro da Igreja, uma atitude que considerou "particularmente detestável". "Infelizmente existe a hipocrisia na Igreja. E há tantos cristãos e tantos ministros hipócritas", lamentou.
Francisco fez o comentário ao analisar a carta de são Paulo aos gálatas durante a audiência geral desta quarta-feira, 25 de agosto, no Vaticano, continuando a exegese sobre essa epístola que vem fazendo nas últimas semanas.
Na catequese de hoje, ele lembrou que "Paulo diz que reprendeu Cefas, ou seja, Pedro, diante da comunidade de Antioquia". Paulo reprovou Pedro pela sua atitude, por "seu comportamento que não era bom". Pedro, "para evitar que o criticassem, fazia diferença entre os cristãos que provinham do judaísmo e os que vinham do paganismo, e essa atitude dividia injustamente a comunidade. Com essa observação, Paulo quer advertir os cristãos da Galácia de que um dos perigos no cumprimento da Lei é a hipocrisia".
"Talvez Paulo tivesse ido longe demais e dado demasiado espaço ao seu caráter sem saber como se conter", disse Francisco. "Veremos que esse não é o caso. Mas que mais uma vez está em questão a relação entre a Lei e a liberdade".
A atitude de Pedro de distinguir entre cristãos procedentes do judaísmo e aqueles procedentes do paganismo era algo grave aos olhos de Paulo, "até porque porque Pedro estava sendo imitado por outros discípulos, antes de todos Barnabé, que com Paulo tinha evangelizado os gálatas. Sem querer, o comportamento de Pedro, não muito claro, não transparente, criou uma divisão injusta na comunidade".
"Paulo, em sua repreensão -e aqui está o cerne do problema- usa um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia. Essa é uma palavra que retornará tantas vezes: hipocrisia. Acho que todos sabemos o que isso significa. A observância da Lei por parte dos cristãos levou a esse comportamento hipócrita, que o apóstolo pretende combater com força e convicção. Paulo era reto, tinha seus defeitos, e muitos. Seu caráter era terrível, mas era reto", disse o papa.
"O que é a hipocrisia?", questionou Francisco. E respondeu: "pode-se dizer que é medo da verdade. As pessoas têm medo da verdade".
Sobre a atitude hipócrita, o papa disse que "as pessoas preferem fingir a ser elas mesmas. É como mascarar a alma. O modo de proceder não é a verdade. Tenho medo de proceder como sou, então me mascaro".
"Fingir impede a coragem de dizer a verdade abertamente e assim facilmente se evita a obrigação de dizê-la sempre, em todo lado e apesar de tudo. A hipocrisia leva exatamente a isso, à "meia verdade". A "meia verdade" é uma ficção. A verdade é a verdade. A hipocrisia é isso: um modo de agir não verdadeiro", disse o papa.
"Num ambiente onde as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, se o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente", afirmou Francisco. Ele lamentou que as pessoas hipócritas sorriam com "um sorriso que não vem do coração" e procuram "estar bem com todos, mas com ninguém".
"O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia, engana porque vive com uma máscara no rosto e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: o hipócrita não sabe amar. Limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência".
Ele afirmou que "há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer. Muitas vezes, esconde-se no local de trabalho, onde se procura parecer amigos dos colegas, enquanto a competição leva a golpeá-los pelas costas. Na política, não é raro encontrar hipócritas que experimentam uma divisão entre as esferas pública e privada. E particularmente, é detestável a hipocrisia na Igreja. Infelizmente existe a hipocrisia na Igreja. E há tantos cristãos e tantos ministros hipócritas".
Por fim, animou a nunca esquecer as palavras de Cristo descritas no evangelho de são Mateus: "Seja este o vosso modo de falar: ´sim, sim'; ´não, não'; tudo o que for além disso procede do espírito do mal". O papa finalizou dizendo que "agir de outra forma é pôr em perigo a unidade da Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou".
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