22 de dezembro de 2024 Doar
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Sinto-me mal pelo meu país, diz padre haitiano por causa de sequestro de cristãos

Reginald Jean-Mary, pároco da Missão Católica Notre Dame D'Haiti, Miami | Marlene Quaroni (Arquidiocese de Miami)

O padre católico haitiano Reginald Jean-Mary, pároco da Missão Católica Notre Dame D'Haiti, em Miami, está muito triste pelo sequestro de 17 cristãos, entre missionários e suas famílias, em Porto Príncipe, capital do Haiti, ocorrido no sábado, 16 de outubro.

"Em nome do meu povo, gostaria de lhes pedir perdão, porque me sinto mal ao ver a injustiça que está ocorrendo em meu país. O povo haitiano não é mau, somos um povo muito amável, de fé, que tem gratidão quando alguém vem de fora para nos ajudar. Gostaria de pedir perdão a essas famílias e dizer-lhes que estamos rezando por eles", disse o padre em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em 21 de outubro.

Padre Reginald, natural de Jean-Rabel, no noroeste do Haiti, comentou que todas as informações obtidas pelo clero católico vêm da mídia.

"Ontem falei com membros do clero do Haiti e sentimos muito, porque essas pessoas são missionários de Deus que ajudavam o país e os orfanatos", disse ele.

Os missionários sequestrados fazem parte do Christian Aid Ministries, com sede em Ohio, Estados Unidos, e foram sequestrados quando visitavam um orfanato em Croix-des-Bouquets, um subúrbio a nordeste de Porto Príncipe

Em uma atualização publicada em seu site em 21 de outubro, Christian Aid Ministries disse que as famílias afetadas são de comunidades amish, menonitas e outras comunidades anabatistas em Wisconsin, Ohio, Michigan, Tennessee, Pensilvânia, Oregon e Ontário, Canadá.

Afirmou também que o grupo sequestrado inclui cinco homens, sete mulheres e cinco crianças. As idades dos adultos em cativeiro variam de 18 a 48 anos. As idades das crianças são 8 meses, 3 anos, 6 anos, 13 anos e 15 anos.

A ministra de justiça do Haiti, Liszt Quitel, confirmou a The Washington Post, em 19 de outubro, que o sequestro foi cometido pela gangue criminosa 400 Mawozo, a mesma que esteve por trás do sequestro de padres e religiosos católicos em abril deste ano.

Os criminosos pedem resgate de US$ 17 milhões.

Christian Aid Ministries disse que, junto com as autoridades haitianas e americanas continuam "trabalhando duro para trazê-los para casa com segurança".

Durante a entrevista a ACI Prensa, o padre Reginald disse que "a Igreja está fazendo o que tem que fazer"

"Porque sempre denunciou esta situação subumana, porque não é uma condição na qual devam viver os filhos de Deus. A Igreja ainda é vítima desse problema e fez uma condenação e pediu que se tomem providências", disse.

Para o padre Reginald, o crime tomou conta do país porque o "governo, embora muito consciente deste problema, que ocorre há vários anos, não faz nada".

"Temos um chefe de polícia que não sabemos o que está fazendo. Não podemos dizer se esses sequestros são apenas por dinheiro ou se há motivações políticas por trás deles", acrescentou. "Nenhum governo de nenhum país amigo do Haiti quer intervir para nos ajudar neste problema".

Padre Reginald acredita que essa onda de sequestros, que se tornou mais comum em meio a uma crescente crise política e econômica, se tornou "um problema humanitário".

"Hoje não só alguns haitianos são vítimas desse flagelo, mas também a classe média do país e estrangeiros. Isso é muito difícil para nós. As pessoas no Haiti não estão vivendo, mas estão de joelhos no meio de uma crise humanitária ", disse ele.

Nos primeiros oito meses de 2021, pelo menos 328 sequestros foram registrados,  segundo a Polícia Nacional do Haiti, em comparação com 234 em 2020.

"A realidade é que a Polícia Nacional não tem táticas e armas suficientes para combater essas gangues. É terrível que precisemos da ajuda da comunidade internacional e que por quase dois anos pedimos sua ajuda, mas também não fazem nada", acrescentou.

O padre destacou que "a vida das pessoas vale muito" e que é preciso fazer tudo o que for possível para conseguir o resgate. No entanto, ele também destacou que não se pode permitir que os sequestradores "mostrem sua força perante a comunidade internacional".

"Estamos a uma hora e meia dos EUA. Como podem ver um povo morrer nessa condição? Isso não é possível. Quero pedir ao governo dos EUA e do Canadá que ajudem na libertação", disse.

Padre Reginald comentou que em sua paróquia, a Missão Católica Notre Dame D'Haiti, hoje, 22 de outubro, é um dia de oração pela libertação dos missionários.

Christian Aid Ministries convidou "crentes de todo o mundo a se juntarem a nós na busca de Deus para que Sua mão poderosa opere".

"Reze pelos reféns, por sua libertação, para que possam aguentar fielmente e para que mostrem um amor semelhante ao de Cristo. Reze pelos sequestradores, para que eles experimentem o amor de Jesus e se voltem para Ele. Reze pelos líderes e autoridades governamentais, a respeito do caso, e trabalhe pela libertação dos reféns", exortou.

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