HAVANA, Nov 17, 2021 / 10:31 am
O padre Rolando Montes de Oca e uma freira foram perseguidos e assediados na rua entre segunda, 15 de novembro, e terça-feira, 16 de novembro, durante a militarização das ruas pelo regime ditatorial cubano para frustrar as manifestações de protesto anunciada.
Na segunda-feira, 15 de novembro, foi convocada a grande "Marcha Cívica pela Mudança", que buscava repetir as massivas, pacíficas e históricas manifestações de 11 de julho. No entanto, segundo diversos meios de comunicação cubanos independentes, todas as cidades foram ocupadas por membros da Polícia, do Ministério do Interior e das Brigadas de Resposta Rápida (forças paramilitares) para impedir que os cidadãos saíssem de suas casas.
Segundo o Centro de Denúncias da Fundação Pan-Americana para a Democracia (FDP), área desta ONG com sede na Flórida, encarregada de tornar visíveis os casos de abusos e perseguições em Cuba, desde 15 de novembro há 98 presos e 131 pessoas vigiadas em várias cidades da ilha.
O padre, da arquidiocese de Camagüey, denunciou em sua página do Facebook que um Peugeot cinza o seguia por volta das 9h, horário local, na terça-feira, 16 de novembro.
"Este carro está nos seguindo. Pegou os que estavam me vigiando em frente a minha casa. Eu dei voltas sem sentido e me segue, está confirmado. Peguei agora a estrada de Vertientes e me sinto em perigo", disse.
Depois de quase uma hora, o padre voltou a informar sobre a sua situação e disse que já estava a salvo em sua casa paroquial em Vertientes, depois de sair da cidade de Camagüey.
A organização "Areópago cubano: Pensamento Social de Inspiração Cristã" informou em sua conta no Facebook que o padre Montes, "desde ontem, tem um guarda operacional vigiando sua casa e este carro pegou na manhã de hoje os guardas que o vigiavam na esquina da sua casa e o seguiu em muitas voltas sem sentido que o padre deu para confirmar que o seguiam".
"Denunciamos o assédio e a vigilância por parte da Segurança do Estado, bem como os recentes atos de repúdio entre os quais o padre Alberto Reyes foi vítima ontem enquanto estava na arquidiocese de Camagüey", acrescentou.
O padre Alberto Reyes foi vítima de um ato de repúdio no dia 15 de novembro feito por simpatizantes do regime ditatorial em frente à cúria de Camagüey.
Além do assédio contra os dois padres, irmã Nadieska Almeida Miguel, superiora das Filhas da Caridade de Cuba, denunciou em suas redes sociais que no dia 15 de novembro, por volta das 17h30, foi abordada e assediada por "cerca de 13 pessoas", quando saiu para caminhar pelas ruas de Havana para visitar uma amiga.
"Assim que coloquei os pés nos degraus da frente da casa, eles vieram em minha direção. Enquanto iam chegando, avisavam-se com gritos, assobios... Uma senhora deste grupo se aproximou para perguntar qual de nós era a irmã Nadieska. Eu respondi: 'Sou eu, por quê?' E a resposta foi: 'Você está proibida de sair hoje'. Perguntei a eles quem era a pessoa que havia dado essa ordem e, além disso, quem é esse ser que tem poder sobre mim. A resposta foi que era o que estava ordenado", contou.
Irmã Nadieska disse que a senhora que a abordou lhe disse: "Eu sou uma representante do [Partido Comunista de Cuba] e você não pode sair".
"Tentando manter a calma, disse a eles: 'Sinto muito, é impensável, é incrível que eu não possa caminhar no meu país, no meu entorno. Lamento o que lhes ordenaram em relação a mim, mas eu vou sair'. Voltaram com o mesmo discurso e eu mantive minha postura. No final, ligaram e me permitiram caminhar, claro, todo o tempo vigiada", contou.
A freira descreveu o 15 de novembro como "um dia intenso".
"Muitos lugares estavam vigiados por militares, policiais e agentes à paisana. Claro que houve atos de repúdio organizados, pessoas levadas de uma cidade a outra para gritar, insultar e defender agressiva e vulgarmente aqueles que os lideram e até manipulam", lamentou.
O padre cubano Fernando Luis Gálvez, da arquidiocese de Camagüey e que mora atualmente nos Estados Unidos, lamentou que o regime "esteja intimidando" o clero.
Em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em 16 de novembro, ele disse que o que aconteceu na arquidiocese de Camagüey "é algo sem precedentes" e que "ultrapassaram todos os limites".
Eduardo Cardet, coordenador nacional do Movimento Cristão de Libertação (MCL), também denunciou nesta terça-feira que o ativista Yandier García Labrada, membro do MCL, Manatí, está "atualmente preso na prisão conhecida como El Tipico, Las Tunas".
"Ele foi preso arbitrariamente na solitária, na cela de castigo, desde 13 de novembro", denunciou.
García Labrada foi preso em 6 de outubro de 2020 por protestar em uma fila na cidade de Manatí, Las Tunas.
Cardet informou que em 15 de novembro Iran Almaguer Labrada, líder do MCL em San Andrés, Holguín, foi conduzido pela polícia até a estação da cidade.
"Ficou preso por duas horas. Deram-lhe uma ata de advertência (que não foi assinada por ele) para o incriminar pela livre expressão", continuou.
A ONG espanhola de defesa legal dos direitos humanos, Prisoners Defenders, informou em 4 de novembro que nos últimos 12 meses chegou-se ao número recorde de 683 presos políticos.
Além disso, afirma que foi possível apurar os casos ativos de 591 presos durante o mês de outubro de 2021 e que, desse grupo, 370 permanecem presos desde as marchas massivas de 11 de julho.
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