22 de dezembro de 2024 Doar
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‘Ninguém os deixe fora da Igreja’, diz o papa aos ciganos

Papa Francisco no bairro Luník IX em Kosice, Eslováquia | Vatican Media

O papa Francisco disse aos ciganos da cidade de Košice, Eslováquia, que "ninguém na Igreja se deve sentir estranho nem marginalizado". A visita à comunidade cigana ocorreu hoje, 14 de setembro, terceiro dia da visita do papa à Eslováquia.

"Convido todos vós a ultrapassarem os medos, as feridas do passado, com confiança, passo a passo: no trabalho honesto, na dignidade de ganhar o pão de cada dia, no cultivo da confiança mútua. E na oração uns pelos outros, porque é isto que nos guia e fortalece. Encorajo-vos, abençoo-vos e trago-vos o abraço de toda a Igreja", disse Francisco.

Pela manhã, o papa celebrou a divina liturgia de são João Crisóstomo na praça do Mestská športová hala, em Prešov, e almoçou no seminário maior de são Carlos Borromeu, da arquidiocese de Košice.

Às 3h45 da tarde, papa foi de carro a Luník IX, bairro de maior densidade populacional rom da Eslováquia, onde se calcula que vivem cerca de 4,3 mil ciganos, e onde, desde 2008, os salesianos conduzem um projeto pastoral. A comunidade rom é um ramo do povo cigano. O termo "rom" é utilizado em referência aos ciganos que utilizam o idioma romani, de origem indo-europeia como a maioria das línguas europeias, português inclusive.

O encontro com o papa foi em uma praça localizada na frente do "Centro pastoral salesiano", onde está a igreja de "Cristo Ressuscitado" e onde os salesianos, junto às filhas de Maria Auxiliadora e voluntários leigos, aplicam o "sistema preventivo" de dom Bosco através de um projeto pastoral de integração, assistência e evangelização da comunidade rom.

Ao chegar ao encontro, o papa foi recebido por religiosos salesianos e duas crianças rom. Um grupo musical, formado principalmente por jovens, cantava. Autoridades civis estavam entre os fiéis presentes.

Depois de uma breve saudação do superior salesiano e de dois diferentes testemunhos de pessoas da comunidade, o papa Francisco fez um discurso em que recordou as palavras de são Paulo VI, que em 26 de setembro de 1965 disse a uma comunidade de ciganos que "vós na Igreja não estais à margem... Estais no coração da Igreja".

"Na Igreja, ninguém se deve sentir estranho nem marginalizado", disse Francisco. "E não se trata apenas dum modo de dizer, mas é o modo de ser da Igreja. Pois ser Igreja é viver como convocado por Deus, sentir-se eleito na vida, fazer parte da mesma equipa. É assim que Deus nos quer: cada um diferente, mas todos unidos em redor d'Ele. O Senhor vê-nos juntos".

"A Igreja é isto: uma família de irmãos e irmãs com o mesmo Pai, que nos deu Jesus como irmão para compreendermos quanto ama, Ele, a fraternidade. E deseja que a humanidade inteira se torne uma família universal", disse o papa.

Amor e respeito pela família

Depois, disse aos fiéis presentes: "Vós nutris um grande amor e respeito pela família, e olhais a Igreja a partir dessa experiência. Sim, a Igreja é casa, é casa vossa. Por isso – digo de coração – sede bem-vindos! Senti-vos sempre de casa na Igreja e nunca tenhais medo de habitar nela. Que ninguém vos afaste, a vós ou a qualquer outra pessoa, da Igreja".

"Não é fácil ultrapassar os preconceitos, mesmo entre os cristãos", disse o papa. "Não é coisa simples sentir apreço pelos outros considerados frequentemente como obstáculos ou adversários, formulando-se juízos sem conhecer os seus rostos e as suas histórias. Mas ouçamos o que diz Jesus no Evangelho: «Não julgueis» (Mt 7, 1)", disse o papa.

"O Evangelho não deve ser atenuado, não deve ser aguado. Não julgueis: diz-nos Cristo. E todavia quantas vezes não só falamos sem provas ou por ouvir dizer, mas consideramos também ter razão quando somos juízes implacáveis dos outros", afirmou.

Falando aos roma, Francisco disse: "muitas vezes fostes objeto de preconceitos e juízos cruéis, estereótipos discriminatórios, palavras e gestos difamatórios" e afirmou que, "com isso, todos ficamos mais pobres, pobres em humanidade".

"O que precisamos para recuperar a dignidade é passar dos preconceitos ao diálogo, dos fechamentos à integração (...) Juízos e preconceitos só aumentam as distâncias. Contrastes e palavras duras não ajudam. Colocar as pessoas em guetos não resolve nada. Quando se cultiva o fechamento, mais cedo ou mais tarde acaba por explodir a raiva", disse o papa. "O caminho para uma convivência pacífica é a integração. É um processo orgânico, lento e vital, que começa com o conhecimento mútuo, prossegue com a paciência e estende o olhar para o futuro. E a quem pertence o futuro? Às crianças. São elas que nos orientam: os seus grandes sonhos não podem esfacelar-se contra as nossas barreiras. Querem crescer juntas com os outros, sem obstáculos nem restrições. Merecem uma vida integrada e livre. São elas que motivam opções clarividentes; não buscam o consenso imediato, mas olham para o futuro de todos".

Antes de concluir, Francisco agradeceu àqueles que levam adiante "este trabalho de integração que, além de exigir não pouca fadiga, por vezes é objeto também de incompreensão e ingratidão, porventura mesmo da Igreja".

"Queridos sacerdotes, religiosos e leigos, queridos amigos que dedicais o vosso tempo a oferecer um desenvolvimento integral aos vossos irmãos e irmãs, obrigado! Obrigado por todo o trabalho com os marginalizados. Penso também nos refugiados e nos presos. A estes, em particular, e a todas as pessoas no mundo carcerário expresso a minha proximidade", disse o papa.

Depois, Francisco destacou o trabalho realizado neste tipo de centros pastorais "onde fazeis, não assistencialismo, mas acompanhamento pessoal. Prossegui por esta estrada, que não gera a ilusão de poder dar tudo e súbito, mas é profética, pois inclui os últimos, constrói a fraternidade, semeia a paz".

"Não tenhais medo de sair ao encontro de quem está marginalizado. Dar-vos-eis conta de sair ao encontro de Jesus. Ele espera-vos onde há fragilidade, não comodidade; onde há serviço, não poder; onde é preciso encarnar-se, não louvar-se. Aí é onde Ele está", concluiu o papa.

No final, o papa Francisco convidou a cada um dos presentes a rezar, em seu próprio idioma, o Pai Nosso e deu sua bênção apostólica em latim.

Enquanto o papa ia embora no carro, a banda continuou tocando e cantando.

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