22 de dezembro de 2024 Doar
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CNBB cobra ação contra deputado que xingou dom Orlando Brandes e papa Francisco

Deputado estadual Frederico D'Ávila durante discurso na Alesp. | Captura de vídeo

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) tome as medidas cabíveis contra o deputado estadual Frederico D'Avila, que xingou o arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes e o papa Francisco no dia 14 de outubro. Em discurso no plenário da Alesp, o deputado usou termos como "safados", "vagabundos" e "pedófilos" ao se referir ao arcebispo, ao papa e à conferência episcopal brasileira.

"Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada", afirmou a CNBB em uma carta aberta assinada por sua presidência e dirigida ao presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari (PSDB).

Durante a sessão plenária na Alesp em 14 de outubro, o deputado Frederico D'Ávila se referiu à homilia de dom Orlando Brandes no dia 12 de outubro, no Santuário de Aparecida, quando o arcebispo disse que "para ser pátria amada não pode ser pátria armada". "Quero falar para o arcebispo, dom Orlando Brandes, seu vagabundo, safado da CNBB, dando recadinho para o presidente e para a população brasileira que pátria amada não é pátria armada. Pátria armada é a pátria que não se submete a esta gentalha", disse o deputado.

"Seu vagabundo, safado, que se submete a esse papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito, do bem-estar, do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos, safados. A CNBB é um câncer, que precisa ser extirpado do Brasil", afirmou.

Em sua carta aberta, a CNBB rejeitou "fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D'Avila", que, "com ódio descontrolado", atacou o papa Francisco, a CNBB e dom Orlando Brandes. Segundo a entidade, o deputado "feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes".

A conferência dos bispos afirmou que o longo de seus 69 anos, "nunca se deixou intimidar" e que agora, "diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz".

Além de pedir à Alesp que adote "medidas internas eficazes, legais e regimentais" sobre este caso, a CNBB também disse que "tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis". "As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei".

Por fim, a entidade reafirma ainda o "o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil".

A arquidiocese de Aparecida fez uma postagem nas redes sociais de apoio ao arcebispo local. "Deixamos aqui o nosso respeito, a nossa admiração, o nosso afeto, o nosso carinho, o nosso apoio e as nossas orações ao nosso querido e amado arcebispo dom Orlando Brandes. Que Deus o abençoe hoje e sempre, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, em sua caminhada como Arcebispo, pastor e, principalmente, profeta", afirmou.

Outras dioceses e também bispos brasileiros manifestaram seu repúdio às declarações do deputado Frederico D'Ávila e apoio a dom Orlando Brandes, à CNBB e ao papa Francisco. Para o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, o pronunciamento do parlamentar foi uma "enorme agressão". "Parece que o mundo pirou. Agora, cada um fala o que quer falar contra todos e contra tudo e não tem mais respeito. Não é possível uma coisa dessas. A primeira coisa de uma vida em comunidade, uma vida civilizada, é o respeito", disse durante o programa 'Diálogos de Fé', no dia 17 de outubro, na rádio 9 de Julho. Dom Odilo manifestou sua "solidariedade" a dom Orlando Brandes, à presidência da CNBB e a todos os bispos. Disse ainda ter um "profundo sentimento de dor" pelo "ataque injustificado e irracional" ao papa Francisco.

No domingo, durante missa na catedral de São Dimas, o bispo da diocese de São José dos Campos, dom José Valmor Cesar Teixeira, afirmou seu "apoio como bispo ao arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, que tem recebido muitos ataques terríveis". Ao comentar que o deputado Frederico D'Ávila chamou o arcebispo e também o papa Francisco de "safado, vagando e pedófilo", dom Cesar Teixeira afirmou que "isso a gente não diz para ninguém, mas foi dito na tribuna da Assembleia". "Rezo pela conversão desse indivíduo e para que dom Orlando tenha tranquilidade diante do momento difícil de ataque pessoal".

Também religiosos se manifestaram sobre o caso. A Companhia de Jesus no Brasil, publicou uma nota assinada pelo provincial, padre Mieczyslaw Smyda, na qual alerta os católicos para "que não se deixem seduzir por discursos que, sem o mínimo respeito à sabedoria dos anciãos, atacam os pastores que conduzem nossa Igreja no Brasil e no mundo". "Nenhuma divergência de ideias pode justificar insultos a homens que dão a sua vida por amor ao Evangelho de Jesus e ao povo santo de Deus", disse o texto.

As Superioras Gerais de Congregações Brasileiras convocaram um dia de oração em apoio ao papa Francisco e a dom Orlando Brandes para 22 de outubro. "Estamos vivendo um contexto histórico difícil em nosso País, onde o desrespeito tornou-se algo normal", disse em nota, irmã Maria Freire da Silva, diretora geral das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e delegada da União das Superioras Gerais das Congregações Brasileiras (USGCB). Segundo ela, casos como esta mostram que "o dinamismo da profecia nunca é aceito por aqueles que são contrários ao Projeto de justiça e de verdade, proclamado e vivenciado por Jesus Cristo".

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